Após três dias de reclusão em casa, a ex-senadora Marina Silva evitou, ao embarcar na manhã deste sábado em voo comercial para Recife, falar sobre as negociações para composição da chapa presidencial. Enquanto se discute a viabilidade política de uma consulta em torno do nome de Marina, um assessor de bom trânsito com a ex-senadora afirmou que ela vai aceitar a indicação do PSB para assumir a cabeça da chapa.
De acordo com ele, Marina aceitou a missão como natural diante da tragédia. O mesmo assessor também destaca que não há divergência sobre o programa de governo, que estava pronto e seria apresentado na semana que vem. Apesar de um outro assessor ter dito que Marina não teria autorizado o PSB a fazer uma consulta sobre seu nome, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB), um dos líderes da legenda no Senado declarou que a ex-ministra “se mostrou disposta” a assumir o lugar de Eduardo Campos na chapa.
— Marina se mostrou disposta a assumir o papel de candidata natural, em função da tragédia que aconteceu. Agora o partido vai discutir os desdobramentos e a estrutura da campanha e deverá indicar o vice de Marina Silva — disse.
Em conversa ontem, sexta-feira com o presidente do PSB, Roberto Amaral, ficou acertado que Marina vai aguardar a indicação de um vice pelo PSB. Caberá ao partido de Campos fazer essa escolha. O líder da legenda da Câmara, Beto Albuquerque (RS), é o mais cotado. O nome de Luiza Erundina também apareceu na bolsa de apostas. Albuquerque, porém, tem bom trânsito com o meio empresarial e teria perfil complementar ao de Marina.
O senador Rodrigo Rollemberg, líder do PSB no Senado, afirmou que o PSB já definiu o perfil do político que formará a chapa com Marina Silva. Segundo ele, o escolhido deverá ser uma pessoa com vida orgânica no partido, comprometido com o projeto desde o início e que tenha merecido a confiança de Eduardo Campos, além de, logicamente, ter uma boa relação com a ex-senadora.
— Marina se mostrou disposta a assumir o papel de candidata natural, em função da tragédia que aconteceu. Agora o partido vai discutir os desdobramentos e a estrutura da campanha e deverá indicar o vice de Marina Silva.
O senador afirmou que há nomes no partido que reúnem as características necessárias, como os deputados Beto Albuquerque (PSB-RS), Júlio Delgado (PSB-MG) e Luiza Erundina (PSB-SP)
Rollemberg afirmou que a escolha do vice, porém, só seria tomada após o sepultamento de Campos. Ele destacou que, apesar da aparência frágil, Marina Silva é uma figura de grande força e liderança política.
— O mais importante agora é o perfil traçado para o vice, que deve representar bem o partido e ter merecido a confiança de Campos.
O PSB pretende apresentá-la oficialmente como substituta de Eduardo Campos na disputa pela Presidência. Segundo pessoas próximas da ex-senadora, o encontro com lideranças do PSB foi “muito emocional” e nada seria decidido até o funeral de Campos. A conversa durou uma hora e meia e teve que ser interrompida vários momentos por conta da emoção, segundo um auxiliar que acompanha Marina no voo.
Ela embarcou hoje ao lado de seus principais auxiliares. Marina foi uma das primeiras a entrar na aeronave, sentou no fundo do avião, ao lado do marido e das filhas.
Usando uma cacharel marrom e um caso preto, marina reclamou do frio, tomou um copo de água e não foi assediada por passageiros. Estão com ela no voo Neca Setubal, João Paulo Capobianco, Basileo Margarido, Pedro Ivo Batista e Walter Feldman. Antes de entrar na aeronave, Marina ficou numa sala separada para autoridades, junto com Feldman, no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, Grande São Paulo.
Numa tentativa de distrair o grupo, Capobianco fez piada dizendo que a curvatura da asa do avião mostrava que ela estava quebrada. Em tom de piada o vereador Ricardo Yang o repreendeu. Uma das filhas de Marina, Shalon, disse que toda a equipe e a família tem se revezado nos cuidados para fazer a ex-senadora comer.
Shalon, que é psicóloga, falou que é importante a mãe viver o luto e disse que Marina não precisa chorar para expressar a sua tristeza.
O senador petista Eduardo Suplicy também está no voo e deu sentimentos a Marina, com beijo na testa dela.
Antes do voo, Marina pediu para ver jornais e revistas. Se emocionou folheando as páginas ao ver as fotos de Campos. Ao longo dos últimos dias ela repetiu muito: “meu companheiro” e “eu amava o Eduardo”, segundo pessoas próximas.
Abatida, Marina quase não falou ao longo de três horas de voo até o Recife. Inadvertidamente, ela acionou o botão que chama os comissários. A comissária que veio atendê-la não agiu como se a reconhecesse. Marina se desculpou pelo engano.
Com frio, cobriu-se com uma manta vermelha, tomou água de uma canequinha própria e pôs fones de ouvido brancos conectados a um celular. Algo que não costuma fazer em viagens. Manteve a bíblia no colo e tomava notas em um exemplar de “Em busca da política”, de Zygmunt Bauman.
Marina tem lido jornais diariamente. Walter Feldman disse que ela se chateia:
— Chateia porque não falar de política pra nós agora é um compromisso sério. Marina não fez nenhuma afirmação sobre política. Nenhuma. E não fará até o sepultamento. Foi o combinado com Roberto Amaral. Você não pode combinar uma coisa e depois falar outra com os jornalistas — afirmou, referindo-se a Amaral e ao PSB. Feldman disse que vai procurar Amaral pra falar sobre isso.
Marina não aceitou nenhuma bebida nem comida no voo. Há cerca de seis meses ela tem sido acompanhada por uma nutricionista de São Paulo que prepara cardápios ricos em frutas e vegetais e que respeitam as restrições alimentares dela. Marina sofre com uma série de alergias decorrentes das inúmeras doenças que contraiu na infância e juventude.
Ao desembarcar em Recife, a primeira providência de Marina seria telefonar para Renata para combinar uma visita.(O Globo)
