
Comemoramos nesse dia 08 o Dia Internacional da Mulher, e em homenagem a todas elas, faço o presente artigo.
A vida é um grande ato de teimosia e a mente é o portal para que o homem atinja a sua real dimensão cósmica. O caminho é longo e o aprendizado difícil, mas o homem vem resistindo ao longo dos séculos. Ultimamente, tenho meditado sobre a aventura humana na Terra, a angustiante era de incertezas e contradições em que vivemos e, a cada dia, fica mais claro aos meus olhos, que o tema central da vida é o amor e o desamor. A violência, a injustiça, a fome, as guerras, são diferentes faces ou os vários sinônimos da palavra desamor no mundo.
E neste tema central, evidentemente está a mulher, aquela que dá, recebe e irradia o amor.
Muitas vezes ouve-se, no usual tom jocoso, a pergunta sobre por que não haveria o dia internacional do homem. Deixemos claro: os homens são companheiros de jornada da vida, estimados e respeitados, nos múltiplos papéis que desempenham na vida.
O tema é como as mulheres, sendo a alteridade fundante, foram, por tanto tempo — e ainda são, em determinados locais — suprimidas de direitos e reduzidas à vontade que se colocava como hegemônica. Alteridade fundante, porque desde a percepção que tem o bebê que é um ser dissociado da mãe, ao impacto do homem que se descobre no olhar da mulher que ama, o que ocorre é a possibilidade de reconhecimento mútuo do ser. No caso do bebê, descoberta da existência de um mundo que não se reduz a ele, é vasto e amplo, para sempre por descobrir. Na relação homem-mulher, a oposição na lógica de complementaridade, lição básica de como se pode construir no diverso.
Todo outro é lição de limite e possibilidade, desafia quem se é, impõe muros e abre horizontes. Tão mais cômodo imaginar quem apenas ecoa o que somos, concordância permanente no mundo em conflito. Sobretudo se é quem tenha disposição de aceitar e submeter-se aos desígnios que temos, pois vivemos com o arroubo de criador soberano. Na oposição alimentada pela lógica da eliminação, quem não se rende ao desejo que temos torna-se vítima da busca de eliminação, seja como for. São muitos os graus que se pode atingir na lógica de eliminação do diverso: da puxada de tapete ao atentado terrorista, da chantagem ao assassinato. Ao final, a constatação: não concordava comigo. No clássico O Colecionador, filme que traz a tensão construída na simultaneidade de brutalidade e delicadeza, fica evidente como o desejo de dominar o outro absolutamente, ainda que usando o nome do amor, pode tornar-se obsessivo, a ponto de explicitar o que a capacidade de planejamento pode gerar de pior.
Borboleta ou mulher, tudo pode ser preso na vitrine. Mulher como objeto é o tema antigo, que o feminismo escancarou em debates. Da que é prisioneira do homem que oferece benesses, pedindo que, em troca, sirva de ornamento (o que se dirá que não existe mais, mesmo quando se tem um caso ali ao lado), à que é capa e outdoor da revista erótica, o assunto se mantém, cada vez mais ambíguo, pela indefinição de valores éticos, sobrepujados pela lógica do mercado que a tudo devora. Da perda do argumento da ‘‘defesa da honra’’ nos tribunais, à violência doméstica que permanece, a mulher ainda é vítima de arroubos masculinos provocados pela frustração de ter pela frente quem é capaz de conduzir a própria vida. As portadoras do vírus HIV, contraído do marido ou companheiro a quem tinham por fiel, as encarceradas que se envolveram com o crime a pedido do homem que amavam, ausentes quando chega a condenação.
Alteridade desdobrada muitas vezes em rostos e cores, em culturas e credos, a mulher negra, a mulher indígena, a mulher asiática, a mulher europeia, a mulher americana, todas multiplicadas em muitas, como a mulher semita — árabes muçulmanas, árabes cristãs, judias sefarditas, judias ashekanizis, ou as que se descobrem laicas ou sem credo. Ironia ou imprevisibilidade, da jocosidade dos homens houve os que tiraram a oportunidade de ser objeto que se expõe na intimidade 24 x 7 da tevê. Ou, incomparavelmente mais desastroso, os que ensinaram às mulheres a lição do suicídio terrorista. De que igualdade falávamos historicamente? Que a semana seja de reflexão para todos, colaborando na avaliação dos avanços e identificação das possibilidades e pautas que cooperem para a plena observância dos direitos das mulheres. Parabéns a todas as mulheres.