Se você sente como se dois fossem um só num abraço apertado. Você está vivo.
Se pode ser surpreendido com arrepio na pele lendo um livro, assistindo um filme ou ouvindo uma música. Você está vivo.
Se olha pros seus filhos, pros seus pais e tem vontade de chorar de amor. Você está vivo.
Por outro lado, também há dores que nos mostram vivos.
Estive esse fim de semana em São Paulo e duas imagens marcaram profundamente meu coração.
Era noite e eu caminhava quando me deparei com uma idosa moradora de rua dormindo sentada.
Não tem como saber a história dessa mulher, mas também não tem como não ter a certeza de que o lugar dela não era ali naquela calçada.
Já a caminho do aeroporto, refletia sobre o perceptível aumento do número de pessoas vivendo nas ruas de São Paulo e, ao olhar para o lado, a imagem de uma família (pai, mãe e duas crianças), colchões, malas e roupas no gramado de uma praça.
Fiquei a imaginar o dia que um pai, depois de tudo fazer, precisa dizer a sua família que não resta outra saída que não seja morar na rua.
Doeu meu coração só de pensar e essa dor me faz sentir vivo.
Vivemos um tempo de indiferenças. Ignoramos a dor do outro. Muitos procuram afastar dos seus olhos a dor alheia e outros até as veem com a mais absoluta indiferença.
Sei que sair da zona de conforto significa incompreensões, julgamentos injustos e que há um sentimento de impotência diante dessas coisas que nos paralisa. Mas é preciso reagir.
Reagir é tomar decisões na nossa vida que signifiquem pequenas mudanças. É o empresário ser justo e honesto nos seus negócios. É o político ser ético, austero e tomar decisões pensando nos mais humildes. É o servidor público dar o melhor de si no seu servir. É o pai e a mãe educarem seus filhos pra fraternidade e pro amor ao próximo. É a igreja transformar a sua fé em ação em prol dos injustiçados.
Assim, o coração que sofre com o amor e lágrima com a injustiça e com a miséria é um coração de quem vive.
Marcelo Ramos, advogado, professor e escritor.
