Noiva da etnia Tikuna dá à luz e casamento é feito em casa

Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai até a montanha. O ditado popular pode ser clichê, mas representa o que casais indígenas do município de Benjamin Constant viveram nessa quarta-feira (12). Dois casamentos civis foram celebrados na casa dos noivos, na comunidade Porto Alegre, por causa da impossibilidade das mulheres se deslocarem para uma das cerimônias do casamento coletivo que acontecem na cidade a 1.118 km de Manaus.


Jane Lázaro Inácio Ticuna, de 21 anos, deu à luz seu terceiro filho quando faltavam sete horas para o início da celebração em que estava previsto o casamento dela com Admilson Bibiano Pedro, 22, na comunidade Feijoal, localizada a 15 minutos de lancha do local onde vivem e a cerca de uma hora da sede do município. “Eu mandei recado e o cacique avisou”, contou Admilson, que ficou preocupado com a chance de não oficializar o matrimônio.

Uma equipe da Defensoria Pública do Estado (DPE-AM), que organiza o casamento coletivo em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e outros órgãos, foi para a casa dos noivos junto com a juíza Luiziana Teles Feitosa Anacleto. Com a ajuda de um intérprete da etnia Tikuna, o casamento aconteceu no quarto dos noivos, onde o filho mais novo do casal, ainda sem nome, havia nascido horas antes.

Durante a cerimônia, Jane, que se recuperava do parto, permaneceu sentada no chão. Admilson vestiu um terno e permaneceu ao lado da noiva rodeada pelos outros dois filhos.

Diabética que amputou a perna também casou

Luiza Gaspar Ferreira, 66, é diabética e teve que amputar o pé direito há uma semana, após uma ferida não se cicatrizar. Ela e Armando Santo Guedes, 63, se casaram na própria residência, na comunidade Porto Alegre, também diante da dificuldade da noiva se deslocar para o casamento coletivo na comunidade Feijoal.

Luiza Gaspar Ferreira e Armando Santo Guedes – Foto: Divulgação

Com a ajuda do intérprete Tikuna, Armando contou que o casal pretendia realizar o casamento civil para garantir direitos previdenciários na eventual morte de um dos noivos, considerando a idade dos dois.

“Percebemos que os indígenas querem muito além do direito de oficializar um matrimônio e ter em mãos uma certidão de casamento. De forma eficiente, eles estão chamando a atenção do Estado para acessar outros direitos”, disse o defensor público geral do Amazonas, Rafael Barbosa. “Está claro que estão articulados e conscientes na luta por sobrevivência e para preservação da sua cultura. No que depender da Defensoria, terão apoio irrestrito”.

Defensoria Itinerante

Pelo segundo dia consecutivo, a Defensoria Pública do Estado (DPE/AM) realizou atendimentos nas próprias comunidades indígenas, em paralelo à realização dos casamentos coletivos. Em Filadélfia, que faz parte do município de Benjamin Constant, foram 67 atendimentos feitos pelo Polo do Alto Solimões. Já em Feijoal, os atendimentos passaram de 100. Pedidos por ações previdenciárias e registro civil estão entre as principais demandas.

Artigo anteriorSeduc-AM convoca aprovados no Processo Seletivo Simplificado
Próximo artigoTrechos críticos da rodovia AM-070 passam por recuperação

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui