Ana Mengotti.
Bogotá, 10 abr (EFE).- Os governos latino-americanos parecem ter aprendido a lição do ocorrido entre 1999 e 2005 em países como Paraguai, Argentina, Bolívia e Equador, quando a rua ganhou a queda de braço contra o poder.
Muito antes da “primavera árabe” e dos movimentos de “indignados” na Europa e nos Estados Unidos, houve o “março paraguaio”, como ficaram conhecidos os protestos que provocaram em 1999 a saída de Raúl Cubas da presidência do Paraguai.
Em 2001, o presidente da Argentina, Fernando de la Rúa, também teve que deixar o cargo, pressionado pelos “panelaços” e pelas manifestações contra seu governo, mas sobretudo por sua incapacidade para reverter uma profunda crise econômica.
A renúncia do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada na Bolívia e a cassação de Lúcio Gutiérrez no Equador, em 2003 e 2005, respectivamente, também estiveram precedidas de manifestações populares, nas quais curiosamente participaram ativamente os hoje líderes desses países, Evo Morales e Rafael Correa.
Desde então houve uma infinidade de protestos na América Latina, mas não caíram governos por esse motivo.
Segundo o analista argentino Rosendo Fraga, que dirige o portal sócio-político Nueva Mayoria, o controle da rua é um fator cada vez mais determinante da estabilidade dos governos.
E as redes sociais, como ficou em evidência na “primavera árabe” e na queda do governo do Egito, são uma ferramenta muito útil para os que querem dominar o asfalto.
Às vésperas de completar dois meses de protestos e barricadas populares contra seu governo, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, se prepara para realizar nesta quinta-feira a primeira reunião do diálogo com a oposição, sugerida por uma missão de chanceleres sul-americanos.
Maduro manifestou sua confiança em que se inicie um processo de diálogo “em paz, respeitoso, de coexistência pacífica dos dois modelos que há na Venezuela”.
O tom de suas declarações se distancia muito do que disse dias atrás, quando acusou os EUA de instigar os protestos em seu país como fez na Ucrânia para “derrubar o governo democrático” de Viktor Yanukovich e declarou ao jornal britânico “The Guardian” que na Venezuela não há em curso nenhuma “primavera árabe”, pois a “primavera” chegou com a “revolução” liderada por Hugo Chávez.
No entanto, uma parte da oposição venezuelana rejeita o diálogo e defende que é preciso seguir buscando a “saída” de Maduro por meios constitucionais e, mesmo entre os opositores que estão dispostos a participar, há defensores de seguir mantendo a pressão na rua enquanto se realizam as conversas.
Na Bolívia por enquanto os dirigentes das cooperativas mineradoras abandonaram os bloqueios de estradas e enfrentamentos com as forças da ordem que mantiveram o governo em xeque na semana passada, perante uma promessa de diálogo feita por Morales.
As cooperativas mineradoras, aliadas de Morales, se enfureceram devido a uma modificação feita de última hora pelo governo no projeto de lei da mineração, agora paralisado no Senado, porque lhes tira a faculdade de assinar contratos com empresas.
Em 2010 quando um aumento do preço dos combustíveis provocou uma explosão social e em 2011 quando houve protestos indígenas por uma estrada que seria construída no meio de um parque natural, Morales deu marcha à ré em suas decisões antes de permitir que o conflito ganhasse força.
No Chile, como agora na Venezuela, os que tomaram as ruas foram os estudantes, que desde 2011, com Sebastián Piñera na presidência, batalham por uma educação gratuita e de qualidade.
Suas demandas foram recolhidas por Michelle Bachelet, presidente do Chile desde março, em seu programa de governo, que inclui a criação de um imposto às empresas para financiar uma reforma educativa.
Na Argentina, a presidente Cristina Kirchner enfrenta hoje a segunda greve geral contra seu governo e o país está paralisado, devido em grande parte aos cortes e bloqueios de ruas e rotas que os sindicatos opositores realizaram por toda a Argentina
Em junho de 2013 explodiu também no Brasil a contestação popular, que se estendeu aos primeiros meses deste ano e teme-se que alcance seu apogeu durante a realização da Copa do Mundo de 2014.
A faísca dos protestos, que em um só dia chegaram a mobilizar 1,3 milhões de pessoas, foi um aumento das tarifas do transporte público.
Mas depois também se escutaram nas ruas reivindicações contra a corrupção, o encarecimento do custo de vida, a má qualidade da saúde e a educação públicas, os gastos excessivos para organizar o Mundial e os políticos que “não representam” o povo.
A presidente Dilma Rousseff reagiu com “ações concretas”, incluídas em cinco pactos nacionais para atender as exigências, mas mesmo assim segue havendo mobilizações esporádicas. EFE
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