Nós e eles

Luiz Lauschner Escritor e empresário

A linguagem preferida dos belicosos parece ter seus dias contados, pelo menos esta é a esperança. No Brasil, o uso assumido da diferença de tratamento começou com a campanha para o governo Collor com sua “caçada aos marajás”. Lula estimulou essa “separação” com muita ênfase. Extrapolou até as fronteiras quando disse que a crise de 2008 fora provocada por gente de olhos azuis. Na nossa querida pátria amada dizer que “é coisa de nego” vale processo por racismo, cadeia y otras cositas más. Porém, como disse uma ex-ministra, racismo é uma estrada de uma via só. Mas, tudo isso são bobagens e devemos parar de dividir o Brasil entre “nós e eles”.


Ninguém sabia ao certo quem eram os “marajás” que Collor se propunha a caçar. Podiam ser políticos tidos como corruptos, empresários exploradores do suor e do sangue dos empregados, chefes com mordomias de escritórios e salários maiores que os trabalhadores de chão de fábrica ou qualquer um que trabalhasse na sombra enquanto os trabalhadores da lavoura sofriam ao sol. Assim também não se consegue definir quem somos nós e quem são eles, uma vez que dentro de uma mesma família esse discurso provoca cizânia.

Toda luta por direitos iguais deve ser respeitada, mesmo porque a história não muito distante registrou apartheid, nazismo, fascismo e inúmeras guerras étnicas de brancos e negros entre si. Muitas delas ainda em andamento. Guerras por motivos religiosos também são frequentes. Contudo, quando um governo eleito para todos estimula as diferenças que poderiam ser positivamente exploradas, está mostrando imaturidade. Se o governo negro da África do Sul tivesse partido para a vingança contra os brancos, nenhum jurista poderia dizer que não havia motivos históricos que a justificassem. Mas, num gesto de grandeza, que deveria servir de exemplo a todos, resolveu enterrar as diferenças e partir para o desenvolvimento do país sem ódios. Grandes estadistas como Nelson Mandela são de semeadura rara, mas existem e fazem a diferença no mundo.

O negro Pelé, que sempre teve mais habilidade com os pés que com a língua, disse certa vez que o povo brasileiro não sabia votar. Em plena ditadura, um negro discriminado auxiliava a discriminar, mesmo que não intencionalmente. A rigor, nenhum povo aprenderá a votar se não aprender com os erros e frustrações.

Infelizmente, nosso querido Brasil está às voltas com afirmações que não ajudam a unir o país. Não falemos apenas de ricos e pobres, letrados e analfabetos, negros e brancos, trabalhadores que empregam e trabalhadores empregados, mas também das intolerâncias religiosas. Se não houver respeito, sempre estaremos rotulando pessoas como sendo “eles”. Se não nos conscientizarmos que para sermos uma grande nação precisamos usar a abrangência do “nós”, ficaremos patinando na lama das diferenças e progrediremos muito lentamente.

É muito bonito que cada um dos que compõe a nação brasileira tenha conhecimento de suas origens, as cultue em todos os sentidos, desde que esse culto não inclua a discriminação dos que não parte deste grupo. O bairrismo, o etnocentrismo descamba no racismo estúpido, inútil e pernicioso. Jamais pode ser estimulado, mesmo que sutilmente.

As culturas são diferentes, as cores são diferentes, as posses são diferentes, os sons e os tons são diferentes. Se não houvesse diferenças não poderia haver pintura, nem música, nem beleza, nem harmonia. Os diferentes não podem ser desiguais.

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