O desafio de viver ‘Bonates’, o papel principal do ‘Glorioso’

No Glorioso, a alegria de viver Bonates/Foto: Divulgação

No Glorioso, a alegria de viver Bonates/Foto: Divulgação


Faltando poucos dias para que o espetáculo “Glorioso – Um Desejo de Natal” tome conta do Largo de São Sebastião e do Teatro Amazonas, na noite de 25, a expectativa e o ritmo dos ensaios se intensifica em maratonas de cinco horas diárias em diversos pontos da cidade.

O objetivo é afinar um exército de quatro mil artistas locais, envolvidos diretamente no evento promovido pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura.

Mas para o pequeno grupo de quatro pessoas que irá interpretar, simultaneamente, em cada um dos palcos a personagem principal do espetáculo, o narrador e guardião do Teatro Amazonas no enredo, o misterioso e simpático Bonates, a preparação começou bem antes. Ainda quando eles participaram – e venceram – um verdadeiro reality show, no qual competiram com 250 atores, cantores e bailarinos. Desde setembro eles vêm fazendo audições e sendo avaliados pelos produtores amazonenses e norte-americanos responsáveis pela seleção do elenco.

Para o ator, diretor, acadêmico de Teatro da Universidade do Estado do Amazonas e veterano nos shows natalinos – com quatro apresentações no currículo -, Paulo Queiroz, viver Bonates representa um grande desafio, uma vez que além da atuação propriamente dita, os selecionados terão que dançar em algumas partes do show e cantar, inclusive em inglês.

Paulo irá atuar no Palco A – maior e principal local do evento, montado ao lado do Teatro Amazonas, na rua José Clemente. “Para quem faz e ama teatro não tem personagem preferido. Mas o Bonates é para colocar no currículo e ficar lisonjeado, até porque também fomos escolhidos por profissionais internacionais que desenvolvem trabalhos em todo mundo, inclusive para a Disney”, disse o ator, que ficou marcado por sua interpretação como Rei Herodes nos autos de Natal de 2010 e 2011.

No Palco B, que ficará de frente para a praça São Sebastião, o também ator e estudante de Canto no Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro em Manaus, Victor Kaleb, afirma que apesar da experiência de quase uma década nos palcos, há muitas diferenças cenográficas entre atuar para uma pequena plateia e para um grande publico. E isso exige uma preparação especial e diferenciada, afinal o público deve superar a marca dos 107 mil espectadores do ano passado.

“Desde o gestual, postura da voz, maquiagem e até mesmo a construção um pouco mais exagerada da personagem são detalhes que fazem e fizeram toda a diferença nas audições e na disputa por esta vaga. E que no dia da apresentação o público, mesmo aquelas pessoas sentadas mais distantes, irão perceber a diferença”, explica Kaleb.

Novas experiências

Buscando ampliar ainda mais suas perspectivas principalmente como diretor de teatro, carreira a qual pretende se dedicar com mais afinco nos próximos meses, o ator Tércio Silva, que interpretará o Bonates do Palco D (instalado na avenida Eduardo Ribeiro), afirma que a troca de experiências e o aprendizado adquirido não apenas para ele, mas também para toda a classe artística do Estado, é um dos grandes legados deixados pelo projeto do Governo do Estado para a cultura amazonense.

“Glorioso é um espetáculo que terá quatro palcos simultâneos. Em cada um deles, uma série de músicos, bailarinos e a mesma história contada por Bonates para cinco crianças, em um total de quatro mil artistas, em sua imensa maioria nascidos ou que se formaram na nossa terra. Que outro lugar do País se produz hoje em dia um evento deste porte, com recursos materiais, humanos e técnicos próprios?”, afirma Tércio, que iniciou seus estudos teatrais aos 12 anos no Cláudio Santoro e em janeiro inicia os preparativos para sua estreia como diretor e produtor com uma peça infantil pela recém fundada Companhia Via Coletiva.

Cantor profissional e integrante do Coral do Amazonas, Fabiano Reinaldo conta que antes mesmo de chegar nas audições para o “Glorioso”, passou por uma difícil seleção interna entre os membros do próprio coral. “Ser selecionado naquele momento, dentre tantas vozes incríveis já foi uma conquista”, relembra, ao destacar que apesar da carreira dedicada ao canto, já estudou e participou de diversos workshops teatrais.

Além da trajetória de trabalho e sucesso que os colocou no principal posto de um dos maiores espetáculos da temporada natalina no País, os quatro artistas deixaram um recado em comum para o público. “No final do show, Bonates será uma das maiores surpresas de todo o espetáculo, aguardem!”.

A caçulinha Duda

“Glorioso – Um Desejo de Natal” conta a história de cinco crianças – Thiago, Mariana, Juliana, Diego e Ceci – que durante a visita ao Teatro Amazonas conhecem Bonates, que lhes mostra o verdadeiro significado da festa. Mas entre as 20 crianças selecionadas (cinco em cada palco), uma vem se destacando pela simpatia e talento apesar da pouca idade. Trata-se de Maria Eduarda de Souza, que interpreta a Ceci no Palco D (instalado na avenida Eduardo Ribeiro), a mais jovem artista do espetáculo, com apenas oito anos de idade.

Ela conta que o gosto pela carreira de atriz começou no início deste ano, quando visitava com a mãe o Centro de Convivência da Família Magdalena Arce Daou (bairro de Santo Antônio) e, por engano, entrou no teatro durante uma apresentação de trecho do musical “Cats”, que era encenado por grupos de estudantes de teatro no local.

“Desde então já sabia que seria uma atriz”, diz a jovem revelação que hoje estuda teatro no próprio centro de convivência e tem na carreira participação em outras duas peças. Sem revelar muitos detalhes de sua “Ceci”, Duda, como ela pede para ser chamada, explica que sua personagem não sabe o que quer ganhar de Natal. “Mas eu sei muito bem. Quero uma Monster High”, sentencia.

O verdadeiro Bonates

A escolha de Jorge de Brito Inglês Bonates como fio condutor e narrador de “Glorioso – Um Desejo de Natal” não foi ao acaso.

É mais uma justa homenagem para alguém que dedicou boa parte de sua vida a cuidar do Teatro Amazonas com amor, entusiasmo total e muito além do que exigia sua função de “auxiliar do teatro”, em um período da história em que o principal patrimônio cultural e histórico do Estado esteve em segundo (ou terceiro) plano nas políticas públicas.

Registros e documentos das décadas de 50 e 60, mostram que Bonates fazia de tudo um pouco. Do conserto das máquinas utilizadas para “aparar capim” nas áreas externas à administração do almoxarifado. Nas poucas horas vagas, relatos da época falam ainda do carinho especial com as crianças que visitavam o local e a quem ele levava pessoalmente para conhecer a plateia e os camarotes.

“Ao lado de outras pessoas, como o ex-diretor Satyro Ramos Barbosa, Jorge Bonates é um dos maiores exemplos de amor e respeito ao Teatro Amazonas e ao que ele representa para todas as gerações deste Estado”, afirmou o secretário de Cultura do Estado, Robério Braga, ao destacar que desde 2002, o Teatro Jorge Bonates, criado e mantido pelo Governo do Estado (avenida Mário Ypiranga Monteiro, bairro de Flores), está de portas abertas e mantem uma extensa programação cultural.

Artigo anteriorSegundo a Veja, Braga é um dos parlamentares que mais atuaram
Próximo artigoSindicatos dos Médicos e SEMSA entram em acordo por fim de greve

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui