Greve é práxis. Práxis é um palavreado – por Luiz Fernando de Souza Santos

Luiz Fernando de Souza Santos - Doutor em Sociologia pela Unicamp (2018). É professor da UFAM, no Departamento de Ciências Sociais.

Esquisito dizermos que teoria e prática andam de mãos dadas, qual amantes intensos dispostos a mandar um grande “foda-se!” para um ambiente que quer negá-los. É assim a greve dos professores no Amazonas.É práxis.


A greve acontece num contexto em que foi aprovado pela Lei Orçamentária Anual cerca de 15, 4 bilhões de reais de recursos para o Governo do Amazonas e zero centavos de reajuste salarial para os professores. Vultuosa soma de recursos que, em parte, vai cair em “maus caminhos” e pavimentar ramal de sítio de governador, enquanto os trabalhadores em educação são deixados à míngua, com um salário que a inflação corroeu há muito tempo.

Greve é sobre ter comida na mesa, dinheiro para o aluguel, água, energia, e quando dá, um cinema, uma cuia de tacacá.

Greve é sobre condições materiais de reprodução da força de trabalho e de manutenção da sanidade mental de quem trabalha. E é esta objetividade que faz esta greve ter a força que tem. Ela não foi parida na cabeça de um dirigente sindical.

Luiz Fernando de Souza Santos – Doutor em Sociologia pela Unicamp (2018). É professor da UFAM, no Departamento de Ciências Sociais.

Ela foi gestada no abandono de professores, merendeiras, trabalhadores administrativos etc. pela estupidez de um governante que não ama. Estes trabalhadores se puseram em marcha, e levaram a sala de aula para as ruas.

A força da greve vem das condições objetivas de existência e da vontade de romper o ciclo de exploração de décadas. A base se moveu e os dirigentes sindicais, então, tiveram que se pôr a caminho. O governo, a desembargadora, os jornais e os blogueiros vendidos tentam negar esta objetividade da greve. Dizem que é coisa do SINTEAM e/ou ASPROM. Télézé???

Esta greve nasceu da reação da base dos trabalhadores em educação. As estruturas sindicais formam o meio para a legalidade e legitimidade da luta efetiva. E se os dirigentes destas organizações dos trabalhadores em educação conseguirem superar suas divergências programáticas, ideológicas, de visão de mundo, e deixarem falar alto a materialidade que moveu a greve até aqui, é possível aprofundar a derrota que este movimento impôs até então a Amazonino Mendes e seus aliados sanguessugas.

Neste dias de greve, quando os professores marcham pelas ruas empunhando suas bandeiras de luta desde os altos Juruá, Madeira, Solimões, Negro até Manaus, os cães ladram, mas a força da luta é maior.

Luiz Fernando de Souza Santos – Doutor em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (2018). É professor da Universidade Federal do Amazonas, no Departamento de Ciências Sociais.

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