Todos os dias o sol raia.
Essa certeza é uma certeza que nos conforta e nos torna indiferentes para a importância da luz que vem com o sol. Ela sempre está ali, todos os dias, aconteça o que acontecer o dia será iluminado.
Essa lição da natureza, não se aplica à vida, porque a luz da vida a qualquer hora pode ser apagar.
E foi assim que na madrugada do dia 16.02.2004 a luz da vida da minha pequena Maria Carolina apagou sem qualquer aviso.
Todos os anos no dia 16 de fevereiro conto essa história e ela nunca é a mesma história.
Acordei como num dia qualquer, mas naquele dia os olhos da minha Maria Carolina não brilhavam como antes, era como um dia nublado, que eu esperava passar pra ver novamente a luz do sol naqueles olhos.
Não vi mais. Tinha chegado a hora da minha pequena ir para o lado do Senhor. E eu, na certeza de que existiria amanhã, aproveitei tão pouco, porque tinha compromissos com o trabalho, com a política.
Não houve amanhã. O sol não voltou a brilhar.
Desde aquela dia, não há manhã que não me desperte a alegria de poder ver e sentir a luz que brilha da presença do Gabriel, da Marcela e do José Umberto.
Desaprendi a deixar pra amanhã qualquer gesto ou palavra de amor, incentivo, apoio aos meus filhos.
Abraço hoje, beijo hoje, participo hoje, pego na escola hoje, digo “eu te amo” hoje.
Nas coisas do amor o amanhã, às vezes, simplesmente não existe porque as luzes podem se apagar quando menos esperamos.
Conto essa história para pedir aos que me leem que não guardem o que seja do amor.
O rancor pesa, a mágoa pesa, o ódio pesa, a ganância pesa. Leve é o amor, o abraço, o beijo, o carinho, o afeto, a palavra que conforta.
Só carregue coisas leves e que brilhem, assim o duro caminho natural da vida será mais prazeroso e, se um dia, de repente, pela vontade de Deus, a luz se apagar tudo terá valido a pena.
Com saudades e com amor para a minha filha Maria Carolina que hoje faz 14 anos deixou de brilhar entre nós.
Marcelo Ramos
