O outro na sociedade virtual: a proximidade nos afasta do real?

O outro na sociedade virtual: a proximidade nos afasta do real?

Você já parou para pensar a respeito da ideia que está presente na expressão: “amar o próximo como a ti mesmo”? Hoje, nossas vidas estão atribuladas e, se não totalmente, estamos praticamente imersos em uma sociedade altamente tecnológica e digital, na qual o meu olhar para o outro é, muitas vezes, o olhar da compaixão virtual, do amor virtual. Quando esse olhar é da empatia pelo amor e a dor do outro, ainda assim também tem sido demonstrado de forma virtual. Assim, temos a impressão que esse mundo virtual é repleto de sentimentos de amor, mas qual a real natureza do amar ao outro como a ti mesmo? O tempo passa, a sociedade se humaniza e também se virtualiza. O mundo mudou? Ou apenas nos distanciamos uns dos outros?


Atualmente, temos meios de comunicação e informação que nos colocam a par de acontecimentos quase de forma imediata e, pelas redes sociais, “eu” me posiciono em relação aos meus pares virtualmente: falo, faço e aconteço. Amo incondicionalmente e viralizo os acontecimentos, com os quais compartilho das mesmas ideias, de uma sociedade virtual perfeita que sai em defesa da opressão, das dores e conclama a união. São pessoas virtuais politizadas e solidárias com todas os acontecimentos desse mundo virtual. Entretanto, cabe questionar qual o nosso papel efetivo e qual o papel dos nossos pares na vida real. Nosso papel nesse mundo “virtual ideal” é de ativistas ou de espectadores que, por vezes, choram ou aplaudem o show virtual. Ao sair desse mundo virtual, nós nos deparamos com o cenário da vida real, o contato com o outro se concretiza naquele abraço anteriormente representado por emoticons, cheios de corações, beijinhos e carinhas fofas. Será que o contato físico terá a mesma força daquele representado por meio de figuras? Será que nós nos relacionamos com este outro, de fato? O que temos feito por este outro?

As Tecnologias Digitais de Comunicação (TDC) encurtam distâncias e podem aproximar as pessoas e, sem dúvidas, resultam em avanços significativos na história da humanidade; porém, é o homem que as controla e determina o que fará com elas. O sociólogo Zygmunt Bauman, em uma entrevista ao jornalista italiano Benedetto Vecchi, destaca o valor do outro por meio de sua identidade, a partir de perspectivas históricas, políticas, socioculturais e psicossociais do outro, de cada ser. Bauman caracteriza a identidade como um sentimento de “pertencimento que um indivíduo ‘outro’, sente, tem ao ser inserido em uma dada comunidade, sob a condição deste indivíduo dotar de características específicas prescritas por essa comunidade, dentre as quais estão: hábitos, comportamentos, valores, sentimentos, ações, ideias, preferências, ascendência, fenótipos”. Por outro lado, essa identidade, “o outro”, pode ser modificada, excluída e até marginalizada pela comunidade que o aceitou num dado momento. Mas, então…

O outro na sociedade virtual: a proximidade nos afasta do real?

Quem é o outro que está nas minhas redes sociais, nas comunidades virtuais e, fisicamente, no meu dia a dia?

Pelo viés da gênese da interculturalidade, o outro precisa ser visto por todos nós a partir do seu contexto social, político e social, com princípios que nos possibilitam repensar nossos conceitos enraizados e, por vezes, arcaicos que constituem um Ser. Ao nos remetermos para dentro das nossas “comunidades” virtuais, que possamos observar a invasão da cultura, mas com o olhar atento e voltado para o outro, e que não se evidencie o que a escritora Ivanilde Apoluceno de Oliveira diz em sua obra Contribuições de Paulo Freire para a Gênese da Interculturalidade no Brasil.

No contexto da invasão cultural encontra-se a cultura do silêncio que é gerada por uma estrutura que oprime, na qual o ‘outro’, o oprimido experiencia a alienação, e ali “permanece” (OLIVEIRA, 2015).

Diante desse contexto, podemos sim lançar um olhar para os outros que estão nas nossas redes sociais e, de forma dialógica e cultural, emanciparmos uns aos outros enquanto sujeitos que fazem parte de um coletivo histórico, político e social. Devemos assumir o papel de sujeitos que conjecturam diante de diferenças, tensões e diversidades culturais para que haja a compreensão, o respeito e a valorização das relações interculturais, com base numa perspectiva de dialogicidade e eticidade emancipadora do ser.

Autoras: Christiane Kaminski e Cristiane Dall’ Agnol da Silva Benvenutti são professoras da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.

Artigo anteriorManobra ilícita do Governo para afastar empresa premiada de licitação
Próximo artigoMoro tem 15 dias para explicar delação de Palocci a seis dias da eleição

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui