Ilicitudes (Por Flávio Lauria)

Professor Flávio Lauria(AM)

O fato do senador e Ministro do Planejamento pedir licença do cargo, não tira a culpabilidade de vários crimes a ele atribuídos. O problema é que mesmo com a ação eficiente da Procuradoria da República e da magistratura, ficamos a pensar: Será que dá em alguma coisa? Quem é que já não escutou a expressão “isso não dá em nada” vinda de um diálogo entrecortado entre passantes na rua, ou mesmo diretamente, nas palavras de um interlocutor?


Ao mostrar desconforto em participar de um esquema de cola em sala de aula, o aluno escuta: não dá em nada! Pichadores incitam-se mutuamente dessa forma, antes de galgar prédios e monumentos, para sujar e poluir. Lavadores de dinheiro, fraudadores e criminosos do colarinho-branco em geral devem valer-se do dito quando combinam suas tramoias com os famosos laranjas, geralmente pessoas humildes, ainda com resquícios de decência e solidariedade social.

E talvez a expressão tenha sido utilizada pelo Ministro, quando participou de propinas e tentativa de estancar a Lava Jato. O ilícito, em qualquer grau e intensidade, faz-se acompanhar pelo bordão – ainda que não verbalizado – no seu planejamento ou execução. Rapidamente, o Brasil está se tornando o país do “não dá em nada!”, onde as condutas indesejáveis, das menos nocivas às mais execráveis, tornam-se a regra de convívio. E o tecido social vai se deteriorando, corrompendo-se, comprometendo cada vez mais aquele desiderato que, na atual quadra em que vivemos, soa cada vez mais como uma peça de ficção: “Constitui objetivo fundamental da República Federativa do Brasil construir uma sociedade livre, justa e solidária”.

Está lá, no artigo terceiro de nossa Constituição! O “não dar em nada”, com todas as suas implicações, traz ainda uma dificuldade adicional na área da educação. Como passar os tais “valores” para adolescentes e jovens, em um ambiente de tanta degradação? É fácil imaginar o que passa na cabeça de quem vai estar decidindo e liderando daqui a alguns anos: “Por que ser solidário se o fulano preocupa-se apenas com o próprio umbigo e se dá bem? Para que honestidade, se não granjeia dinheiro e status? Por favor, não me falem de virtude, isso não me traz prazer, aqui e agora”.

E o grande problema é que a maioria silenciosa está silenciosa demais. A mobilização mínima que já se faz notar é ainda diminuta para fazer frente ao tamanho dos descalabros na gestão da receita e da despesa em nosso país. Urge, portanto, que se dê combate imediato também às micro corrupções do dia-a-dia. É a tolerância com as pequenas patifarias do cotidiano que incuba os grandes escândalos. Exigir ética, respeito e honestidade é uma jornada repleta de percalços, mas é também uma rota segura para legar um país melhor aos nossos filhos. E é um caminho que passa necessariamente pela reforma de todas as leis que for. Este parece ser o problema mais grave de nossa atualidade. O país não aguenta mais tanta indecência. Tem que dar em alguma coisa!(Flávio Lauria – Professor Universitário e Consultor de Empresas [email protected])

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