Na corda bamba, Guedes e Bolsonaro apelam ao ‘Centrão’ para governar

Governo Bolsonaro tenta se equilibrar buscando apoio de velhas raposas do Centrão - foto: Terra

“ E enquanto o Executivo perde popularidade, quem cresce é o Centrão – grupo de ‘conhecidos’ parlamentares que reúne partidos como PP, DEM, PR, PRB, MDB e Solidariedade “.


 

Deputados e senadores têm nas mãos o futuro do chefe do Executivo, que precisa garantir uma base de apoio para não perder o posto em um eventual processo de impeachment.

Embora saiba que será necessário ceder às pautas do Centrão, que tende a pressionar por medidas que aumentam gastos públicos, Bolsonaro busca manter por perto o ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda considerado um pilar do governo.

O conflito é inevitável, já que a maior preocupação do chefe da equipe econômica é segurar o máximo possível as perdas após a pandemia do novo coronavírus.

Os posicionamentos divergentes ficaram claros nas últimas votações. Enquanto os holofotes estão nos escândalos da família Bolsonaro e nos números crescentes de casos da covid-19, o Parlamento altera propostas do presidente e, assim, garante mais apoio popular.

“Com indicadores econômicos em queda livre e debandada de ministros, o presidente Jair Bolsonaro buscou ajuda de velhas raposas do Centrão para tentar se equilibrar no governo”.

 

Nos últimos dias, em sessões por videoconferência, Câmara e Senado aprovaram liberação de verbas muito acima dos valores que Guedes propôs.

Só com mudanças no projeto de lei que congela salários de servidores públicos até 31 de dezembro de 2021, a equipe econômica levou um baque de R$ 87 bilhões.

A ampliação do valor foi defendida pelo mais novo aliado do governo, o Centrão, mas, naturalmente, rejeitada pelo ministro. Apesar dos pedidos de Guedes, os parlamentares excluíram 60% da lista de categorias afetadas pelo congelamento.

A economia, que seria de R$ 130 bilhões, caiu para R$ 43 bilhões.

“Pautas-bomba”

O Congresso também permitiu reajustes de até 25% a policiais civis, militares e bombeiros do Distrito Federal neste ano. O custo à União pode chegar a R$ 505 milhões, se o governo realmente aumentar os salários. Mesmo com a preocupação da equipe econômica, que defende que não haja reajustes ao longo dos próximos dois anos, os votos favoráveis foram majoritários. Só 43 deputados e dois senadores foram contra.
A medida ainda não implica gastos, porque o aumento precisa ser aprovado pelo presidente, mas a decisão do Congresso, com um placar folgado, preocupou a equipe econômica, que critica as “pautas-bomba”. Da mesma forma, a sinalização ao ministério foi péssima quando o Congresso aprovou a ampliação do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que custaria R$ 20 bilhões por ano aos cofres públicos da União.

O Supremo Tribunal Federal (STF) barrou a mudança, mas Guedes entendeu a mensagem dos parlamentares e, agora, se preocupa com a possibilidade de que o Congresso aumente o impacto fiscal de outras medidas, como a Medida Provisória (MP) 936, que permite o corte de salários e jornadas de trabalho por três meses, com parte das perdas assumidas pelo governo federal.

O custo é calculado em R$ 51,8 bilhões, mas pode subir muito, caso o Congresso acrescente alguma das 971 emendas apresentadas pelos parlamentares. No texto do Executivo, parte do dinheiro que o empregado deixa de receber é financiada pelo governo, no limite de R$ 1.813. Um dos medos da equipe de Guedes é que o relator aumente o teto para R$ 3.135, como já mencionou que pode fazer. Essa mudança, sozinha, custaria R$ 20 bilhões aos cofres públicos, pelos cálculos de técnicos do governo.

Veto café com leite

Enquanto tenta se equilibrar entre o apoio a medidas do próprio governo e agrados ao Centrão, o presidente Jair Bolsonaro segura a sanção do projeto que prevê o congelamento de salários de funcionários públicos até dezembro de 2021. O ministro da Economia, Paulo Guedes, recomendou que ele vete várias mudanças aprovadas pelos parlamentares que o presidente não quer desagradar.

A proibição de reajustes foi exigida como contrapartida pelo governo para o socorro a estados e municípios, pela transferência direta de R$ 60 bilhões aos governadores e prefeitos. Ao defender aumentar a lista de exceções, o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), escancarou o conflito entre o lado econômico e político, ao dizer que Bolsonaro deu aval às mudanças, mesmo com Guedes contrário a elas. “Sou líder do governo, não de um ministério qualquer”, disse.

Outro indicador para a influência do Centrão no governo poderá ser observado nas próximas semanas pela reação do Congresso diante de outro veto. Bolsonaro barrou a ampliação do auxílio emergencial de R$ 600 para profissionais informais que não estão inscritos no Cadastro Único, como motorista de aplicativos, vendedores porta a porta e ambulantes de praia.

Vetos de Bolsonaro

Os parlamentares podem rejeitar o veto e acrescentar novamente as categorias. Nas duas situações, Bolsonaro cogita vetar e, depois, deixar para que o Congresso decida se derruba ou não o veto, para não se desgastar com nenhum dos lados. No momento, há uma espécie de “acordo tácito”, explica o analista Creomar de Souza, da consultoria de risco político Dharma.

“O grupo do Centrão mexe em algumas das escolhas dentro do cotidiano das votações. O presidente, do outro lado, veta para ficar bem com a base. Mas volta e o Congresso derruba”, explica. “O Centrão, tradicionalmente, troca apoio por fatias de decisões relacionadas a políticas públicas, e o ministério da Economia é muito importante nessa lógica”, acrescenta. A dúvida, segundo ele, é até que ponto o presidente consegue sustentar essa relação.

 

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