O resto é silêncio… – por Isabela Abes Casaca

Hamlet,_Shakespeare,_1676_-_0001O resto é silêncio… Com esta frase se encerra a peça teatral shakespearianea A Tragédia de Hamlet, O Príncipe da Dinamarca [1], fazendo-nos lembrar que em algum momento teremos que ficar a sós, em companhia com a silenciosa existência do nosso ser.


E quiçá com um bom merecimento, no âmago, na essência, no íntimo, no centro; no coração do silêncio encontrar alguma inspiração, algum pequeno lampejo, alguma gota de sapiência para nós.

É importante perceber que o silêncio está tão repleto de sabedoria e de espírito em potência como o mármore não talhado é rico em escultura [2]. Porém, o que revela um estudo recente da revista ScienceJust think: The challenges of the disengaged mind, segue justamente na contra mão da premissa anteriormente exposta.

Segundo a pesquisa a maioria das pessoas tem uma imensa dificuldade de ficar a sós consigo mesma, com seus próprios pensamentos, sentimentos e memórias, preferindo até levar pequenos choques do que ficar em silencio por alguns breves minutos.

Cientistas das Universidades da Virgínia e de Harvard fizeram várias experiências dispares a fim de verificar como as pessoas reagiam quando passavam certo tempo sozinhas. Mais de duzentos indivíduos participaram das experiências. Eram eles estudantes universitários e voluntários em geral, com idades entre dezoito e setensa e sete anos, escolhidos em locais diferentes.

Os pesquisadores solicitaram que os voluntários se sentassem sozinhos em um quarto sem enfeitas, sem celular, material para leitura, escrita ou desenho, e depois relatassem como fizeram para permanecer sozinhos com seus pensamentos entre seis e quinze minutos.

O resultado foi que aproximadamente metade dos participantes achou a experiência desagradável. A maioria das pessoas não gostou de ‘só pensar’ e disse que preferiria ter algo para fazer. E diga-se de passagem, uma boa parcela destes indivíduos optou por colocar o dedo num aparelho que emitia choques só para ter algo para passar o tempo.

É uma coisa estranha não? Me faz refletir…

Muitos tem relacionado a revelação desta pesquisa com o contexto social no qual estamos inseridos na atualidade. Vivemos numa sociedade onde estamos conectados com o mundo exterior quase todo o tempo, comunicando, compartilhando, informando, buscando, pesquisando, porém quase sempre falando demais quando não há nada (de essencial) a dizer.

Concordo com estas formulações, contudo também me pergunto o que faz as pessoas procurarem futilidades para passar o tempo e se entreterem? O que faz as pessoas buscarem relações vazias, rápidas e superficiais? O que provaca nas pessoas angústia, vazio e sentimento de solidão quanto se está só, contando apenas com o seu próprio coração? O que faz as pessoas fugirem do silencio? Do que é que estamos carentes?

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Quanto estamos sozinhos, impossibilitados de entreter e distrair a nossa mente, é que o pensamento tem a oportunidade de entrar em um contato mais refinado com os nossos sentimentos. No momento que há esta ligação de pensamento e sentimento é que algumas coisas se revelam, temos uma percepção um pouquinho mais profunda do nosso coração, podemos nos conhecer melhor, avaliar com um pouquinho mais de consciência o nosso ser.

Todavia, como já disse anteriormente no texto O Valor da Coragem, o auto-conhecimento, a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo [3], requer coragem da nossa parte. Sei que a comunicação, o diálogo e a convivência são importantes, não lhes tiro o relevância, só que permanecermos brevemente em silencio a sós, contando apenas com a nossa companhia também deve ter seu lugar na nossa rotina, a fim de nos examinarmos e nos ligarmos com a sabedoria do silencio.

Então seguindo e parafraseando um pensamento de Khalil Gibran, aprendemos nessa sociedade barulhenta, comunicadora e faladora o silêncio; e, por mais estranho que pareça, sejamos gratos a essa professora.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=j83TAb1zKYM&w=560&h=315]

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[1] É valido mencionar que existem algumas versões que a peça não finda neste excerto.
[2] Aldous Huxley
[3] Carlos Drummond de Andrade

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OUTRAS MATÉRIAS A RESPEITO:

A Maioria das pessoas tem dificuldade de ficar a sós com seus pensamentos, diz estudo (Folha de São Paulo)

Até choque elétrico é melhor que não fazer nada (Época)

Estudo mostra que pessoas preferem se autopunir a ter que pensar

[author image=”http://oi59.tinypic.com/md2p28.jpg” ]Isabela Abes Casaca é graduanda em Direito e integrante do movimento Novo Ágora. Considera-se escritora amadora.[/author]

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