
Passada a quaresma, tempo de penitência, segundo a Igreja Católica, a alegria se foi. A morte do Papa Francisco, levou o mundo a repensar no acolhimento. Mas no Brasil, só se fala em corrupção, desvio de dinheiro público, roubo dos aposentados do INSS, banda podre e outras baixarias da vida privada de alguns casais. Compreensível, portanto, que acompanhar o noticiário pelos jornais ou pela televisão virou uma atividade diária bastante desagradável nas últimas semanas.
Agora, talvez até mais do que no tempo do Collorgate e da Lava Jato, é impossível acompanhar todas as denúncias. Elas não são apenas asquerosas, por conter detalhes sórdidos da intimidade dos envolvidos, mas também numerosas. Há escândalos e baixarias para todos os gostos. Têm os nacionais, em que dois senadores influentes se xingam em discursos na tribuna.
Ambos prometem documentos para detonar o outro. Há ainda os escândalos locais, como a roubalheira nasPrefeitura de municípios e os desvios do dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) em Brasília.Ficou difícil para um cidadão comum entender os meandros de cada escândalo, saber em que estágio de investigação estão, quem são os acusados e se as denúncias resultarão em alguma punição concreta. Nesse quadro, é mesmo natural a sensação de que a corrupção e os corruptos estão bem do seu lado e que a roubalheira do dinheiro público continua uma praga nacional. Quarenta anos depois da primeira eleição presidencial direta do período democrático, parece não ter havido mudança alguma na prática política brasileira. O fim do mundo, previsto para acontecer durante o último eclipse lunar ou na entrada do ano 2000, chegou bem mais tarde, depois do carnaval.
Se você pensou, caro leitor, que à essa altura do artigo eu o salvaria do desconforto com a maracutaia recente dizendo palavras doces de esperança e encorajamento, enganou-se. A lama atual que entra pelas nossas casas diariamente é real e preocupante. Significa que não aprendemos nada até agora e não mudamos o suficiente. As denúncias de corrupção das últimas semanas só têm despertado a desilusão das pessoas. E a desilusão leva a um componente mais perigoso — a apatia. Na época do Collorgate, ainda havia os jovens na rua, com sua juventude, alegria e caras pintadas, para purificar a corrupção. Desta vez, nem isso. Estamos todos cansados de lutar. Recolhemo-nos nas agruras do dia a dia pessoal, o que já não é pouco. Cada um tocando sua própria vida. Agora é pior.