Morte de García Márquez estremece Macondo

Ricardo Maldonado Roço
Aracataca (Colômbia), 18 abr (EFE).- Macondo, o lugar mágico e imaginário criado por Gabriel García Márquez, certamente sofreria com a morte do Nobel colombiano, um fato que deixou de luto a cidade de Aracataca, sua terra natal e na qual se inspirou para dar vida a essa cidade mítica.
As ruas desta cidade de cerca de 38 mil habitantes e encravada no curso do rio Magdalena, no norte da Colômbia, que normalmente permanecem vazias, estão desde ontem cheias de locais e estranhos que querem visitar os lugares nos quais viveu o autor de “Cem anos de solidão”, clássico do realismo fantástico.
Quando foi divulgada a notícia do falecimento de “Gabo”, aos 87 anos na Cidade do México, Aracataca se encheu de tristeza, os sinos da igreja de São José, onde foi batizado, tocaram em sinal de luto para avisar sobre a notícia e a Prefeitura decretou cinco dias de luto.
Gabriel García Márquez nasceu em 6 de março de 1927 em Aracataca, cidade onde seu pai, Gabriel Eligio García Martínez, tinha chegado três anos antes para trabalhar como telegrafista e onde conheceu quem seria sua esposa e mãe de seus 11 filhos, Luisa Santiaga Márquez Iguarán.
O jovem “Gabo” viveu até os dez anos com seus avôs em uma casa grande na cidade, hoje transformada em museu, local visitado por pessoas para lembrar passagens dos livros que o Nobel escreveu com um prosa mágica sem igual.
No portão, onde foram colocadas fitas roxas em sinal de luto de com a frase “Aracataca, terra do realismo fantástico” e com as datas “1927-2014”, ao lado de quatro bandeiras, uma coroa de flores amarelas e um retrato em branco e preto do autor, várias pessoas passaram para ver algo que marcou a vida do filho ilustre da cidade.
“‘Cem anos de solidão’ foi um marco na história de todos os habitantes, nos marcou como uma referência em nível universal e por isso nos sentimos muito orgulhosos da obra de García Márquez”, explicou à Agência Efe o professor de literatura Robinson Mulford, defensor da teoria “garciamarquiana”.
Há também os que em voz baixa o criticam por não ter feito mais do ponto de vista material por seu povo, mas o professor Mulford opina que é preciso ver o Nobel do ponto de vista intelectual, pelo legado que deixa para o mundo.
“Esse pluma magistral de García Márquez não voltará a ser repetida porque com os brilhos mágicos da arte transformou a imagem da Colômbia no mundo e hoje nos veem de uma maneira diferente, nos respeitam”, afirmou o professor de literatura.
Após assinalar que García Márquez, com sua obra maravilhosa que valeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1982 “limpou a imagem de um país que está sangrando pouco a pouco”, Mulford insistiu na admiração que é preciso ter.
“Temos que estar orgulhosos de que Gabo nunca negou sua terra”, diz, reafirmando em um verso que está pintado em um muro na entrada da cidade segundo o qual o Nobel compreendeu que “entre a nostalgia e a realidade estava a matéria-prima de sua obra”.
Das viagens que García Márquez fez à cidade depois que sua família se mudou de Aracataca, duas foram fundamentais em sua vida e obra.
A primeiro foi no início de março de 1952 com sua mãe para vender a casa dos avós, viagem que se transformou para ele em um retorno a suas origens familiares, que plasmaria depois de forma magistral como ficção em sua obra.
A outra, que foi a última, fez em 30 de maio de 2007, após 25 anos de ausência, a bordo do “trem amarelo” que aparece em suas obras e que oito décadas antes percorria a zona do norte da Colômbia em tempos de esplendor.
Foi uma viagem para comemorar seus 80 anos de idade, os 40 de “Cem anos de solidão” e os 25 do Nobel.
Nessa ocasião Gabo foi acompanhado por sua esposa, Mercedes Barcha, e vários familiares e amigos, entre eles o célebre compositor de música Rafael Escalona (1927-2009).
No portão da casa-museu alguns de seus compatriotas penduraram hoje fotos com Gabo dessa viagem, ao lado de um cartaz de despedida no qual estava escrito à mão: “Gabo, você se foi mas deixou um legado grande; no mundo inteiro com tua inteligência conhecida em suas obras literárias ao Macondo das borboletas amarelas que representam sua cidade natal”.
Os habitantes agora esperam que a cidade que por muitos anos permaneceu no esquecimento dos governos regionais e nacionais ganhe um novo ar e possam sair da pobreza e do anonimato em que estive, somente quebrado por ser a terra que viu nascer García Márquez. EFE
ric/ff
(foto)


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