
Uma explosão neste sábado derrubou parcialmente a ponte que liga a Península da Crimeia ao território continental da Rússia e paralisou o tráfego entre os dois lados, deixando três mortos. Sem acusar diretamente a Ucrânia, a Rússia afirmou já ter identificado o motorista do caminhão-bomba que supostamente causou a detonação, e o porta-voz do Kremlin disse que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou a criação de uma comissão para esclarecer os fatos.
Com 19,2 quilômetros de extensão, a Ponte do Estreito de Kerch é vital para o envio de suprimentos russos para a guerra na Ucrânia, e o Ministério dos Transportes da Rússia disse que o tráfego rodoviário será restaurado ainda hoje.
“De acordo com dados preliminares, três pessoas morreram, provavelmente passageiros de um veículo que estava perto do caminhão quando explodiu”, disse o Comitê de Investigação da Rússia em comunicado. “Os corpos de duas vítimas, um homem e uma mulher, já foram retirados da água.”

O órgão, responsável pelas principais investigações criminais na Rússia, também disse ter identificado o caminhão-bomba e seu proprietário, suspeito de estar por trás da explosão, registrada em vídeo pelas câmeras de segurança do local. Ele seria morador da região de Krasnodar, no Sul da Rússia. “Foi aberta uma investigação em seu local de residência. A rota do caminhão e os documentos relevantes estão sendo estudados”, acrescentaram os investigadores.
Segundo o Comitê Nacional Antiterrorismo de Moscou, a explosão incendiou sete tanques de combustível que estavam sendo puxados por locomotivas, derrubou uma e danificou outra das quatro pistas rodoviárias da gigantesca estrutura, que inclui uma ferrovia paralela. Segundo o Comitê, o vão central da ponte, sobre o Estreito de Kerch, não foi afetado.
Horas após a explosão, Mykhailo Podolyak, chefe de gabinete do presidente ucraniano, sugeriu que Moscou poderia estar envolvida no ataque.
— Deve-se notar que o caminhão que explodiu, segundo todas as indicações, entrou na ponte pelo lado russo. É na Rússia que as respostas devem ser buscadas — disse.
Mais cedo, porém, sem citar diretamente a Rússia, Podolyak publicou uma imagem do local em chamas após o incidente e chamou de “o começo”. Vários funcionários ucranianos fizeram comentários irônicos sobre a explosão. “Crimeia, a ponte, o começo. Tudo o que é ilegal deve ser destruído, tudo que é roubado deve ser devolvido à Ucrânia, tudo o que é ocupado pela Rússia deve ser expulso”, escreveu Podolyak no Twitter.
O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, na sigla em ucraniano) divulgou uma mensagem no Twitter parafraseando versos do poeta Taras Shevchenko. “Amanhece, a ponte está queimando lindamente. Um rouxinol na Crimeia encontra o SBU”, diz a mensagem.
Desde o início da guerra, no final de fevereiro, várias ações de sabotagem na Crimeia foram atribuídas à Ucrânia, incluindo uma explosão numa base aérea russa que teria matado 60 pessoas, no início de agosto.
O Ministério do Exterior da Rússia disse que a reação da Ucrânia à explosão evidencia a “natureza terrorista” de Kiev. “A reação do regime à destruição da infraestrutura civil mostra sua natureza terrorista”, afirmou no Telegram a porta-voz do ministério, Maria Zajarova.
O chefe da Assembleia da Crimeia, o parlamento regional instalado pela Rússia na região, por sua vez, foi rápido em denunciar o que aconteceu como um ataque de “vândalos ucranianos”. Sergei Aksyonov também pediu aos moradores da Crimeia que permanecessem “calmos”, e tentou acabar com temores de escassez de alimentos e combustível.
A Península da Crimeia, sede da Frota do Mar Negro russa, foi cedida à Ucrânia nos anos 1950, no período soviético, e anexada à Rússia por Putin em 2014, depois da queda de um governo pró-Moscou em Kiev. Putin inaugurou pessoalmente a Ponte do Estreito de Kerch em 2018, quatro anos depois. A ponte é essencial para o transporte de pessoas e mercadorias, e agora também para abastecer as tropas russas enviadas à Ucrânia.
A Rússia ainda controla estradas que ligam seu território ao Sul da Ucrânia, sem passar pela Crimeia, mas elas estão mais vulneráveis à artilharia ucraniana.