
Manaus é um ponto fora da curva. Como em todo país, o futebol é o esporte nacional, mas a torcida só sai de casa quando ELAS jogam. No Amazonas, é a versão feminina que gera paixão e leva milhares de pessoas aos estádios. Méritos do Iranduba, principal time do Estado, e que bate recordes contínuos de público.
O mais recente foi na semifinal do Campeonato Brasileiro, contra o Santos, na última semana: 25.371 torcedores. E não tem essa de entrada franca, eles pagaram ingresso. O feito foi matéria até em jornais de Portugal. Nem as equipes femininas de Corinthians e Flamengo levam fração disso aos seus jogos. O Iranduba criou um novo patamar no futebol feminino.

A vibe em Manaus é tão boa que até as adversárias gostam de enfrentar o Iranduba. Caso de Ketlen, jogadora do Santos que marcou o gol da vitória nas semifinais do Brasileirão por 2 a 1. “Na verdade, a ficha não caiu a respeito do tanto de torcedores que tinha lá. A gente não encontra isso em nenhum lugar do Brasil. Dos lugares em que eu joguei, recorde de público só em Manaus”, conta a jogadora.
Um marco no futebol feminino
O Iranduba coloca por terra a afirmação de que o futebol feminino não tem mercado. O clube põe milhares de pessoas no estádio, vende camisas e tem jogadoras tietadas nas ruas. Ex-capitã da seleção feminina e comentarista da ESPN, Juliana Cabral, diz que levar 25 mil pessoas é um feito que será citado quando contarem a história do futebol feminino no Brasil.
“Sem dúvida nenhuma, para a realidade do futebol feminino atual é um marco. O Iranduba entrou para história”, disse ela.
Para Juliana, o Iranduba leva o conceito de “jogar em casa” à modalidade. Ela lembra que no ano passado o Corinthians, por exemplo, mandava suas partidas em Osasco e, agora, está em Barueri. O Santos, por sua vez, saiu do seu centro de treinamento para a Vila Belmiro. Antes do fenômeno Manaus, segundo a comentarista, não existia identificação do torcedor com um estádio. O chamado “fator casa” não decidia jogos.
Um fator ressaltado por Juliana é que o Iranduba inverte a tese de que o crescimento do futebol feminino precisa passar por clubes de massa terem equipes femininas.”O Iranduba foi fundado em 2011. Mas é algo bem pensado, bem organizado. Formaram um time de qualidade que aos poucos foi criando identificação com a cidade.”
A avaliação da ex-capitã da seleção é que há mais de um caminho e o sucesso é consequência de estreitar laços com o torcedor.
Reação ao preconceito virou símbolo

O Iranduba aquecia para o jogo contra a Ferroviária (SP), no ano passado, quando os torcedores colocaram a mão na frente da boca e começaram a fazer o barulho de um índio. Teve troco. O time de Manaus ganhou e na comemoração do gol imitou um índio atirando uma flecha.
“Inicialmente não foi jogada de marketing. Aquilo era depreciativo, discriminava o povo de Manaus, era uma brincadeira de mau gosto. Quando fizeram gol, imitaram o gesto de índio guerreiro. Tornou uma marca. Hoje a gente usa a #flechada”, diz o diretor de marketing.
Outra hashtag do Iranduba é #AvanteHulk #FechadosComOHulk. O super-herói foi adotado como mascote do time por motivos simples: ele é verde, mesma cor do uniforme, e poderoso.
O dirigente sabe que desta maneira vai atrair mais interesse. Tem dado certo. A equipe fechou acordo de patrocínio com a Copag (empresa de baralhos) e no jogo contra o Flamengo, pelas quartas de final do Campeonato Brasileiro, foram vendidas 400 camisas. Era o estoque inteiro daquele dia.
Fonte: Esporte. uol