
Quem mente com alguma frequência não consegue mais parar de mentir. Uma mentira puxa outra e assim por diante. É o caso da presidente Dilma, que tem feito declarações e prestado informações mentirosas, todas bem distantes da verdade.
Chegou a tal ponto que Delfim Neto foi levado a citar o filósofo Nietzsche, para quem “as mentiras mais comuns são as que contamos para nós mesmos; as outras são, relativamente, exceções”. Tem-se aqui a consideração de um aliado, czar da economia durante longo período da ditadura militar, amigo íntimo e consultor de Lula.
Autêntico mentiroso é aquele que acredita piamente em suas próprias mentiras. Convence-se de suas inverdades antes de lançá-las ao vento, persuade-se a respeito de fatos falsos, como reais, como se tivessem acontecido. E a situação assume dimensões maiores, quando as disfunções partem da maior autoridade da República.
No outro extremo, a verdade, com a notável força intrínseca que lhe é inerente, fala mais alto e impõe-se em qualquer hipótese. Por isso é que a sabedoria popular diz que é mais fácil pegar um mentiroso do que um coxo. Mais cedo do que se imagina, o mentiroso deixa-se enredar em suas próprias contradições, numa espécie de redemoinho enganoso, sobre o qual termina aflorando a realidade em todos os seus contornos.
Vamos lá. Dilma, do alto de sua arrogância, mas sitiada pela crise, afinal admitiu que errou em ter demorado a perceber que a situação era pior do que imaginava. A contragosto, reconheceu que poderia ter aplicado medidas de reorientação da economia em 2014, mesmo antes das eleições. Ainda assim, insiste em dizer que seria difícil prever o quadro crítico em agosto de 2014, talvez somente possível em setembro, outubro ou novembro, segundo entrevista concedida aos jornais O Glogo, Folha e Estado de São Paulo. Como o uso do cachimbo faz a boca torta, manteve-se fiel às políticas erráticas aplicadas e defendidas ao longo da campanha eleitoral. Não fez nenhum mea-culpa sobre o desastre provocado pela concessão irresponsável de subsídios às contas de energia elétrica e aos derivados de petróleo, cujo reordenamento obrigatório elevou os índices de inflação aos patamares atuais. E, com quanta desfaçatez, permanece sustentando que não sabia de nada e que jamais esperava que pessoas próximas e petistas estivessem envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras.
Bem, logo seria apanhada na mentira. Assessores da equipe do então ministro da Fazenda, Guido Mantega, vieram a público e disseram com todas as letras que advertiram os escalões superiores sobre a extensão da crise já em curso. O próprio Mantega não foi afastado do ministério à toa, porquanto serviu de boi de piranha, como exigência da representação paulista dos empresários e do próprio Lula, a fim de tentar justitifcar a obstinação no erro da presidente, economista mais do que ninguém nas horas vagas. Se não tomou nenhuma decisão de redirecionamento da economia em momento anterior ao pleito, como parece óbvio, é porque temia que os resultados nas urnas lhe fossem adversos. Preferiu escamotear a verdade, ao proclamar no palanque eletrônico que tudo ia bem, que a situação continuava sob controle, procedimento que mais tarde se revelaria como o mais puro estelionato eleitoral da história recente do país. No final, adotou o programa neoliberal que antes refutara, com projetos que pretende viabilizar com Joaquim Levy, hoje hostilizado pelas alas radicais do lulopetismo.
Teve-se igual orientação sobre a redução do número de ministérios. Na campanha, foi peremptória, ao condenar seus adversários, Aécio e Marina, que anunciavam a diminuição de pastas na Esplanada. Agora, com o governo caindo aos pedaços, tolera a reforma, ainda que para inglês ver, e diz que é preciso mudar para que tudo permaneça como está, na melhor linha de Giuseppe Tomasi di Lampedusa.
Dilma, a amnésica, não lembra sequer de Erenice Guerra, sua assessora de confiança e sucessora na Casa Civil da Presidência da República, obrigada a deixar o cargo, envolvida em ações ímprobas em benefício de seu filho e de outros, no coração do poder. Sem nenhuma cerimônia, pretende aumentar a carga tributária, com a reciração da CPMF, sob novo nome e roupagem, como quer seu ministro da Saúde, mais uma vez na contramão do discurso de campanha.
Registre-se, no mais, a curiosa indagação do deputado pernambucano Bruno Araújo: “A presidente Dilma não sabia do petrolão, não sabia da crise, não sabia de nada. Será que ela sabe que é presidente?”. Um vexame, toda uma gestão pública construída sobre mentiras, ainda bem que de pernas curtas.(Paulo Figueiredo – advogado, escritor e analista político – [email protected])