O homem é mesmo fruto do meio? (Por Max Diniz Cruzeiro)

Escritor Max Diniz Cruzeiro(DF)
Escritor Max Diniz Cruzeiro(DF)
Escritor Max Diniz Cruzeiro(DF)

“Havia uma mulher que um dia sonhou em se casar. E quando estava ainda nos seus 17 anos encontrou Alfredo, um jovem escriturário. Ela observou seus traços e ele a perseguiu com os olhos. Ficaram enamorados por um tempo. Alfredo um dia pediu a mão de Luana em casamento e juntos vieram a constituir uma família.

Não havia muito que comemorar. A vida era dura num subúrbio da grande cidade Carioca. O morro naquela época, na década de 1980, era suficientemente ingrato para quem vivia uma vida modesta. A diversão era escassa. E restou a Alfredo prostituir sua boca na bebida.


O salário era baixo. Mal dava para as despesas de casa. Luana não tinha expectativa de crescimento a não ser esperar que o filho nascesse para dele fazer complemento de sua vida.

Alfredo movido pela bebida passava por frequentes cenas de ciúmes. E ao chegar a casa embriagado descia a mão em Luana que quase sempre tinha medo de se defender.

Com o tempo o comodismo e o costume da lida de apanhar de Alfredo escassearam os brilhos dos olhos de Luana, que não via mais glamour no casamento fracassado, mas que se encontrava refém do marido que a agredia como uma tentativa para afirmar sua virilidade de macho alfa que estava por cima dos valores civilizatórios cuja repressão era a maior arma para manter o casamento coeso.

O Filho chegou. Luana então teve então uma razão para projetar sua vida.  Então de bar em bar, noite após noite, Junior viu em sua fase de crescimento a sua mãe apanhar de seu pai.

Quando Junior já possuía 12 anos a agressão migrou de Luana (agredida), para o seu filho. Então desesperada Luana pegou o revolver encontrou-se com o moribundo que roncava sob o efeito da bebida e disparou quatro tiros.

Luana foi a julgamento por crime bárbaro. Sem advogado, dependendo da promotoria para defendê-la por crime tão bárbaro. Luana fora condenada. E Junior passou a viver em um abrigo para abandonados.”

A grande questão que se procura saber é se você condenaria Luana que matou a sangue frio o marido?

Será que o argumento sensato que pelo menos absorveria a consciência de Luana em praticar o crime é que pessoas fazem exatamente o que estão programadas de acordo com sua história egocêntrica de vida? Será que nada é por acaso? Teria Luana já premeditada sua frustação na primeira agressão que sofrerá? Os anos de humilhação justificam a brevidade do pensamento pela reconquista de sua identidade pelo aniquilamento de Alfredo? Luana de fato agiu em coerência operacional em relação ao seu contexto e seu cérebro e isto atenuaria seu delito? A morte de Alfredo é justificada? Você absorveria Luana?

A convivência de Luana com Alfredo não era uma métrica perfeita. Luana havia morrido como pessoa ao ser seguidamente agredida. Mas como seres humanos não podemos cair no “nazismo” de atribuir uma percepção imutável do submundo em que vivia Luana privada pela escassez material e os problemas de agressão que sofria.

Luana teve seus motivos, que para o juiz que se estabelece dentro de um código de conduta cujo respaldo é inibir a barbárie não tinha outra solução a não ser condenar a mulher. Porque pela visão doutrinária do direito os fins não devem justificar o meio. E ao assumir a postura de matar, embora nosso coração justificasse a barbárie, Luana usou dos mesmos mecanismos de tortura que havia anos atrás acabado com sua vida.

O homem é fortemente influenciado pelo meio, porém não é determinante que o comportamento do indivíduo entre em sintonia com as forças que condicionam o meio. Existe um fator subjetivo superior e ancestral capaz de persuadir o indivíduo ao raciocínio paralelo e antagônico em que vive, para compor uma outra história de vida que não acabe como o caso de Luana que perdera ao ser condenada a sua vida pela segunda vez, pois trocou o cárcere domestico para ser presidiária. Métricas de julgamento e valoração afetam de forma incisiva a convivência. Faltou para Luana a possibilidade de ser ela mesma, cuja ausência de abertura de Alfredo a condicionou a ser sua vítima de coerção.

Então para Luana qual deveria ter sido o melhor tipo de intervenção que não chegasse ao absurdo do assassinato? Em momentos da vida de todo ser humano existem e coexistem instantes em que afloram estados de bem-estar, harmonia, equilíbrio, constância, identidade e autonomia. Por mínima que fosse ao caso de Luana, se tivesse despertado para aproveitar os instantes em que Alfredo estivesse vibrando dentro desta sintonia para expor seus estados alterados de consciência, de forma consciente, poderia ser que Luana e Alfredo encaminhassem um novo rumo para suas vidas.

“Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo grau de consciência que o gerou” e “Loucura é continuar fazendo o mesmo e esperar resultados diferentes” Albert Einstein

Einstein já sabia a resposta que Luana deveria ter trilhado em sua vida. Não é o caso de julgar sua atitude. Não é o caso de condenar Alfredo. É o efeito de mostra que as situações podem elevar a dimensões inovadoras pelas quais o ciclo pode gerar uma resposta não funcional-orgânica em que os “nazistas” que pregam que o homem é fruto do meio buscam uma hegemonia em explicar os motivos para a demência, o sofrimento contínuo, o ódio perpétuo entre irmãos e nações, a agonia e o apego à matéria. (Max Diniz Cruzeiro – Neurocientista Clínico – Psicopedagogo Clínico)

NA: Inspirado no Psicólogo Henrique Santana – Integrah

Artigo anteriorO Sindicato dos Policiais Civis aponta sérios problemas nas delegacias
Próximo artigoApós decisão do STF, Renato Duque deve deixar a prisão hoje, quarta-feira(03)

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui