O indefectível Renan – Por Paulo Figueiredo

Advogado Paulo Figueiredo (AM)

Renan não muda. Usa e abusa, é o Renan de sempre. Para manter o mandato, lá atrás, foi obrigado a deixar a presidência do Senado. Entregou os anéis e manteve os dedos. Mas, com os dedos e as mãos largas, continuou pintando e bordando.
Pintou e bordou tanto que caiu de cara na tela da Lava-Jato, envolvido em 8 inquéritos da operação, em curso no Supremo Tribunal Federal. Há outros no mesmo tribunal. Em um deles, já figura como réu, acusado da prática de estelionato. Trata-se de crime de apropriação de dinheiro – desvio de recursos públicos, valor ou qualquer outro bem móvel, de que o servidor público tem a posse em razão do cargo. Nos demais casos, ainda bem mais graves, não deverá escapar.


Advogado Paulo Figueiredo (AM)
Advogado Paulo Figueiredo (AM)

Mas Renan é Renan, o indefectível Renan. Recebeu a informação do recebimento da denúncia pelo Supremo com a maior tranquilidade do mundo. Pior do que tranquilidade, com cinismo. Sem mover um músculo da face, adiantou que somente agora terá condições de provar sua inocência, na qual acredita ou finge acreditar piamente. Com a maior desfaçatez, passa uma borracha no passado e tenta apagar os fatos, como se nada tivesse ocorrido. Mônica Veloso e sua filha, a quem a empreiteira Mendes Junior pagava pensão mensal, notas fiscais falsas, pagamentos com recursos do Senado, negociações suspeitas na co mpra de gado e ‘otras cositas mas’ nunca existiram, jamais ultrapassaram o universo da ficção. Lá sei, uma reação típica de alienados, alguma forma de psicopatia? Por sinal, Brasília anda cheia de tipos de igual jaez, com bastante conforto, alojados na Praça dos Três Poderes e adjacências. Com a palavra, os especialistas.

Ainda bem que o Supremo não entrou nessa – um placar de 8 a 3, com exceção dos conhecidos ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski  e Gilmar Mendes, que votaram em favor de Renan. A propósito, em sessão anterior no Senado, Gilmar Mendes já se mostrava afinadíssimo com o alagoano, ao se opor às posições firmes do juiz Sérgio Moro, presente na reunião.

Renan antes já manobrara para votar e aprovar de cambulhada o projeto oriundo da Câmara, que desfigurou em grande parte as 10 medidas de combate à corrupção apresentadas pelo Ministério Público Federal. Em boa hora foi derrotado e a proposta encaminhada para exame da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, seguindo rito regimental. É claro que não se defende a iniciativa como perfeita e acabada, não sujeita a aprimoramentos ou revisões, pelo simples fato de ter respaldo em mais de 2.000.000 de assinaturas da população brasileira. Nada disso, no projeto há distor&cc edil;ões e equívocos que precisam ser corrigidos, contanto que em situação regular, de normalidade, obedecida a rotina do parlamento, em sentido contrário do que foi feito, em apreciação e votação na calada da madrugada, como disse Moro, em “emendas da meia-noite”.

No mesmo diapasão, com objetivos semelhantes, Renan, sabendo-se às vésperas de um escrutínio pelo STF, não resistiu. Tinha que demonstrar o poder e a força que ainda julgava ter sobre seus pares no Senado. Daria tudo para chancelar imediatamente a decisão da Câmara. Precisava passar um recado à Polícia Federal, aos procuradores e ao juiz da Lava-Jato. Mais ainda, aos seus julgadores do dia seguinte no Supremo. No entanto, para felicidade geral da Nação, o tiro saiu pela culatra. Renan perdeu e entra, já com bastante atraso, numa espécie de caminho de volta, de retorno às origens. Tudo indica que finalmente reencontrará sua exata dimensão de antigo parceiro do ex-presidente Collor, como se mostrava antes de dar o grande salto nessa esquisita República brasileira, que já o acolheu em cargos da mais alta relevância.

Paciência, é o Brasil, o Brasil em estado de coma, mergulhado no mar de lama da corrupção. Um dia o retiraremos da letargia profunda e construiremos uma Nação realmente livre e democrática, vencidas inteiramente as tentações perigosas e malsãs de qualquer ditadura, que me dá nojo. Haveremos de seguir, superadas as profundas chagas herdadas do lulopetismo, de Lula e Dilma, somadas às perplexidades do governo Temer, a indecisão por excelência, a falta de compreensão mínima do momento histórico que o levou à presidência.

Renan Calheiros, agora mais do que nunca, perdeu as mínimas condições de continuar presidindo o Senado. Permanece na função porque o ministro Toffoli – sempre o Toffoli, com pedido de vista, suspendeu o julgamento do processo no Supremo que avaliava a hipótese de um réu ser mantido na linha de substituição do presidente da República. Já havia maioria folgada no colegiado contra tal possibilidade, mas o antigo advogado do PT não hesitou um só segundo em atropelar a manifestação majoritária do tribunal, jogando para as calendas a confirmação da decisão, profe rida em nome da decência e da ética. Vamos ver, até quando?(Paulo Figueiredo é Advogado, Escritor e Comentarista Político – [email protected])

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