O Folclore de Tefé (continuação) – por Raimumda Gil Scheaken

Professora Raimumda Gil Scheaken
Professora Raimumda Gil Scheaken
Professora Raimumda Gil Scheaken

Sobre a nossa “Ciranda”, tive a felicidade de assistir uma exposição feita pelo saudoso Prof. José Silvestre, no Dia dos Escritores, na sede da ASSEAM. Foi, realmente, uma riqueza de conhecimentos passados naquela noite festiva, quando ele, com seu cavaquinho, tipicamente vestido de cirandeiro, tocou as partes principais da verdadeira ciranda. Todos ficaram deslumbrados e emocionados.

O que nos disse o Prof. Silvestre:


Até 1937/1938, os dirigentes das “Cirandas” apresentavam ao povo em geral as seguintes partes: Ciranda (entrada e saída), Mãe Benta, Cupido, Puxa-Roda, Constância, Carão e Viola Encantada; a partir de 1939, até a presente data, em Tefé, em Manaus e em alguns municípios amazonenses interioranos, a “Ciranda” foi acrescida de mais cinco partes, a saber: Seu Manelinho, Seu Honorato, Galo Bonito, Ronda e Despedida, num total de treze partes.

Indumentária: os cavalheiros vestiam calça curta e blusa de mangas compridas, confeccionadas em brim, com abotoaduras nos punhos. Todos portavam um lenço colorido ao pescoço em forma de gravata, cuja cor, de preferência, era branca, verde ou vermelha. As damas, àquela altura, homens vestidos de mulheres, trajavam saias coloridas e blusas de mangas curtas, confeccionadas em chita, ou fazenda similar, sempre as mais baratas do comércio local, tudo em consonância com a escolha unânime dos brincantes.

Ritmo: sem qualquer inovações desnecessárias, o ritmo era variado, maravilhoso e bem coordenado, despertando verdadeiro entusiasmo, não apenas dos brincantes, como também nos espectadores que aplaudiam e vibravam com as apresentações do grupo folclórico.

Coreografia: quase sempre bem ensaiados, os pares da “Ciranda” executavam, com arte e maestria, diferentes coreografias à base de palmas fortes e ritmadas, no que eram acompanhados pelo público presente às apresentações do cordão.

Destaques da “Ciranda”: além dos pares propriamente ditos, a “Ciranda”, nos anos de 1937 a 1957, apresentava os seguintes destaques: Chefe e Sub-chefe, Oficial da Ronda, Soldado,  Padre e Sacristão, Velho e Velha, Carão e Caçador.
O Chefe era o dirigente maior da “Ciranda”, responsável direto pelo sucesso e pelo fracasso do grupo. Na sua ausência, era substituído pelo Sub-chefe, que assumia toda a responsabilidade pelo destino do grupo, até o seu regresso.

O Oficial da Ronda e o Soldado, embora participassem de todas as coreografias do grupo, somente na Ronda e na Viola Encantada eram chamados a demonstrarem seus dotes artísticos.

O Padre e o Sacristão, tal e qual o Oficial da ronda e o Soldado, tinham participação efetiva na Ronda e na Viola Encantada.

O Velho e a Velha só participavam da Ronda, na qual tinham papel importantíssimo.

O Carão e o Caçador participavam apenas da penúltima parte coreográfica, isto é, da morte do Carão. A morte do Carão era a mais bela coreografia da “Ciranda”, um verdadeiro “auto” para ninguém botar defeito.

A “Ciranda” foi trazida para Manaus pelo tefeense Prof. José Silvestre do Nascimento e Souza, com a cooperação de seus conterrâneos Ambrósio Ramos Corrêa e do meu tio Gaudêncio Gil, para a Escola Sólon de Lucena, em junho de 1966.

A semente caiu em terreno fértil, pois, atualmente, mais de trezentas Cirandas desfilam na Capital, em Iranduba, em Autazes e em outros municípios interioranos, destacando-se o Festival de “Cirandas”, em Manacapuru.

O Prof. Silvestre, escrevendo sobre a “Ciranda” no Boletim Informativo “Notícias da Corte do Solimões”, fez o seguinte comentário:

“Nem tudo são flores, pois, a despeito da estima e admiração que suscita no seio da população manauara, a Ciranda, a contar de 1987, acentuando-se nos últimos cinco anos sofreu, para pior, uma drástica transformação na sua coreografia, no ritmo e na indumentária dos brincantes.

Prevalece o nudismo e a desorganização como fatores preponderantes para a obtenção de prêmios e do 1º lugar nos Festivais Folclóricos que, anualmente, se realizam na capital e no interior do Estado”.

RAIMUNDA GIL SCHAEKEN (Tefeense, professora aposentada, católica praticante, membro efetivo da Associação dos Escritores do Amazonas –SSEAM e da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – ALCEAR.)

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