Omar Aziz e o dia da sinceridade política – por Carlos Santiago

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado

É muito raro uma autoridade pública ser sincera nas palavras e até fazer mea-culpa. O ex-vice-prefeito de Manaus, ex-secretário de obras do município, ex-secretário de segurança pública, ex-vereador, ex-deputado estadual, ex-vice-governador, ex-governador e atual senador, Omar Aziz, foi verdadeiro, quando, no último dia 12, afirmou que “agora mesmo, na semana passada, na madrugada de domingo para segunda, vidas se perderam, é culpa do prefeito? É culpa de todos nós. E nós, governador, prefeito, secretários, vereadores, deputados, que muitas vezes incentivam essas pessoas a morar [em áreas de risco] por causa de um voto, dois votos, nós temos que acabar com isso”.


Nem o Ministério Público do Estado – MPE, escapou das críticas sinceras de Omar Aziz ao comentar que se “a gente, lá atrás, tivesse tomado às decisões que precisavam ser tomadas, e aí é importante o MP-AM agir, não dá para ele ficar pensando que não está acontecendo nada. O Ministério Público é responsável também por isso, porque tem leis para isso, chamar e fazer uma força-tarefa do governo, prefeitura, ministério público, a justiça estadual, para que se cumpra o Código de Postura da cidade”.

O senador poderia ter incluído no seu discurso histórico, outras áreas precárias de responsabilidades das administrações públicas no Amazonas, que foram contaminadas por omissões ou por conveniências negativas de gestores e que não foram alvos de ações do Ministério Público do Estado, mas ele não avançou. Uma pena! Ficou devendo.

No entanto, quem reside no Amazonas não precisa das palavras ou discursos de um político para perceber a falta de qualidade dos governantes, da precariedade dos serviços públicos e das omissões de instituições de Estado. É assim há muito tempo.

Entram e saem governantes ou grupos políticos, mas o modelo econômico do Estado é o mesmo há décadas. O Amazonas não foi capaz de criar novos modelos de desenvolvimento econômico, além da Zona Franca de Manaus. E o seu povo continua comendo até farinha importada de outros estados. Mas, os escândalos de corrupção são muitos e as operações da Polícia Federal – PF são constantes.

O transporte coletivo da capital é subsidiado pelo erário, mas continua muito precário. Não se tem perspectiva a curto prazo de um modelo de transporte coletivo decente. Então, com um meio de transporte de massa ineficiente, o trânsito piora e a mobilidade urbana é impactada negativamente.

A cidade não tem uma destinação correta do lixo recolhido. O lixão na AM/010 causa espanto e indica irresponsabilidade. Os igarapés estão poluídos e obras privadas continuam aterrando as suas margens.

Cresce a criminalidade no Amazonas. Áreas urbanas sofrem com ações das facções criminosas. Delegacias fecham nos finais de semana. As filas de exames e de cirurgias na rede pública são enormes.

O Poder Legislativo tem baixa qualidade e sempre se comporta como uma longa manus do Executivo estadual. Sua tradição é aplaudir as ações do governador. São poucas as iniciativas de melhorias para a coletividade, embora seja um poder que custa muito caro ao contribuinte.

Pois bem, o dia 12 de março precisa ser reconhecido como a data da sinceridade política e da mea-culpa. Pode-se mesmo dizer que todos os gestores políticos são co-autores das mazelas sociais e econômicas que afetaram e afetam Manaus e seus habitantes.

Sociólogo, Analista Político e Advogado.

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