Mamirauá discute o fortalecimento da cadeia produtiva do pirarucu manejado

Dávila Corrêa, Diretora de Manejo e Desenvolvimento, Senador Eduardo Braga e Ana Cláudia Torres Gonçalves, coordenadora do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá- Foto: Eunice Venturi

Uma oficina e um seminário. Reuniões e entrevistas. A semana de 11 a 16 de novembro foi intensa para membros do Instituto Mamirauá que estiveram em Brasília com o objetivo de fortalecer a cadeia produtiva do manejo de pirarucu. A agenda iniciou no domingo, 11 de novembro, quando um grupo coordenado pelo Serviço Florestal Americano se reuniu com representantes do Instituto Maniva e do Sindicado de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro (SindRio) para traçar estratégias visando comercializar o pirarucu nesse mercado.


Participaram do encontro, além do Instituto Mamirauá, a Operação Amazônia Nativa (Opan), Memorial Chico Mendes, Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc) e Associação dos Comunitários Que Trabalham com o Desenvolvimento Sustentável no Município de Jutaí (ACJ).

A oficina iniciou com uma apresentação do diagnóstico do manejo de pirarucu no estado do Amazonas, realizado por diversas instituições. Nesse diagnóstico, essas instituições constataram que as áreas produtoras têm comumente se deparado com três situações que impactam diretamente na rentabilidade da atividade, como o preço decrescente ao longo dos anos e insuficiente para pagar os gastos totais do manejo, o limitado acesso a melhores mercados e as restritas condições financeiras para investir em maior eficiência na produção, armazenamento, logística, comercialização e gestão.

“Um dos legados do diagnóstico é este coletivo de instituições que tem em comum o mesmo objetivo de fortalecimento do manejo do pirarucu”, disse Felipe Rossoni, um dos autores do diagnóstico e membro da Operação Amazônia Nativa (Opan).

Segundo Dávila Corrêa, diretora de Manejo e Desenvolvimento do Instituto Mamirauá, o resultado do diagnóstico revela o respeito que as populações tradicionais estabelecem com o ambiente, um importante resultado é a recuperação de estoques de pirarucu que alcançou 200% em 2016. “Mas os desafios como novos mercados e infraestruturas de beneficiamento dentro das áreas de manejo precisam entrar na pauta de trabalho das instâncias governamentais em articulação com as associações de produtores e demais instituições”, afirmou.

Para buscar soluções para esses problemas, o grupo decidiu pela participação em dois eventos, no próximo ano: Rio Gastronomia, organizado pelo Jornal O Globo, ocorre na segunda quinzena de agosto no Rio de Janeiro (RJ), reunindo cerca de 50 mil pessoas. O outro evento é a promoção de um “Festival do Pirarucu”, no Mercado Municipal do Rio de Janeiro (Cadeg), com expectativa de público de 30 mil pessoas.

Dávila Corrêa, Diretora de Manejo e Desenvolvimento, Senador Eduardo Braga e Ana Cláudia Torres Gonçalves, coordenadora do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá-
Foto: Eunice Venturi

Segundo Ana Cláudia Torres Gonçalves, coordenadora do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá, outras estratégias vão se somar ao esforço de alcançar esse mercado do Rio de Janeiro como a Indicação Geográfica do pirarucu de Mamirauá e o esforço de divulgação entre várias instituições para sensibilizar o consumidor do estado do Amazonas.

Diferenciação e rastreabilidade

Comunidades extrativistas, governo, sociedade civil e empresas reuniram-se para discutir mecanismos de diferenciação para produtos da biodiversidade da Amazônia. A proposta é criar estratégias para fortalecer as cadeias produtivas (que são sistemas integrados de processos, como produção, comercialização e consumo de um produto) como as do açaí, óleos naturais, pirarucu e castanha. O seminário “Diferenciação e rastreabilidade para produtos da sociobiodiversidade da Amazônia” aconteceu entre os dias 12 e 13 de novembro, em Brasília.

Adevaldo Dias da Costa, presidente do Memorial Chico Mendes, com sede em Manaus (AM), falou sobre o manejo de pirarucu no estado. “A questão do preço é um desafio importante a ser resolvido, pois hoje o extrativista recebe menos de 50% do que investe para realizar o manejo. Nós acreditamos que vamos conseguir sensibilizar esse consumidor de que não é só um peixe’. Tem todo um valor agregado nesse produto, principalmente de conservação do meio ambiente”, afirmou o presidente.

O evento foi realizado pelo projeto Mercados Verdes e Consumo Sustentável (MVCS), resultado da parceria entre e a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (SEAD) com o governo federal alemão por meio da cooperação técnica alemã (GIZ), e com o apoio do consórcio ECO Consult e IPAM Amazônia, da WWF-Brasil, Projeto Private Business Action for Biodiversity (PBAB – GIZ/MMA), Parceria para Conservação da Biodiversidade (ICMBIO/USAID/USFS), Projeto Bem Diverso (Embrapa/PNUD/ GEF), e Instituto Terroá.

“O Gigante Amazônico: manejo sustentável de pirarucu”

Mais de 20 anos de história e uma iniciativa de sucesso disseminada em outras partes da Amazônia, mas com desafios principalmente comerciais a superar. Essa é a história retratada no livro “O Gigante Amazônico: manejo sustentável de pirarucu”, de autoria de Ana Cláudia Torres, Jonas Batista e João Cunha, lançado pelo Instituto Mamirauá este ano com financiamento da Fundação Gordon and Betty Moore e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

O primeiro lançamento da versão impressa ocorreu na última semana, em Brasília, durante o seminário “Diferenciação e rastreabilidade para produtos da sociobiodiversidade da Amazônia”. A publicação já havia sido lançada em julho, em versão digital disponível no site do Instituto Mamirauá (acesse www.mamiraua.org.br/livro-gigante).

Foto: Instituto Mamiraua/Amanda Lelis

“O momento é propicio para lançar esse livro de uma das cadeias produtivas tão faladas aqui durante este seminário. Além da grandiosidade do tamanho da espécie, por isso o título “O gigante amazônico”, e dos três autores, eu posso dizer que esse é um livro de autoria de mais de 1.700 pescadores, que disponibilizaram seus dados para estar aqui e que acreditaram que era possível retomar a produção comercial da espécie”, disse Ana Cláudia, durante o lançamento.

Durante o lançamento, Ana Cláudia apresentou a publicação, por capítulo, e destacou o terceiro capítulo que trata da história de vida com o manejo por pescadores e pescadoras. “Eles representam a diversidade de associações e colônias que recebem nossa assessoria técnica”, enfatizou Ana Cláudia. Esses personagens são: Raimundo Ramires dos Santos, conhecido como “Farinha Seca”, do município de Maraã; Raimundo Queiroz, pescador urbano, de Alvarães; e do município de Uarini, Milce Rodrigues, professora dos rios; Jorge Carvalho, pioneiro do manejo e Wanderlândia Moreno, a Wal.

O livro também foi entregue ao Senador pelo Amazonas, Eduardo Braga, durante visita da equipe do Instituto Mamirauá ao Congresso Nacional. Na oportunidade, Ana Cláudia também entregou um ofício com oportunidades de melhoria da cadeia produtiva do manejo do pirarucu. Segundo o Senador, o preço pago atualmente pelo quilo do pirarucu manejado é muito baixo e iniciativas no sentido de rever isso são muito positivas, como as propostas de melhorias em infraestruturas. Confira aqui a íntegra do ofício. Mais duas instituições receberam exemplares do livro: a Secretaria Nacional de Articulação Social, da Presidência da República, e a WWF-Brasil.

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