Mureru: a beleza da planta aquática e o desafio dos amazônidas – por Moisés Maciel da Costa

Foto: Divulgação

Nos vastos rios amazônicos, uma planta aquática chama a atenção por sua exuberância: o Mureru. Sua presença transforma as margens dos rios em verdadeiros tapetes verdes, criando um cenário de rara beleza. No entanto, para os ribeirinhos e pescadores que dependem dos rios para locomoção e sustento, essa planta representa um grande desafio.


O Mureru se multiplica rapidamente, ocupando extensas áreas dos beiradões e dificultando a passagem de barcos e canoas. Suas raízes se enroscam nas hélices dos motores, exigindo habilidade e paciência dos práticos para evitar contratempos. Além disso, as atividades pesqueiras são afetadas, já que a planta impede que redes de pesca sejam estendidas ou que tarrafas sejam lançadas nessas localidades, comprometendo a captura de peixes e impactando diretamente a vida dos ribeirinhos.

Apesar dos obstáculos, o Mureru tem seu valor em algumas comunidades indígenas, como as do Xingu. Com base em conhecimentos tradicionais, essas comunidades desidratam e torram a planta para extrair sal de forma natural. Embora esse não seja seu uso mais comum, há quem consuma o Mureru cozido. No entanto, esse hábito não faz parte da cultura alimentar predominante, e, na maioria das vezes, a planta passa despercebida como alternativa culinária.

A presença do Mureru varia conforme as condições dos rios. Durante o período de seca, a planta desaparece com a redução do nível da água. Em águas correntes, ela é levada pela força da correnteza. Para quem vive próximo a essas áreas, a beleza da vegetação muitas vezes é secundária diante dos desafios diários que ela impõe.

Estive à beira do Rio Negro, na comunidade do Cacau Pireira, pertencente ao município de Iranduba, e notei a vasta presença dessa planta, que ocupava a orla próxima à feira local. Misturava-se entre flutuantes e embarcações. Achei interessante o convívio entre os barqueiros que, com exímia destreza, percorrem entre as ramas flutuantes. A beleza esverdeada cria um cenário à parte, um verdadeiro contraste entre o tom negro do rio e o verde vibrante das plantas.

O Mureru segue como um símbolo da dualidade da natureza amazônica, ao mesmo tempo encantador e desafiador, moldando o cotidiano daqueles que vivem e trabalham às margens dos rios.

Moisés Maciel da Costa é escritor amazonense – Foto: recorte
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