Durante reunião Ordinária do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (CONDISI/YY), o professor Otávio ironasteri Yanomami, apresentou a realidade vivenciada pelas 22 comunidades do Rio Marauiá, localizadas no município de Santa Isabel do Rio Negro (a 631 quilômetros de Manaus). Há relatos de abuso, negligência e abandono das políticas do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (Sasi).
“Estamos abandonados com falta de medicamentos, de médicos. Tem comunidade que desde antes da Covid-19 espera por um dentista. Nossas crianças estão morrendo sem direito a assistência”, afirmou.
O professor foi eleito o novo coordenador geral da Associação Yanomami Kurikama, que aprovou em Assembleia realizada no mês de setembro, a formação de um grupo de estudos entre indígenas e organizações indigenistas, para estudar novas estratégias de atendimento em saúde no Amazonas. Uma delas seria a criação de um subdistrito de Saúde no Estado, vinculado à base, que é em Roraima.
“Hoje há um custo altíssimo para manejar servidores, remédios e equipamentos, via aérea, para o atendimento dos Yanomami no Amazonas e cujo serviço não consegue atendê-los a contento por conta da má gestão logística e administrativa, principalmente. A distância e a dependência da autorização de voo em Boa Vista para remoção de pacientes em estado grave tem comprometido a sobrevivência de muitos indígenas, uma vez que trata-se de um território de dimensões gigantescas”, explica o indigenista Silvio Cavuscens, coordenador geral da Associação Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya), que atua há quase 30 anos na região do Médio Rio Negro no Amazonas.
Ele entregou aos conselheiros e ao CONDISI YY um documento contendo os relatos dos problemas relacionados ao atendimento de saúde feito pelo Governo Federal na região. A documentação é resultado do processo de escuta e de observação em campo promovida pela ONG entre os meses de julho e novembro, no processo de retomada dos trabalhos pós Covid-19.
Óbitos
Em detrimento do testemunho da população indígena no Amazonas a respeito dos óbitos ocorridos na região do Marauiá, os dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) oficiais apresentaram a inexistência de casos de Covid-19 dentro do território entre as semanas 35 a 42 (maio a agosto 2021). No entanto, foi verificado, na observação de campo da Secoya, diversos casos não notificados em xapono e calhas de rio distintos.
Além da falta de estrutura, Silvio Cavuscens aponta a falta de governança e de gestão da política pública de saúde indígena como um dos problemas que afetam diretamente a saúde do povo Yanomami, sendo a autoridade pública um dos contribuintes da tragédia vivenciada hoje nas comunidades indígenas.