O Folclore de Tefé

Professora Raimunda Gil Schaeken
Professora Raimunda Gil Schaeken
Professora Raimunda Gil Schaeken

Falando sobre as lembranças e experiências vividas no folclore tefeense, pensei em ir além, informando a origem do Festival Folclórico, assim como o  histórico das principais danças.

Porém, achei desnecessário, uma vez que todo esse assunto o amigo leitor poderá encontrar no livro: “TEFÉ E A CULTURA AMAZÕNICA”, do escritor tefeense e grande amigo Augusto Cabrolié. Leia-o com carinho e encontrará todos os mínimos detalhes do folclore tefeense.


No seu livro, à página 23, Augusto Cabrolié diz que todo o nosso folclore é originário da cultura indígena. A dança, a música e o teatro surgiram e se desenvolveram com a influência da Igreja Católica através dos padres e religiosas que aqui chegaram, vindos de outros centros mais desenvolvidos.

A dança do índio era de um só ritmo e as cantigas muito repetitivas. Para cada comemoração havia um ritual dirigido pelo pajé.

Com os brancos, vieram as brincadeiras de roda, inicialmente difundidas entre as crianças. Com o passar do tempo, os adultos passaram também a brincar, surgindo aí a dança “Ciranda”, a primeira de origem civilizada a ser implantada em Tefé.

É com muita saudade que recordo o mês de junho na minha querida Tefé, onde realizava-se as chamadas festas caipiras com bandeirinhas coloridas, balões e estrelas, coladas em cordas, presas aos açaizeiros. Em volta das fogueiras, fazia-se adivinhações, quase sempre para saber o nome do rapaz com quem a jovem casaria; era também costume firmar compromissos de padrinhos, madrinhas etc. Tais compromissos eram muito respeitados.

Dançava-se “QUADRILHAS” ao som da sanfona, ouvindo o marcador dizer animadamente: Anavan, anarriê, balancê, doble, cumprimentar, a grande roda, caminho da roça, olha a cobra, lá vem chuva etc. Eram muito engraçados os chamados “Casamentos na Roça”, que terminavam sempre com um animado forró e deliciosas comidas e bebidas típicas. Os grandes marcadores de quadrilha conhecidos na região eram: Sr. Lourenço Lopes e Sra. Adalgiza Rocha, carinhosamente chamada de Santa Havia o Boi Caprichoso do Osvaldo Gouvêa Martins e família. Anos depois, surgiu o Boijitinho do Raimundo Ferreira e família. Era a brincadeira que mais animava a criançada. Via-se animação e colorido, apresentando a real história do “BOI BUMBÁ”, com criativas toadas, evolução do boi, entrada do Pai Francisco que matava o boi porque sua esposa Catirina estava grávida e desejava comer a língua. É obrigado pelo dono do boi a fazê-lo ressurgir. Por isso, chamava o doutor “Quiabo”, Dr. “Pimenta”, e outros mais. Enfim, o boi ressuscitava para a alegria de todos.

Quando os brincantes passavam pelas ruas com o boi, cantavam:
Lá vai meu boijitinho( ou Caprichoso)
Fazendo a terra tremer
Lá vai, lá vai, lá vai, queremos ver

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Ei sol, ei lua, Boijitinho ou (Caprichoso) está na rua. Muita gente já dizia que o Boi …….. .não saia. Boi ……………está na rua, com prazer e alegria.
Ao chegarem às casas, os seis vaqueiros, com muita elegância, pediam licença, aos donos da casa, cantando:
//Eu venho tirar licença, licença venho tirar//
//Eu venho saber de certo se o boi pode vir brincar//

Os vaqueiros voltavam cantando:
//Meu amo, senhor meu amo, resposta venho lhe dar//   //A dona da cada disse que o boi pode vir brincar.//

Desde, então, iniciava a brincadeira propriamente dita.

Além das “Quadrilhas” e “Bumbás” nos divertíamos com a dança do “Barqueiro”e “Imperial”. Os brincantes do Barqueiro, vestidos de marinheiros de branco, com a patente de cada posto, conduziam uma barca enfeitada, iluminada, tendo ao centro a imagem de Nossa Senhora e entravam no salão, cantando:
Vamos todos os barqueiros
A manobra vamos dar:
Não podemos ir à barra,
Enquanto não se manobrar

Viemos todos trabalhando
Para vermos como é,
Que se chega neste porto
Que se anda nestas ruas
Da cidade de Tefé.

Aqui chegamos, somos barqueiros
Que navegamos na linha do mar;
Cantando alegres, com todo o prazer,
Dentro dos nossos corações.

E festejamos o mês de junho,
Com toda satisfação,
Dando viva a Santa Antônio
Viva São Pedro e São João

Durante toda a dança, acompanhada de saxofone, ouvia-se músicas que eram entoadas durante as grandes viagens marítimas dos portugueses na conquista de novas terras.

Os brincantes do “Imperial” vestiam-se com as cores do império português e durante a dança, também  acompanhada por saxofone, faziam variadas evoluções.

No próximo domingo, mais comentários sobre o folclore tefeense, aguarde.

RAIMUNDA GIL SCHAEKEN (Tefeense, professora aposentada, católica praticante, membro efetivo da Associação dos Escritores do Amazonas –
ASSEAM e da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – ALCEAR)

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