La Niña 2024 responde pela severa crise climática que se abate sobre a Amazônia – por Osíris Silva

Escritor e economista Osíris Silva - Foto: Divulgação

A região amazônica, especialmente os estados do Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre vêm enfrentando secas extremas nesses últimos dois anos, levando ribeirinhos a enfrentar longas caminhadas para encontrar água, recurso essencial à vida. O rio Madeira registrou, na terça-feira (27), a cota de 1,37m em Porto Velho (RO), a segunda menor marca da história, desde 1967, atrás apenas da observada em 2023, quando atingiu 1,10 m. Em condições normais, o nível médio do rio esperado para esta época do ano seria de 3,80 m. A informação é do Boletim de monitoramento hidrológico divulgado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), disponível na página do Sistema de Alerta Hidrológico da calha do Madeira. Em Tabatinga, tríplice fronteira Brasil, Colômbia e Peru, com o rio Solimões sem calagem, o porto fluvial não oferece condições para atracação de barcos. Institutos de pesquisas convergem na conclusão de que a região enfrenta novo período de seca extrema causado pelo fenômeno La Niña, que deve chegar na região entre setembro e novembro deste ano, conforme estimativa do Centro de Previsão Climática dos Estados Unidos (CPC/NCEP).


Durante o evento, a temperatura do Oceano Pacífico na região tropical fica abaixo da média, e esse resfriamento provoca uma série de efeitos climáticos, que incluem chuvas mais intensas na Ásia e condições mais secas em algumas áreas da América do Sul. Com 70% de probabilidade de ocorrência este ano, o setor produtivo está altamente preocupado com os impactos do choque climático sobre os preços de bens de consumo e industriais, bem como em relação à logística de transporte e distribuição dos produtos. Medidas emergenciais foram adotadas pelo Porto Chibatão com a instalação autorizada pela Marinha do Brasil de um píer flutuante provisório em Itacoatiara, no Amazonas, para atenuar os efeitos da estiagem. Com área de 300 mil metros quadrados, está apto a movimentar, por meio de 150 postos de emprego gerados, 540 contêineres por dia de navios de cabotagem para balsas que prosseguirão o transporte da carga até Manaus.

De acordo com informes da Comunicação Social – Coordenação de Extensão do INPA, “mudanças climáticas na região amazônica têm influenciado o aumento significativo dos eventos extremos como secas e enchentes, que por sua vez têm afetado o ciclo hidrológico do bioma”. Conclusões são do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Jochen Schöngart, durante a participação na 76a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em junho deste ano. “A magnitude de cheias e de secas severas na Amazônia tem implicações grandes, não só para os ecossistemas, mas também para as pessoas, afetando a segurança alimentar e hídrica das populações ribeirinhas que dependem das áreas alagáveis que são conectadas as rede fluvial da Amazônia”, frisa.

Ciclo hidrológico, de acordo o pesquisador, “é o processo contínuo de circulação da água entre os diferentes ecossistemas da da natureza como a atmosfera, os oceanos, os rios, os lagos, as geleiras e os lençóis subterrâneos”. A Amazônia, salienta, “é caracterizada por altos índices pluviométricos, com chuvas intensas ao longo do ano, principalmente durante a estação, entre dezembro e maio. A umidade excedente é absorvida pela vegetação, que realiza a evapotranspiração, ou seja, joga a água para a atmosfera, formando nuvens e contribuindo para o regime de chuvas na região. Entretanto, o aumento das secas somado ao desmatamento tem resultado em impactos negativos no ciclo hidrológico local e regional”.

Para Schöngart, as mudanças no ciclo hidrológico na região têm gerado impactos significativos para as populações ribeirinhas, destacando-se “a inundação de áreas habitadas; o nível dos rios que afetam a pesca, a agricultura e outras atividades tradicionais; saúde e segurança; e a perda de recursos naturais. Por conseguinte, é crucial investir em educação, pesquisa e tecnologia para mitigar os efeitos das mudanças climáticas”. A Amazônia “demanda grande investimento para desenvolver tecnologias inovadoras para adaptar as populações e os manejos tradicionais, garantindo a sobrevivência e a segurança hídrica e alimentar no contexto das mudanças do clima, que são responsáveis pelas alterações do ciclo hidrológico na Amazônia”, ressalta.

Artigo anterior2ª Temporada de ‘Amazônia, Arqueologia da Floresta’ estreia no SESCTV
Próximo artigoÁrbitro relata problemas e confusões na vitória do Corinthians sobre o Flamengo

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui