Lula, a CT&I e os pesquisadores – por Odenildo Sena

Professor Odenildo Sena

A veterana pesquisadora não pediu segredo. Disse-me que não tinha mais como administrar novos projetos. Diante do meu olhar de espanto, completou: “Consegui aprovar muitos projetos nos últimos anos, estou com um volume tão grande de recursos para administrar, que vou dar um tempo, enquanto concluo os projetos em andamento”.


Era o ano de 2010. Lula estava perto de concluir seu segundo mandato e cumprir a promessa de que até lá zeraria o contingenciamento dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Foi bater e ver.

Professor Odenildo Sena

Trago à tona esse episódio para fazer justiça a mais uma, dentre as tantas revoluções que o ex-metalúrgico promoveu no Brasil. Para me valer de uma expressão sua, nunca antes na História do Brasil o governo federal tinha investido tanto recurso em Ciência, Tecnologia & Inovação.

Nunca antes se tinha investido na formação de tantos doutores, de tantos mestres; nunca antes se tinha investido tanto na iniciação científica de estudantes do ensino fundamental, médio e superior; nunca antes os programas de pós-graduação tinham passado por uma expansão tão extraordinária; nunca antes os investimentos em inovação tecnológica tinham sido tão substanciais.

Lembro-me de que, por conta dos fartos investimentos daquela época, que geravam amplas possibilidades de parceria com os estados, triplicando e até quadruplicando os orçamentos, várias fundações estaduais de amparo à pesquisa foram criadas, ao ponto de um único estado da federação não ter criado a sua: Roraima. Para comprovar esse período virtuoso da ciência no Brasil é muito simples. Basta consultar os indicadores da área relativos à época e compará-los com o antes e o depois.

Não foi, portanto, nenhum professor-doutor que revolucionou a ciência no Brasil. Foi um ex-metalúrgico que tinha apenas um curso técnico feito no Senai, mas trazia em sua bagagem intelectual uma sensibilidade que já passou para a História como a mais extraordinária dentre os tantos que já passaram pela presidência do Brasil. Chama-se Luiz Inácio Lula da Silva.

Quanto à veterana pesquisadora a que me referi no início deste texto e milhares de seus colegas e quanto à multidão de estudantes beneficiados com os vultosos investimentos da era Lula, não tenho notícias de que tenham manifestado indignação com o golpe que, em pouquíssimo tempo, levou a ciência brasileira à mais rasteira das misérias.

*Odenildo Sena é Professor da Universidade Federal do Amazonas.

 

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