“O outro era ele mesmo…” – por Maurício Costa Romão

Maurício Costa Romão, é Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.

Disse o coronel Aureliano Buendía, em “Cem anos de solidão”, que a diferença entre liberais e conservadores em Macondo era a de que os liberais iam à missa das cinco horas e os conservadores iam à missa das sete…


Vivesse no Brasil, diante de partidos tão inorgânicos, o coronel ia repetir algo parecido sobre os rótulos de “esquerda” e “direita” em terras tupiniquins.

Considere-se o conjunto de 10 grandes partidos brasileiros: quatro que se auto-intitulam de esquerda (PT, PSB, PDT e PPS), quatro carimbados de direita (PP, PR, DEM e PTB, os três primeiros componentes do odiado “centrão”) e dois referenciados como de centro (MDB e PSDB).

Na eleição municipal de 2012 (e, com certeza, não teria sido diferente na de 2016) os três “campos”, esquerda, direita e centro, não tiveram nenhum prurido programático e danaram-se a fazer alianças entre eles nos 5.565 municípios brasileiros (PPS com DEM, em 1.226 municípios, PSB com PTB, em 1.439 municípios e por aí vai…).

Destaque-se, à guisa de ênfase argumentativa, o PT, sigla que mais simboliza o campo de esquerda. Só com o PP os petistas fizeram coligação em 1.531 municípios (27,5% do total de municípios), com o PR em 1.402 municípios…

Maurício Costa Romão, é Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos

E o que dizer das alianças do PT com o seu oposto, sua antítese, o centrista e inimigo PSDB? Juntaram-se em 1.104 municípios. E com outro centrista, o hoje “golpista” MDB? Mancomunaram-se em 2.028 municípios.

Em uma crônica escrita em setembro de 1878, intitulada “Coligações”, Machado de Assis disserta sobre a aliança entre dois partidos na comarca de S. Vicente, de cujo texto são extraídas as seguintes passagens:

“Dizem os alemães que duas metades de um cavalo não fazem um cavalo. Por maioria de razão se pode dizer que metade de um cavalo e metade de um camelo não fazem nem um cavalo nem um camelo”.

No caso dos dois partidos, continua Machado: “…ignoro o modo pelo qual as duas metades dos dois programas foram coladas às metades alheias. …O ponto mais obscuro deste negócio é a atitude moral dos dois partidos, a linguagem recíproca, as mútuas recriminações. Cada um deles vê no adversário metade de si próprio. O nariz de Aquiles campeia na cara de Heitor. Bruto é o próprio filho de César. …Nenhum deles podia acusar o outro de se haver ligado a adversários, porque esse mal ou essa virtude estava em ambos; não podia um duvidar da boa-fé, da lealdade, da lisura do outro, porque o outro era ele mesmo, os seus homens, os seus meios, os seus fins”.

A crônica em setembro agora completa 140 anos…

Maurício Costa Romão, é Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.

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