No fim do fim do mundo – Por Paulo Figueiredo

Advogado Paulo Figueiredo (AM)

“Vem aí outra megadelação” é a manchete de capa da revista Veja, que circula neste fim de semana. Trata de uma nova leva de delações de executivos da Camargo Corrêa, já em negociação com a Procuradoria-Geral da República, na esteira do que fez a Odebrecht.
Com informações preliminares, há quem diga que não ficará pedra sobre pedra, com o envolvimento direto de mais de 200 políticos,  com e sem mandato, dentre senadores, deputados e ex-governadores. Surgem nomes de figuras importantes do governo de Michel Temer, a partir do próprio presidente, citado em situações no mínimo desconfortáveis.


Segundo a publicação, em suas novas delações, a “Camargo Corrêa promete até exumar o cadáver da Operação Castelo de Areia, que tinha a construtora no centro do escândalo – uma engrenagem que envolvia corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro – e que foi abortada pela Justiça. Quando isso ocorreu, porém, já se sabia que Temer aparecia 21 vezes nas planilhas, ao lado de outros figurões da República, como os ministros Gilberto Kassab (PSD) e Mendonça Filho (DEM) e os senadores Renan Calheiros (PMDB) e Romero Jucá (PMDB)”. Acresc enta a revista que a “superdelação também trará novos problemas para Antônio Palocci, principal interlocutor da empreiteira nas gestões do PT”, para concluir que se “Brasília já não dormia pela expectativa da delação da Odebrecht, apelidada de ‘fim do mundo’, o clima vai ficar ainda mais tenso: o mundo pode acabar duas vezes”.

Advogado Paulo Figueiredo (AM)

Bem mais grave é que os depoimentos em colaborações premiadas, além de apanhar expressões de políticos com atuação relevante no plano federal, extrapolam a caminho dos estados da Federação, com a incriminação direta de ex-governadores e de agentes públicos imbrincados em tramoias locais. A Camargo Corrêa contratou e realizou obras de vulto pelo Brasil afora, com a movimentação de alguns bilhões de reais, em cima de fatos que certamente comporão as novas delações de seus diretores e empregados implicados nas negociações escusas.

Para quem não se lembra, a Camargo Corrêa foi a empreiteira contratada para a construção da ponte sobre o rio Negro, que consumiu um orçamento de mais de um bilhão de reais dos cofres públicos, custeados por empréstimos que serão pagos pelas atuais e futuras gerações de contribuintes  amazonenses. Teve-se na época uma obra bastante questionada, porquanto não prioritária, que drenou grande volume de recursos que poderiam ter sido aplicados na solução de muitas carências do Estado, nas áreas da saúde, educação, saneamento básico, seguran&cce dil;a e mobilidade urbana.

Recordo que escrevi vários artigos publicados na imprensa contra o projeto, assim como o fiz em relação à Arena da Amazônia, um gigantesco elefante branco, imagem eloquente do desperdício de recursos públicos. Na ocasião, com base em informações técnicas e financeiras, demonstrei que, com cerca de 50% do que se gastou na edificação da ponte, se poderia ter construído um corredor elevado do velho porto ao aeroporto de Manaus. Uma grande linha verde,  a ser erigida sobre a Epaminondas e a Constantino Nery, com entradas e saídas laterais, no sentido de vários bairros, que desafogari a o trânsito, sobremodo no sentido norte-sul e vice-versa.

Como sempre, fizeram ouvidos de mercador. Preferiram a ponte, que “liga nada a coisa nenhuma”, como dizia o sempre lembrado governador Gilberto Mestrinho, fundados em interesses nem sempre confessáveis. Agora, no fim do fim do mundo, vê-se que a Operação Lava-Jato aproxima-se perigosamente do Amazonas, até que enfim.(Paulo Figueiredo é Advogado, Escritor e Comentarista Político –  [email protected])

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