Naufragou o plano original das elites no Brasil

A elite já percebe o erro cometido e a rejeição ao bolsonarismo é apenas um sintoma de um sentimento crescente – foto: Veja

A guerra que atrai a atenção do Pais não é somente uma disputa entre dois ministros do STF e a Lava Jato. Forças poderosas se movimentam e podem decidir o futuro do Brasil. Por enquanto, a esquerda somente assiste, sem decidir se assume ou não uma posição.


O golpe de 2016 deu muito errado, principalmente para a maior parte das elites brasileiras que o apoiaram ou participaram da articulação, para desestabilizar a democracia no Brasil.

Por preconceito político, fundamentalismo econômico ou simples ignorância, boa parte da elite nacional, composta por empresários, funcionários públicos de alta remuneração, latifundiários do agronegócio, militares, políticos de centro e da direita racional, acreditavam que seria bom para o país remover a “esquerda” do poder.

Com isso se aliaram aos obscuros grupos da Lavajato e, até mesmo, a organizações criminosas, como a que é liderada por Eduardo Cunha, para remover Dilma Rousseff do poder.
Empresários com parca capacidade de compreensão estratégica da realidade, como os donos da Riachuelo, Havan ou Zema, estavam certos de que ao apoiar o golpe e o furioso ataque aos direitos dos trabalhadores, eles iriam ganhar mais dinheiro.

Como se vê, foi um tiro no pé, pois a perda dos direitos provocou, como efeito colateral, a destruição do mercado interno, consequentemente o consumo caiu assustadoramente e a maioria dos empresários que apoiaram o golpe lamenta dolorosos prejuízos.

Os latifundiários do agronegócio também lastimam a perda de bilionários negócios e as ameaças de que o futuro promete ser ainda mais impiedoso, por causa dos desnecessários conflitos provocados pelo atual governo com os maiores parceiros comerciais do país, como a China e a Comunidade Islâmica.

Os militares da ativa mais preparados inquietam-se com a extinção da base industrial de defesa e tecnologia; a paralização de projetos estratégicos (como o míssil antirradar MAR-1, o projeto VANT e o plano de construção de corvetas de projeto nacional); a desnacionalização de ativos importantes (como a base de Alcântara, a Embraer e a Mectron); a abertura das fronteiras nacionais para a atuação de tropas estrangeiras (principalmente na Amazônia, que nunca antes havia sido permitido); assim como com a ameaça à quebra da hierarquia nas três forças.

Os políticos de centro e da direita racional se viram alijados do seu espaço de poder no decorrer do processo e muitos deles se apavoram com a possibilidade de se tornarem alvo da Lavajato (vários já são).

O verdadeiro poder econômico – grupo no qual não estão incluídos Riachuelo, Havan, Zema e outros – se preocupa com a queda vertiginosa da atividade econômica. A participação do Brasil no PIB mundial caiu ao nível de 38 anos atrás.

O Golpe gerou prejuízos em dinheiro e poder

A elite está perdendo poder e dinheiro (o que para eles é mais importante). Embora preconceituosos e, muitas vezes, fundamentalistas, os principais cérebros da elite brasileira não são loucos a ponto de queimarem dinheiro.

Essa parte da elite já percebe o erro cometido e a rejeição ao bolsonarismo é apenas um sintoma de um sentimento crescente em amplos setores do condomínio do golpe.

A movimentação de Toffoli e Moraes contra a Lavajato é um sinal do desconforto das elites contra o núcleo duro do grupo golpista, que acabou se instalando no poder, alijando os setores mais racionais.

Toffoli nem Moraes atuam sem cobertura de forças poderosas

Sempre é bom lembrar que a primeira atitude de Toffoli, um ministro que se notabiliza por demostrar imensa covardia, foi nomear um general do exército como seu principal assessor.

O ministro não faz nada sem consultar os generais e já houve ocasiões em que tomou decisões instado pelos comandantes militares, como quando impediu Lula de conceder entrevistas durante a campanha eleitoral.

Moraes, por sua vez, é uma figura alinhada com o alto comando do tucanato paulista, que inclui a FIESP e os grandes bancos. Esse grupo tem relações íntimas com as polícias de São Paulo. O ministro careca não foi colocado no STF por seus conhecimentos jurídicos ou devido à uma biografia ilustrada. Ele está ali cumprindo uma missão.

Chama a atenção, também, o estranho silêncio de Gilmar Mendes, um dos ministros mais prolíficos. Como se sabe, Toffoli é tutelado por Gilmar.

As elites se distanciam do governo e Bolsonaro só não é problema para os Estados Unidos – foto: Vila de Utopia

Apesar da mídia tradicional – toda ela alinhada ou chantageada pela Lavajato – sugerir que há críticas internas no STF ao ataque de Toffoli e Moraes contra a república de Curitiba”, nenhum ministro se manifestou publicamente sobre o caso, com exceção de Marco Aurélio Mello. Pela sua trajetória oscilante, Mello já demostrou ser um franco atirador, que não participa de grupos no STF ou na sociedade.

Os que são de grupos ou estão sob chantagem, como Fachin e Barroso, nada falaram publicamente sobre o assunto.

Além disso nenhum militar de alta patente criticou publicamente a iniciativa dos dois ministros, para enquadrar a Lavajato.

Críticas também não vieram das lideranças partidárias do centro e da direita racional. No campo político as críticas vieram da extrema direita bolsonarista, alinhada com a Lavajato, e da esquerda, preocupada com a liberdade de imprensa.

Empresários do verdadeiro poder econômico nacional – incluindo os latifundiários do agronegócio – tampouco se pronunciaram sobre a investigação dos ataques ao STF.

Sem Lula como fiador, um acordo é inviável

A guerra, na cobertura da mídia familiar-corporativa, alinhada com a Lavajato, ou chantageada pela “república de Curitiba”, parece restrita a dois ministros do STF e os concurseiros paranaenses. Porém, os sinais indicam que há mais forças poderosas se movimentando no subsolo.

Se a luta fosse restrita somente ao Brasil, é bem possível que pudesse ser vislumbrado o óbito da Lavajato e de seu projeto de implantação de uma república policial no Brasil.

Entretanto, a turma de Curitiba conta com o poderoso respaldo do império. Não foi atoa que Moro levou Bolsonaro para uma visita à CIA – coisa inédita em se tratando de um chefe de estado.

Todos os indícios sugerem que há forças se movimentando além do campo de visão dos simples cidadãos. Amplos setores arrependidos de sua participação no golpe já percebem que é preciso encontrar uma saída, para pacificar o país e deter a sua destruição – que está custando caro para a elite brasileira.

Esses setores fizeram um acordo conspiratório nos ambientes de instituições com a Fundação Mileniun ou a Fiesp, e, agora, percebem que o projeto deu terrivelmente errado.
Há a intenção de recuperar a racionalidade no poder, mas o país somente será pacificado com um novo acordo nacional.

Nenhum acordo, no entanto, será viável e sólido, sem a participação do centro esquerda e da esquerda – ou seja, sem ter Lula como fiador.

Brasil – 247

1 COMENTÁRIO

  1. O fato é que, com o Golpe de 2016, rompeu-se o pacto estabelecido pela Constituição Federal, e com a ruptura democrática, impôs-se a anarquia institucional, levando o país a mergulhar numa crise política e econômica sem precedentes, evidenciando o estado de decadência moral e de infâmia profunda em que acham mergulhadas as instituições republicanas do país, atingindo todos os poderes da nossa incipiente República.

    É assim como se o Brasil tivesse se transformado numa terra sem lei, sem rumo, sem liberdade, sem soberania.

    A verdade é que o Golpe de 2016 fracassou, vale dizer, não rendeu os frutos esperados pelas elites nacionais conservadoras que o perpetraram.

    Bastaram apenas três meses de governo para mostrar que Jair Bolsonaro, o “mito de pés de barro” forjado nas redes sociais como salvador da pátria, na prática, não passa de um político despreparado, fraco, inseguro, vacilão e inconsequente.

    O cenário econômico não é promissor, e Bolsonaro agora passou a ter prazo de validade. E o seu prazo é até a votação da PEC da Previdência. Depois disso, ficará na corda bamba.

    O mercado e a grande mídia já viram que Bolsonaro não tem condição alguma de continuar governando o país. Em editoriais recentes e contundentes, os maiores jornais do país – O Globo, O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo -, fazem duras críticas a Bolsonaro, e dão o tom do que sucederá ao presidente se a reforma da Previdência não passar.

    Os que apoiaram a prisão política de Lula e financiaram as mentiras que levaram o capitão fascista ao poder, já começam a se decepcionar com o “mito” e perceber que seu apoio incondicional a Bolsonaro foi um grande equívoco, e que é preciso agora articular uma “saída” para consertar esse grave erro histórico, a fim de evitar que o país (sobretudo a economia) , mergulhe completamente no caos para onde parece caminhar.

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