FMT inaugura a primeira enfermaria para pesquisa em tuberculose

Melo descerra a placa inaugural/Foto: Chico Batata

Melo descerra a placa inaugural/Foto: Chico Batata


Melo fala aos presentes/Foto: Chico Batata

No dia em que comemora 40 anos de existência, a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), órgão do Governo do Estado, ganhou uma nova estrutura voltada para o tratamento de doenças infectocontagiosas.

 

Na presença do vice-governador José Melo, foi inaugurada a primeira enfermaria de isolamento respiratório da região Norte, destinada ao tratamento e aprofundamento da pesquisa em tuberculose e outras doenças de natureza respiratória.

Além da enfermaria, a programação de aniversário incluiu a reinauguração do auditório da instituição; a Conferência ‘Novos Avanços no Tratamento da Aids’ ministrada pela consultora do Ministério da Saúde e membro do Comitê Assessor para Terapia Antirretroviral em Adultos, Valdiléa Gonçalves dos Santos; e a oferta de teste rápido de HIV/Aids e Sífilis, atividade que se estende até o final da tarde desta segunda-feira, com orientações preventivas sobre essas e outras doenças.

A nova enfermaria da Fundação possui 13 leitos e, segundo José Melo, representa um avanço importante, não apenas no tratamento, mas também na pesquisa para a descoberta de novos tratamentos mais eficientes e menos agressivos contra a tuberculose. “É fundamental se inaugurar uma unidade desse porte aqui considerando que ano passado foram cerca de 3 mil casos de tuberculose registrados no Amazonas”, disse Melo, ao ressaltar que a FMT-HVD já é referência internacional em tratamento de outras doenças tropicais, como malária e Aids, entre outras.

A FMT-HVD, que é uma das unidades de referência da Secretaria de Estado da Saúde (Susam) para assistência em tuberculose no Amazonas, vem ocupando lugar de destaque na área de estudo da doença, conforme destaca o secretário estadual de saúde, Wilson Alecrim. “O órgão vem fortalecendo as ações de pesquisa na área, com a proposta de reduzir os danos da infecção, ampliar o conhecimento técnico-científico, além de fortalecer a atenção dispensada à população em geral, quanto ao diagnóstico e tratamento da doença”, ressalta. Na FMT-HVD, o tratamento da tuberculose é voltado, em grande parte, a pessoas vivendo com o vírus da Aids. A tuberculose é uma das infecções oportunistas que se manifestam com frequência em indivíduos com HIV.

A diretora-presidente da FMT-HVD, Graça Alecrim, explica que a inauguração da Enfermaria de Pesquisa Clínica em Tuberculose (Pesclin) permitirá a realização de novos estudos sobre a enfermidade, bem como a realização de testes com novas drogas, para o tratamento da infecção. Enfermarias desse porte, para fins de pesquisa, são encontradas apenas na Universidade Federal do Espírito Santo e na Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro. “Com a nova enfermaria, o Amazonas passa a ser, portanto, um dos poucos Estados brasileiros que contam com uma estrutura especial, com pressão do ar negativa, para evitar a saída do bacilo para o ambiente externo, e que será usada também na formação de recursos humanos”, afirma.

A enfermaria faz parte do “Programa Temático de Pesquisa em Diagnóstico de Tuberculose nos Estados do Amazonas, Minas Gerais e Rio de Janeiro”, desenvolvido pela FMT-HVD e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), órgão do Governo do Estado, e pelas fundações de amparo à pesquisa (FAPs) do Rio de Janeiro e Minas Gerais (Faperj e Fapemig). Em 2011, foi estabelecido um acordo de cooperação entre as três instituições, num valor global de R$ 6 milhões. O objetivo é estimular as pesquisas entre os Estados.

No local, foram instalados filtros de ar especiais, do tipo HEPA (High Efficiency Particulate Air). São filtros com alta capacidade de retenção de partículas. Quando bem dimensionados, são capazes de reter até 99,97% das partículas do ar, reduzindo o risco de infecção por transmissão aérea e criando um ambiente altamente seguro para o desenvolvimento de estudos específicos.

Aniversário e homenagens – A cerimônia de inauguração contou, ainda, com homenagens a servidores e pessoas de destaque na trajetória de 40 anos da instituição, entre eles um dos fundadores, o médico Carlos Borborema, presente no evento. O outro fundador, Heitor Vieira Dourado, que dá nome à instituição, foi representado pela filha Solange Dourado, que também é medica na FMT-HVD.

Em nome do governador Omar Aziz, o vice-governador José Melo, recebeu uma placa alusiva aos 40 anos. Segundo o secretário Estadual de Saúde, Wilson Alecrim, a gestão Omar Aziz fez investimentos significativos na estrutura e na modernização da fundação, incluindo a construção de um moderno ambulatório de consultas e do novo ambulatório de malária, que está em fase de construção. Alecrim ressaltou também  a expansão pela qual passou a instituição ao longo de seus 40 anos. “Saímos de uma estrutura de 1.600 metros quadrados para mais de 20 mil metros quadrados. Quando fui diretor da instituição, na década de 60, tínhamos aqui 120 funcionários e hoje são 1.120”, observou.

