Juma, a oncinha camarada

Luiz Lauschner Escritor e empresário

A morte da onça Juma no Centro de Instrução e Guerra na Silva (CIGS) no dia 20 de junho, ocasionada por um tiro de um veterinário, reacendeu o debate sobre a manutenção de animais em cativeiro. Juma, desde filhote foi criada no CIGS onde era seu mundo. Não morava numa jaula, mas num ambiente cercado e vivia em constante contato com humanos e até com outros animais. Havia-se tornado o mascote do exército, desfilando nos dias festivos, principalmente em 7 de setembro, sempre acompanhada por seu tratador. Há registros fotográficos e vídeos onde ela aparece em atitudes dóceis com várias pessoas. Parecia que sua criatividade inata tinha ficado na selva, onde foi tirada ainda bebê.


Na passagem da tocha olímpica em Manaus, ela foi novamente exibida ao público, à televisão e depois voltou para seu “lar”. Para saber o que aconteceu depois, podemos conjeturar sobre muitas coisas ou ficar com a versão dada pela assessoria de imprensa do exército, responsável, em última instância, pelo animal. Segundo este relato, ela teria saído de seu ambiente no zoológico para onde cinco militares tentaram fazê-la voltar. Detalhe: os militares eram três tratadores do zoológico e dois oficiais veterinários, habituados às lides do ambiente. Dardos tranquilizantes não fizeram efeito e onça avançou contra os militares, quando foi abatida com um tiro.

Por que a onça estava no zoológico e não na selva? Quem já viveu no interior sabe muito bem o medo que assola a população toda quando se registra a proximidade desses animais. Nem as pessoas, nem os animais domésticos estão seguros. A agilidade e agressividade são famosos e fazendeiros e criadores de animais menores sofrem com os prejuízos causados por eles. O confinamento de onça em lugares apertados é uma agressão aos seus costumes de liberdade. As pessoas têm o hábito de invadir áreas cada vez maiores mas, mesmo nas enormes reservas indígenas, onde os habitantes não são predadores, isto é abatem apenas animais para seu sustento, a onça é caçada, antes de qualquer coisa, pelo perigo que ela representa. O que não impede o consumo de sua carne, depois.

No rio Mississipi, nos Estados Unidos, equipes de caçadores pescam jacarés para reduzir sua população e permitir o aumento da de peixes. Fazem disso grandes espetáculos, filmados e vendidos ao mundo todo. No Brasil, onde a matança de jacarés é proibida, os animais, nos vídios, recebem o nome de “aligátores” numa tradução estropiada da palavra inglesa “aligátor”, que significa a mesma coisa que jacaré ou crocodilo. Como se o nome modificasse o gênero.

O que faz com que um animal aparentemente dócil se torna agressivo de uma hora pra outra é uma discussão para especialistas do ramo. Possivelmente não se encontrará uma única causa, uma vez que os animais, como as pessoas, têm reações pelos mais diversos fatores. O simples cheiro de suor ou o desodorante usado por um dos presentes pode desencadear a fúria. Sua exibição pública, poucas horas antes, já era um hábito que provavelmente não foi determinante.

Hoje, com as distorções de valores, choca muito a morte de qualquer animal, seja de um gorila ou de uma onça. Uma onça, com fome ou acuada, mataria em poucos minutos, uma dúzia de cachorros cuja morte consideraríamos merecida se eles fossem os agressores. Se os militares não tivessem reagido ao ataque da onça, possivelmente um ou mais teria sido estraçalhado por ela. Em poucos dias, nem lembraríamos o nome das pessoas mortas, nem mesmo a dor das famílias, sequer sua patente. Contudo o nome da Onça Juma será lembrado por muitos anos, como símbolo do animal que se acreditava dócil e cuja agressividade voltou de repente para mostrar que homens e bichos são diferentes.

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