Lula e a falácia da honestidade (Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo (AM)

Lula carrega consigo graves vícios de origem e conceitos morais bastante elásticos. Alguns, insuperáveis. Um deles o leva a acreditar em suas próprias inverdades. Vejam só, meteu na cabeça que “não tem neste país uma viva alma mais honesta” do que ele, “nem dentro da Polícia Federal, do Ministério Público, da Igreja Católica, da Evangélica e do sindicato”. “Pode ter igual, mas eu duvido”, proclamou em reunião com blogueiros amestrados na sede do instituto que leva seu nome.
Anda de tal forma convencido de sua honestidade, que deve realmente acreditar que nunca soube de nada ou nunca viu nada a respeito do Mensalão, do Petrolão e demais esquemas corruptos organizados e operados sob suas barbas. Na condição de senhor absoluto do PT, certamente admite que todos os recursos do partido caíram do céu por milagre, uma dinheirama incalculável que azeitou suas campanhas e de sua pupila, em duas eleições e em circunstâncias semelhantes.


Entende-se gênio e imagina-se com seu séquito no Olimpo, inteligência notável e sabedoria invulgar, características que o credenciaram a proferir conferências destinadas a plateias embevecidas com sua extraordinária cultura. E assim, sem nenhum constrangimento, foi sendo generosamente remunerado por empreiteiras mergulhadas na corrupção que conduziu a maior estatal brasileira ao abismo do descrédito e da falência, fruto de negócios escusos com o poder lulopetista. Ao deixar a Presidência da República, de repente, não mais do que de repente, pode acumular patrimônio de fazer inveja ao mais ilustre integrante da elite brasileira, que condena apenas para inglês ver. Foi-se o tempo da casinha modesta, sala e quarto, e da cachacinha metalúrgica no boteco da esquina, acompanhada de um naco de jabá nordestino e cigarro ordinário. Agora, somente vinhos de safras excepcionais, harmonizados em banquetes exclusivos e sofisticados, com licores franceses e charutos cubanos de elevada seleção, em homenagem à meca ideológica de seu partido.

Lá atrás, quando eclodiu o escândalo da compra de votos na Câmara Federal, Lula declarou-se traído pelos delinquentes de seu partido, Dirceu, Delúbio, Genoíno, João Paulo Cunha e outros menos votados. Em seguida, como num passe de mágica – metamorfose ambulante, mudou de ideia e começou a sustentar a inexistência do Mensalão. O que o fez mudar de opinião, indo de um extremo a outro? Ameaças, chantagem, rabo preso, como no caso do sequestro e assassinato do prefeito Celso Daniel, cujo cadáver insiste em permanecer insepulto? Há depoimentos confirmados de delatores que revelam como o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do peito de Lula, viabilizou recursos de alguns milhões de reais destinados a calar achacadores e abafar o rumoroso e não resolvido crime de Santo André.

No Petrolão, o PT e seu líder maior adotaram igual procedimento. Após alguma perplexidade inicial, ditada pela certeza de que não seriam apanhados com a boca na botija, passaram a defender José Dirceu e Vaccari Neto, o “herói do povo brasileiro” e o mago das finanças do partido, mentor dos maiores “pixulecos” da história da República. Nenhum deles foi defenestrado, como aconteceu com Delúbio Soares, mais tarde readmitido, numa ação orquestrada para o público externo entre a direção partidária e o filiado expulso. Nem sequer o senador Delcídio do Amaral, preso por determinação do Supremo, foi afastado das fileiras do PT, embora não tenha recebido a esperada solidariedade do comando da sigla, que prefere o distante silêncio, em função de riscos devidamente avaliados. Todos são arquivos vivos e perigosos, sempre desfrutaram do convívio íntimo com Lula, sala e cozinha, e qualquer descuido pode ser fatal. Portanto, agora mais do que nunca, Lula aposta em suas falsas verdades, como imposição de uma realidade incômoda, da qual procura desvencilhar-se com sofreguidão.

A indecência e ausência de castidade é geral no PT e envolve o antigo metalúrgico, em cima de fatos indesmentíveis, que o trazem para o núcleo dos escândalos. Não há como explicar o enriquecimento de seus filhos e a vida de alto padrão que leva com sua família. Uma falácia, portanto, sustentar que ninguém mais honesto do que ele próprio. Trata-se de uma válvula de escape, a pseudologia fantástica – a mentira patológica, associada a uma espécie de autocomplacência, que o faz apresentar-se como vítima da Lava-Jato, pela ação dos investigadores que estariam fazendo tudo para colocar seu nome no bojo das delações premiadas e dos inquéritos.

A mendacidade em Lula já é doentia. Conveniente ou não, demanda tratamento médico, e com urgência.(Paulo Figueiredo – Advogado, Comentarista Político e Escritor – [email protected])

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