Malhar Marina, o esporte da hora – por Marcos Augusto Gonçalves

Qual Silva é Marina?

MARINA SILVA


A reviravolta no tabuleiro eleitoral provocou reações extremadas nas redes sociais. A evidência de que Marina Silva substituiria Eduardo Campos e levaria a eleição para o segundo o turno causou pânico entre governistas. A ex-ministra de Lula passou a ser alvo de uma bateria de ataques violentos que não se detém em nenhuma consideração ética. Malhar Marina é o esporte “progressista” da hora.

A ideia é desmoralizá-la a todo custo, pintando-a como uma fanática religiosa, cínica e oportunista, que traiu o povo e pode levar o país às trevas. O bombardeio retórico tem sido tão cerrado e mesquinho que até críticos da ambientalista saíram em sua defesa –incomodados com o ímpeto dos linchadores.

A espiral de radicalização política nas redes sociais não é novidade, tampouco a falta de escrúpulos de seus agentes, que, à esquerda e à direita, se batem em torneios de intolerância e estupidez. No caso, as duas pontas chegaram a se tocar, já que o blogueiro e colunista Reinaldo Azevedo, notório inimigo do petismo, foi usado (pasme!) por alguns serviçais governistas para engrossar a blitz contra Marina – ele que há tempos manifesta seu horror à ex-ministra de Lula.

Num péssimo sinal, a sinfonia de insultos reverberou em blog oficial da candidata Dilma Rousseff, numa tentativa de vender a ideia torpe e pueril de que Marina comemorava o desaparecimento de Campos ao sorrir durante o velório – em contraste com o choro sincero de Lula.

Não é difícil levantar questionamentos e objeções sensatas à nova estrela eleitoral, tampouco a seus concorrentes. Aliás, em matéria de desrespeito ao princípio da laicidade do Estado, Dilma já deu seu show ao declarar, em visita à Assembleia de Deus, que “feliz é a nação cujo Deus é o Senhor” – uma afronta à consciência republicana e à diversidade religiosa, que não poderia ter partido de alguém em sua posição.

Esperemos que a campanha eleitoral no rádio e na TV possa nos oferecer alguma coisa menos repulsiva. Seria bom para todos se a essa nova configuração, em que três candidatos aparecem com chances reais de vencer, favorecesse um debate esclarecedor sobre as divergências e eventuais afinidades dos concorrentes.

O que tem Marina a apresentar além da agenda ambiental e de alusões etéreas a uma “nova política”? Com que alianças governaria? Até onde vão os compromissos sociais de Aécio e suas propostas para reformular o Estado? O que Dilma pretende fazer com a economia, além de tentar tapar o sol com a peneira em defesa de medidas que fracassaram? Que estratégias internas e de inserção internacional levariam o Brasil a voltar a crescer, reduzir desigualdades, melhorar a eficiência dos serviços públicos e elevar a produtividade do setor privado? O país está às portas de um novo ciclo ou deve seguir repisando as fórmulas que se revezaram nas últimas décadas?

Pelo que tenho visto, será uma surpresa se esse tipo de debate – básico, na realidade – vier a acontecer. Espero estar errado, mas depois de um previsível início bonzinho, corremos risco de perder tempo, dinheiro e paciência com uma campanha primária, marqueteira, enviesada e agressiva.

Marcos Augusto Gonçalves escreve para a Folha de Nova York.
É editorialista e colunista do jornal.
É autor de ‘Pós Tudo – 50 Anos de Cultura na Ilustrada’ (Publifolha, 2008)
e de ’1922 – A semana que Não Terminou’ (Cia das Letras, 2012).

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