Testagem rápida de HIV/Aids e Sífilis – No horário das 08h00 às 16h00, desta segunda-feira, a FMT-HVD realiza testagem rápida de HIV/Aids e Sífilis e orientações preventivas sobre essas e outras doenças. O atendimento está sendo realizado em uma estrutura especial, montada no estacionamento da unidade. Serão ofertados, ao todo, 2 mil testes rápidos – mil de HIV/Aids e mil de Sífilis – e o paciente sai da unidade com o resultado em mãos. Para a liberação do laudo, a única exigência é que a pessoa apresente documento com foto, a fim de que seja cumprida a legislação vigente.

“A identificação precoce do HIV/Aids é importante para que o paciente tenha a oportunidade de aderir ao tratamento antes mesmo que a doença se manifeste. A medida ainda reduz as chances do desenvolvimento de formas graves das coinfecções, que são as chamadas doenças oportunistas”, explica Graça Alecrim. No caso da Sífilis, a detecção antecipada e o tratamento oportuno podem evitar, por exemplo, que o paciente desenvolva as formas graves da doença, e no caso da gestante, que a doença seja transmitida para o bebê.

A diretora salienta que nos casos de resultado positivo para as essas duas doenças o usuário será encaminhado para acompanhamento na FMT-HVD ou em uma Unidade de Saúde de referência para esse tipo de tratamento, mais perto de casa. A ação será executada por uma equipe de 35 profissionais e dirigida pela Coordenação Estadual de DST/Aids e Hepatites Virais, vinculada à FMT-HVD.

A coordenadora estadual de DST/Aids e Hepatites Virais, a médica Silvana Lima, esclarece que a Sífilis é uma doença infecciosa e pode se manifestar em três estágios. Os maiores sintomas ocorrem nas duas primeiras fases, período em que a infecção é mais contagiosa. O terceiro estágio pode não apresentar sintoma e, por isso, dá a falsa impressão de cura da enfermidade. “O teste é indicado para todas as pessoas que tem vida sexual ativa, que mantêm relações sexuais sem preservativo”.

 

Conquistas

Em quatro décadas, a instituição consolidou uma série de conquistas, que transformaram o órgão em referência nas áreas de Ensino, Pesquisa e Assistência em doenças infectoparasitárias e tropicais, no país e internacionalmente. A criação da FMT-HVD é considerada um divisor de águas para a saúde pública do Amazonas, tendo em vista que marcou o início da assistência médica voltada para doenças tipicamente  amazônicas. O órgão também se tornou, no decorrer dos anos, uma das unidades sentinelas do Ministério da Saúde, para estudo e validação de métodos de diagnóstico e terapêuticas que nortearam a incorporação de novos protocolos de assistência na saúde pública de todo o Brasil.

Uma das características importantes do órgão é que veio ampliando seu campo de atuação assistencial, com o passar dos anos. Inicialmente, voltou-se para o campo das doenças tropicais como malária, febre amarela, leishmaniose, entre outras e, depois, teve que buscar soluções para enfermidades como a Aids e suas coinfecções (como a tuberculose), além de se debruçar sobre novos desafios como é o caso da dengue, que surgiu na região na década de 90, e da Doença de Chagas, mais recentemente.

A FMT-HVD também foi a primeira, entre as fundações do Governo do Estado, a se voltar para a missão de prestar assistência médica, ao mesmo tempo em que desenvolve pesquisa científica e executa programas de formação de recursos humanos, em todos os níveis – do jovem cientista até o Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical, implantado em 2002, para formação de mestres em Medicina Tropical; e posteriormente, em 2006, ampliou a formação para o nível de Doutorado. Na região Norte, apenas os estados do Amazonas e Pará contam com programa de formação em nível de Mestrado e Doutorado na área de Medicina Tropical.

Ações marcantes

Dentre as ações de destaque, a instituição já executou projetos de pesquisa que permitiram ao Ministério da Saúde implantar, em todo o país, novos esquemas terapêuticos para o tratamento da Malária; foi responsável pelo projeto piloto que viabilizou a implantação do teste rápido de HIV/Aids no Sistema Único de Saúde (SUS), uma metodologia revolucionária no campo de apoio ao diagnóstico da infecção; coordenou, em Manaus, o estudo piloto também realizado na cidade do Rio de Janeiro, para testar novo método de diagnóstico da tuberculose, o GeneXpert, que permite chegar ao resultado em até 2 horas. Os resultados da pesquisa subsidiaram a decisão do Ministério da Saúde pela adoção da nova tecnologia âmbito do sistema de saúde pública nacional, dentre outras ações de igual relevância.

História

A FMT-HVD foi fundada pelos professores da Universidade Federal do  Amazonas, Heitor Vieira Dourado e Carlos Telles de Borborema, que juntaram um grupo de estudantes e deram início ao projeto de tratar doenças tropicais, em 1970, em uma estrutura improvisada no Hospital Getúlio Vargas. Em 74, o projeto ganhou razão social – Hospital de Moléstias Tropicais – e endereço próprio, na avenida Pedro Teixeira, nº 25, D. Pedro, onde funciona até os dias atuais. Neste endereço, Dourado e Borborema construíram com o suporte do governo estadual da época a estrutura física do então Hospital de Moléstias que contava com pouco mais de 50 leitos. No decorrer de 4 décadas, a estrutura foi ampliada e hoje a FMT-HVD conta com área construída de aproximadamente 20 mil metros quadrados.

 

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