O carnaval acabou? – por Carlos Santiago

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado

É uma outra norma. Na verdade, uma anormalidade, dias sem regras ou leis, com um outro rei gordo e uma rainha escolhidos pelo samba. É carnaval, Dionísio comanda. O bandido veste roupa de autoridade e a autoridade dança com a máscara de bandido. A mocinha de família é mulher de vida aberta sem pudor, e a mulher da zona é mocinha indefesa. No carnaval, bandidos e heróis se abraçam!


Pode até ser considerado uma fuga das amarras sociais para resistir e viver em sociedade, uma válvula de escape das tensões do cotidiano, um momento de revelação dos cinismos e das farsas das convenções fictícias da humanidade. É carnaval, nesse rito de passagem, o político usa a fantasia de palhaço e o humorista veste terno e paletó.

O trabalhador assalariado se transforma num patrão, o empresário pula com roupas de mendigo. O religioso bota chapéu com chifres na cabeça, o ateu carrega a bíblia com vestimenta clerical. O político ladrão é homenageado na avenida do samba. Os machos usam roupas de mulheres e as senhoras da alta sociedade gritam com sainhas de ninfetas. É carnaval, e nele não há hierarquia, cada um com sua fantasia, literalmente!

Os pobres saem das vielas e são aplaudidos, os ricos circulam em lugares simples. Escolas de samba desfilam nas avenidas cantando histórias como teatros volantes, com fantasias, com encenações das coisas possíveis e das impossíveis. Nas esquinas, as bandas são movidas por pessoas bêbadas, com rostos de alegria eterna. É carnaval, beijos, liberdade e amores!

Mas, depois de três dias, a música é outra. Os pobres retornam para as vielas, as escolas de samba e as bandas são recolhidas. As fantasias, os adornos e máscaras causam estranheza nas ruas. O Rei Momo e a Rainha somem. Volta-se à hierarquia e à padronização. Os governantes assumem os holofotes. A “moral, o pudor e os bons costumes”, ditam as regras. O carnaval acabou?

Sim. A festa acabou. Porém, as “máscaras” e as “fantasias” agora são outras. Corruptos usam máscaras sociais de homem bom e defensor da coletividade; homem infiel é um exemplo de pai de família; o religioso pedófilo é o anjinho da denominação religiosa; o homem da justiça campeão dos supersalários bebe uma cervejinha com os humildes num bar; o policial amigo de facção volta a defender o armamento da população.

E algumas marchinhas de carnaval continuam fazendo sucesso antes, durante e depois da folia, como aquela que diz que “o cordão dos puxa-saco cada vez aumenta mais” ou a que cita que “não existe pecado do lado de baixo do Equador, vamos fazer um pecado, rasgado, suado a todo vapor”.

Assim, o Brasil vai caminhando, cantando e ditando o seu ritmo político, social, econômico e cultural. Então, quem não tem uma máscara social e uma fantasia que lance a primeira pedra.

Carlos Santiago é Sociólogo, Cientista Político e Advogado

Artigo anterior‘Foi preciso sair do controle do governo do Estado para melhorar a saúde em Lábrea’, confirma Wilker Barreto
Próximo artigoCasal fica gravemente ferido após roda de moto travar na Cachoeirinha

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui