Iniciativa de Francisco, Sínodo da Amazônia discutiu novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral – por Osíris Silva

Escritor e economista Osíris Silva - Foto: Divulgação

Convocado pelo Papa Francisco, o Sínodo dos Bispos Assembleia Especial para a Região Amazônia, sob o tema “Amazônia: Novos Caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral”, foi realizado em Roma, durante 21 dias, em outubro de 2019. O clima foi de trocas abertas, livres e respeitosas entre bispos, pastores da Amazônia, missionários e missionárias, leigos e leigas, e representantes dos povos indígenas. No encerramento do Sínodo, em 26 de outubro de 2019, o Sumo Pontífice enfatizou que o mote escolhido para o conclave animou bispos de todo o mundo a buscarem acesso a um estudo produzido por 13 autores, três dos quais são brasileiros e membros da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam).


O documento final salienta, dentre pontos transcendentais discutidos e decididos, que, “na Amazônia, a vida está inserida, ligada e integrada ao território, que, como espaço físico vital e nutritivo, é possibilidade, sustento e limite de vida. A Amazônia é um extenso território com uma população estimada em 33.600.000 habitantes, dos quais entre 2 e 2,5 milhões são indígenas. A Pan-Amazônia, composta pela bacia do rio Amazonas e todos os seus afluentes, estende-se por 9 países: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Brasil, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.

Ressalta, por outro lado, que “a região amazônica atualmente é a segunda área mais vulnerável do mundo em relação às mudanças climáticas devido à ação direta do homem. Particularmente, a água e a terra desta região alimentam e sustentam a natureza, a vida e as culturas de inúmeras comunidades indígenas, camponesas, afrodescendente(quilombolas), caboclos, assentados, ribeirinhos e habitantes dos centros urbanos. A água, fonte de vida, possui um rico significado simbólico. Na região amazônica, o ciclo da água é o eixo de interligação. Interliga ecossistemas, culturas e o desenvolvimento do território”.

O Sínodo dos Bispos para a Amazônia considera que a floresta amazônica representa “o coração biológico da terra, embora cada vez mais ameaçada”. Encontra-se em uma corrida desenfreada para a morte. Requer mudanças radicais de suma urgência e um novo direcionamento que permita salvá-la. Está cientificamente comprovado que o desaparecimento do bioma Amazônia trará um impacto catastrófico para o planeta!” De acordo com o documento final, “o caminho sinodal do Povo de Deus envolveu toda a Igreja no território, os Bispos, os missionários e missionárias, os membros das Igrejas de outras confissões cristãs, os leigos e leigas, e muitos representantes dos povos indígenas, em torno do documento de consulta que inspirou o “Instrumentum Laboris”.

O Papa Francisco, no encerramento do Sínodo, confirmou a decisão de criar um órgão dentro da Santa Sé dedicado exclusivamente aos cuidados com a Amazônia, com o objetivo de combater todo tipo de injustiça, exploração de pessoas e destruição da identidade cultural. Observou que “este é um momento de graça para exercitar a escuta recíproca, o diálogo sincero e o discernimento comunitário para o bem comum do Povo de Deus na Região Amazônica, e assim continuar caminhando sob o impulso do Espírito Santo nas pequenas comunidades, paróquias, dioceses, vicariatos, prelazias e em toda a região”.

O Sínodo Amazônia, por inspiração do Papa Francisco, salienta o documento final, “quer se constituir em forte apelo para que todos os batizados da Amazônia sejam discípulos missionários”. Observa que “o envio à missão é inerente ao batismo e é para todos os batizados. Por Ele todos nós recebemos a mesma dignidade de filhos e filhas de Deus, e ninguém pode ser excluído da missão de Jesus aos seus discípulos. “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura!” (Mc 16,15). Por isso acreditamos que é necessário gerar um maior impulso missionário entre as vocações nativas; a Amazônia também deve ser evangelizada pelos amazônidas”.

Francisco lembrou sua encíclica “Laudato Si” (Louvado Seja) publicada em 2015, como um marco balizador do pensamento ecológico segundo as bases do catolicismo. O título refere-se às preocupações do Papa Francisco sobre o cuidado da casa comum (meio ambiente). A frase é uma citação do “Cântico das Criaturas”, de São Francisco de Assis, que louva a Deus por todas as criaturas. A encíclica critica o consumismo e o desenvolvimento irresponsável, e apela à mudança e unificação global para combater a degradação ambiental e as alterações climáticas.

Tais convicções marcaram o Papado de Francisco, particularmente ao expressar seu amor por nossa região nos seguintes termos: “Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas. Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazónia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos. Sonho com uma Amazónia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e a sua dignidade promovida. Sonho com uma Amazónia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana”.

A preocupação da Igreja com a Amazônia, entretanto, vem de longe. “Cristo aponta para a Amazônia” (Paulo VI, Mensagem aos peregrinos de Belém, 10.10.1971). Por conseguinte, de acordo com o texto do documento final, a escuta da Amazônia, no espírito próprio do discípulo e à luz da Palavra de Deus e da Tradição, nos conduz a uma profunda conversão dos nossos planos e estruturas a Cristo e ao seu Evangelho. Que o governo brasileiro não despreze os objetivos e as recomendações do Sínodo em favor do desenvolvimento sustentável da região e jamais esqueça e honre os determinados compromissos deste Papa que foi argentino, mas também amazônico. Hoje encontra-se ao lado do Pai, mas seus ensinamentos e o amor pela Amazônia irão reverberar por toda a eternidade.

Manaus, 28 de abril de 2025.

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