Malabarismos retóricos – Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Houve um momento em que parecia que o Brasil finalmente deslanchara. Tinha-se tornado a oitava economia do mundo e podia ambicionar voos ainda maiores. Hoje, quatro posições abaixo, o País procura retomar o fio do desenvolvimento acelerado sem conseguir se desvencilhar de vícios arraigados e erros recorrentes.


Suas elites dirigentes têm tendido a se esconder dos desafios com malabarismos retóricos e tergiversações ideológicas. O que preocupa não é apenas o fato de não terem tido continuidade os expressivos avanços alcançados em períodos recentes de nossa história, mas a propensão à inércia, ou ao movimento errático, que acomete protagonistas e coadjuvantes da vida nacional.

Da escalada da violência à favelização das grandes cidades, passando pela deterioração dos serviços públicos, é visível que se está lentamente saindo do purgatório em direção ao inferno. E o assustador é o passivismo das autoridades. Somos uma sociedade que se mantém muito aquém de suas potencialidades. Poderíamos, em todos os níveis, estar fazendo muito mais coisas e com muito mais eficiência.

A grande maioria das pessoas permanece subaproveitada, limitando-se a fazer o mínimo indispensável e a executar as tarefas com tédio burocrático. Predomina em toda parte a rotina mecânica que aniquila a criatividade e o espírito de superação. Falta à maioria dos agentes a qualificação e o aguilhão que poderiam levá-los a se aprimorar e a melhorar seu desempenho. Já os preparados e empenhados se defrontam com outro tipo de dificuldade: veem-se obrigados a atuar no âmbito de lojas, empresas, repartições – instituições em geral – marcadas pela ineficiência e pelo boicote sistemático às inovações.

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Consultor.

Fica fácil entender a sensação de estagnação que paira no ar quando se percebe que é generalizada a dificuldade em lidar com as limitações individuais e as obstruções institucionais. Não é por acaso que, em comparação com o tamanho de sua economia, nossa sociedade está entre as menos inovadoras.

Atualmente, o grande desafio é remover as causas que conspiram contra a evolução pessoal e profissional do cidadão. Só cabe considerar desenvolvida uma sociedade quando oferece um ambiente que proporciona a seus membros as condições propícias à busca e realização de suas potencialidades. Sem a devida qualificação, as pessoas não sabem do que são capazes e do que poderiam fazer para transpor os obstáculos em que esbarram nos planos individual e coletivo.

É triste constatar que muitas potencialidades deixam de se tornar realidade porque estão ausentes as condições internas e externas que favorecem o seu desabrochar. A sociedade permanecerá pobre enquanto seus membros, da elite ao povão, tiverem desempenho muito inferior ao que poderiam ter. E tudo piora quando a fraca performance vem acompanhada de fracassomania lamurienta. Não bastasse a grande legião de subaproveitados e mal aproveitados, está a sociedade infestada de bandidos e aproveitadores. Daí a urgência de se criar um sistema eficaz de vigilância e punição. Do contrário, se marchará inexoravelmente para a anomia.

Diante do quadro geral de subutilização e desperdício de energias pessoais e coletivas, os políticos precisam parar de propor soluções populistas e demagógicas para os graves problemas nacionais. É errado atribuir exclusivamente à falta de crescimento econômico substantivo o mal-estar que se abate sobre o País. Ao se reduzir o ser humano ao conjunto de suas necessidades materiais, deixa-se de dar a merecida importância ao processo de formação das mentalidades e à capacidade de autotranscedência dos agentes.

Uma sociedade é mais que um sistema econômico, é um projeto de vida em comum que, para ser bom, precisa se basear em determinados valores. É o crescimento econômico que depende da existência de um ambiente favorável ao desabrochamento das potencialidades dos agentes. E não o contrário. Por isso a educação cumpre papel crucial. Só que a pedagogia que libera potencialidades não é a da repetição enfadonha e a da doutrinação ideológica, e sim a que, à maneira de uma maiêutica socrática, vai estimular a criança e o jovem a prospectarem suas potencialidades dentro e fora da realidade em que vivem.

Como sugere a evidência histórica, as sociedades que respeitam as iniciativas individuais, criando condições que as estimulam, são as que alcançam melhor padrão de vida. No Brasil, a realidade fica a cada dia mais dura por estar, na maior parte do tempo, impedindo que as potencialidades de cada um se tornem realidade

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