Mãe Odete de Bindão – Por Valdir Fachini

Articulista Valdir Fachini (SP)

Por vinte e poucos anos ela teve a felicidade de ser chamada de mãe, mas Deus requisitou sua filha única para ir morar ao lado dele, Duas netas ficaram para preencher o vazio do seu coração angustiado, duas meninas que se apossaram de todo amor que ela tinha pra dar, duas crianças pra ocupar o lugar na casa e na alma.
Odete é seu verdadeiro nome, nome com o qual foi batizada, mas que muitas vezes nos becos da vida teve que usar pseudônimos. Nos palcos da sua existência ela já foi Frida, Margarida, já foi querida, já fez vontade de magnata, viralata, Guevara e Zapata, já foi cantora, aviadora, já calejou as mãos na vassoura, de tudo já fez um pouco, sofreu demais, viveu de menos, chorou muito, pouco sorriu,
amou a tantos e outro tanto foi amada e desejada.


Bindão era o apelido do pai que ela teve e ao mesmo tempo não teve, um pai que além do sobrenome não lhe deu mais nada, presença, presente, endereço, não enxugou suas lágrimas, não lhe fez companhia até a porta da escola, não chorou com ela sua primeira desilusão, não recriminou sua saia curta, não conheceu seu primeiro sutiã, foi pai sem ser pai.

Articulista Valdir Fachini (SP)

Mãe Odete de Bindão foi o título adequado que eu achei pra essa pequena história dessa grande mulher.

Mãe, não pelo simples fato de ser mãe, mas por as vezes fazer o papel de cartomante e quiromante sem nunca ter sido, pois a fome não espera por dias melhores e nem que a sorte venha bater em sua porta.

Sua experiência de vida e seu conhecimento da mente do homem muito lhes ajudaram nesse ofício que nunca te trouxe orgulho.

Suas histórias e seus causos infindos, nos fazem viajar na sua imaginação, nos prendem em nossos assentos a espera de uma outra façanha, outra aventura mirabolante.

Hoje essa mulher já não tem mais o vigor de antes, já não tenta tirar palavras de mãos calejadas de ninguém, já não ilude pessoa alguma com falsas vitórias que as cartas prometem, já não faz o gosto e a vontade de capitães tarados, já não passeia por jardins fantásticos, nem por vielas nojentas, mas ainda sonha.

Ainda tem sonhos com castelos, gentis cavalheiros e príncipes encantados, embora saiba que isso não importa, tudo o que ela quer é paz e saúde pra ver seus netos e bisnetos vivendo uma vida melhor que a sua, onde a alegria seja o máximo e a tristeza o mínimo.

Ela ainda sonha que antes que Deus a leve pra também descansar ao seu lado, ainda tenha tempo pra alegrar muitos corações com suas histórias, falsas ou verdadeiras não faz mal e suas lições de vida.

E quem sabe um dia alguém escreva um livro que poderia até se chamar …Mãe Odete de todos nós.

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