Liturgia da gratidão – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

As cinzas da quarta que passou, significa cobrir-se de cinza para simbolizar penitência e arrependimento, é uma tradição que vivem muitas religiões. Esta é a origem e o significado deste símbolo. Mas é um momento diferente, em função dessa pandemia que nos levou tantos amigos e parentes. E existem momentos que podem ser de oração. Oração no sentido mesmo da prece. Invocação de santos e de familiares já no reino da eternidade.


Silêncio interior, onde ressoa apenas a voz misteriosa daqueles que povoaram a infância perdida e de alguma forma – ou por todos os motivos – foram os profetas do destino de cada qual e, instante por instante, pululam em nossas lembranças numa espécie de “vício de memória velha”, como gostava de se reportar Machado de Assis. Rezo, neste espaço de página, o meu louvor ao Pai Celeste por ter me concedido a graça de continuar pelo menos até agora neste “mundão de meu Deus”, junto com meus filhos e netos. Essa malsinada pandemia tem a ressonância da fatalidade, cortante, parece ferir de morte a quem a tem, apesar de todos os avanços médico-científicos no combate às suas ameaças e mazelas.

Médicos e todo o quadro de enfermagem estão se revezando na eficácia do atendimento. Estabeleceu-se em mim um sentimento diferente, o do medo-coragem. À minha frente, o perigo iminente, daí o medo e o pavor. Como autodefesa, o equilíbrio e a disposição de colaborar com os cuidados necessários ao combate ou pela menos pela tentativa de imunização. No meu afã de vida, sempre consulto o meu amigo Dr. Geraldo Catunda, que me transmite serenidade, com a perda de alguns amigos e amigas que não pensava em momento nenhum que partissem dessa nossa passagem tão rapidamente, reflito e assevero novamente, o quão efêmera é a vida.

Eu me pergunto: para que, dentre as pessoas, tanta soberba? Tanta vaidade? E os arroubos de poder? E as arrogâncias? O egoísmo? Por que o eu cada vez mais eu e o nós cada vez menos nós? E as ambições? A corrupção e a ética, onde fazem moradas? E o vil metal? Não sabem os que pegam do dinheiro sujo o quanto este se transforma em azinhavre da alma. Por que tantas guerras e o porquê da barbárie que não se desgruda dos que se jactam do poder e da ganância desenfreada? As pessoas esquecem que o somatório dos dias é a subtração das horas. Vale lembrar o verso “Poder” de Francisco Bandeira de Mello: “Eu posso/ tu podes / ele pode /(eu pó tu pó ele pó)”.

Confesso que as vezes deixo correr algumas lagrimas, e outro dia, uma amiga que encontrei perguntou-me: “Por que essas lágrimas se o senhor está bem?”. Disse-lhe: – saudades dos meus netos, Matheus e Bernardo, saudade dos meus filhos Rafael e Gabriel, saudades dos meus amigos, até aqueles que por um motivo ou outro, deixaram de se comunicar comigo. Sofrer é preciso… Parece que não se cura, quando dos repousos instados pelos médicos, apenas o corpo, mas também se revigora o espírito. Pensar, livre pensar: a vida é um nada neste mundo, mas é bonita e é bonita, sendo este o canto de Gonzaguinha, e o encanto da vida que, por vezes, parece se apagar como a chama de uma vela quando de pequenos sopros, demonstrando a nossa fragilidade. Que bom escutar a voz solidária e carinhosa dos familiares e amigos.

As preces rezadas portantos e quantos. E haja estresse, o mal do ano passado, e que, espraiado, prossegue neste início do novo ano. A minha prece é de gratidão. Que Deus acompanhe os meus passos, dando-me vida e saúde, paz e serenidade, o amor insubstituível dos meus entes queridos e o bem querer de tantos amigos, além de um pouco de suprimento de alma para que eu possa somente ter bondade no meu coração, levando os dias sem os ranços que, por vezes, apequenam o espírito e os gestos do humano. E que eu possa morar no futuro, ao lado de todos os meus. Que assim seja por muitos anos, por todos os dias, por todas as horas, amém!

 

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