
No Brasil, é assim. Acaba uma eleição e já começa outra. Não é de admirar, portanto, que a um ano e sete meses do pleito de outubro de 2026, candidatos à presidência da República comecem a perambular pelo país, abrindo o ciclo da pré-campanha. Vejamos.
Lula cumpre uma agenda intensa de visitas aos Estados, devendo diminuir seu périplo internacional. Neste mês de abril, fará viagens para o Rio de Janeiro, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo.
As visitas ocorrem em um cenário de baixa popularidade do presidente. A última pesquisa Quaest mostra que 56% da população desaprova o governo. Nunca um índice negativo de 50% foi registrado nos três mandatos do presidente. Hoje, perderia para Jair Bolsonaro, por 28,6% contra 33,3%.
Para reverter a queda nas pesquisas, Lula ordena que seus ministros saiam dos gabinetes para percorrer o país, anunciando ações do governo em todas as áreas. Os ministros passarão a tocar o trombone de Sidônio Palmeira, o ministro da Comunicação, que sugeriu ao presidente a formação de um grupo de porta-vozes, indicando para tanto os titulares das Pastas ministeriais. A ideia é uniformizar a linguagem governamental. É sabido, porém, que não será a comunicação a única ferramenta para melhorar a imagem de Lula. A publicidade do Palmeira, um marqueteiro de campanhas, não será suficiente conseguirá mudar a tendência de queda na avaliação do Governo.
Jair Bolsonaro está com agenda intensa nos Estados. Inelegível até 1930, corre o país como protagonista principal da oposição. Combina eventos nas capitais com incursões no interior, acompanhado de ex-ministros, deputados e senadores, sob a crença de que o apoio popular o ajude a reverter a punição que recebeu da Justiça. Se o STF, que o tornou réu, condená-lo à cadeia, por suposta tentativa de golpe de Estado -, decisão a ser tomada mais para os meados do segundo semestre -, é provável que se faça de vítima. Essa condição puxaria seu eleitorado para as ruas.
Lembrete: a campanha de Donald Trump esteve ameaçada por vezes ao longo de 2024, com a possibilidade de o então candidato ser preso. Ganhou a imagem de vítima. Venceu o pleito.
A meta de Bolsonaro, portanto, é acender a chama da polarização para continuar a ser o candidato ideal da oposição em 2026. Aliás, a polarização beneficiaria não só o capitão, mas outros protagonistas que já começam a se apresentar com identidade oposicionista, como Romeu Zema (Mg) e Ronaldo Caiado (Go).
Bolsonaro, não sendo candidato, abrirá campo para Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, hoje bem avaliado pela população. Tem demonstrado ser leal ao capitão, comparecendo às mobilizações organizadas pelo PL. Tarcísio teria uma reeleição tranquila em SP, mas começa a ouvir os apelos de amigos para enfrentar maiores riscos. Ao seu lado, conta com Gilberto Kassab, secretário da Casa Civil, considerado um hábil articulador político.
Pano de fundo. São Paulo tem o maior eleitorado do país: 36 milhões de votos. Seu eleitorado foi fiel ao PSDB por décadas, elegendo quadros progressistas (Franco Montoro, José Serra, Mário Covas e o recordista de mandatos governamentais, Geraldo Alckmin), defensores do ideário da social-democracia. Mas o tucanato, após o último governo Alckmin, bateu em retirada. Perdeu a hegemonia em São Paulo.
Nas eleições de 2024, o PSD, de Gilberto Kassab, o Republicanos, do governador Tarcísio de Freitas, e o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, assumiram o protagonismo no Estado. Portanto, se esses três partidos fecharem posição a favor de Tarcísio, a direita e a centro-direita teriam um representante de peso, capaz de vencer qualquer candidato petista, mesmo que seja Fernando Haddad, um dos melhores perfis do PT. Tal hipótese dependerá do desempenho de Haddad no comando da economia.
No campo da direita, Ronaldo Caiado (União Brasil-Go) abre sua agenda de viagens nacionais, com uma visita à Bahia. O governador, que já foi candidato à presidente em 1989, tem boa avaliação do eleitorado goiano (5,5 milhões), pode exibir o melhor desempenho, entre os governadores, na área da segurança pública –, problema número um do Brasil –, mas é pouco conhecido. Como político, sempre esteve ligado ao agronegócio. É fluido e com bom conhecimento das temáticas nacionais.
O governador Romeu Zema (Novo-Mg) tem alguns trunfos no baralho presidencial. Bem avaliado, é um defensor do ideário liberal, empresário bem-sucedido, e sem escândalos em sua ficha política. Ocupa boa posição nas pesquisas, chegando, hoje, a alcançar 16,1%, o 3º lugar em recente pesquisa do Instituto Paraná, após Bolsonaro (1º) e Lula (2º). A mineirice pode fechar com ele. Minas Gerais soma o segundo maior eleitorado do país, com cerca de 17 milhões de eleitores.
Na moldura dos pré-candidatos, aparecem, ainda, Michelle Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro. É pouco provável que o capitão endosse os nomes familiares, quando a alternativa para os dois é a esfera senatorial (a mulher como candidata ao senado pelo DF e o filho como candidato ao senado em SP). O nome do governador Ratinho Jr., do Paraná, também é lembrado. Sem condições de prosperar. Ciro Gomes, por sua vez, não será candidato, segundo suas próprias palavras.
A viabilidade desse elenco de protagonistas esbarra na seguinte questão: como estará o país nos meados de 2026? Pior ou melhor? A economia estará saudável ou Fernando Haddad não conseguirá alcançar as metas de dominar a inflação e cumprir o arcabouço fiscal? Pelo andar da carruagem, fica cada vez mais difícil sustentar o otimismo do ministro. O Banco Central revisa para baixo (de 2,1% para 1,9%) o crescimento do PIB em 2025, sinalizando um cenário pouco animador.
Em suma, o termômetro eleitoral será, como sempre foi, a economia (mesmo que o problema número 1 do país, de acordo com as pesquisas, seja insegurança pública).
Se Lula for candidato (há de se considerar o peso dos 80 anos em 2026), suas chances de vitória vão depender da equação, que descrevo sempre em minhas análises: BO+BA+CO+CA= Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça aprova o voto ao candidato que proporcionou o bem-estar do eleitor. A recíproca é verdadeira. Ou seja, se o eleitor não conseguir encher a geladeira, o bolsonarismo tem chances.
P.S. Na política, tudo é possível. E o Imponderável costuma nos visitar.
Gaudêncio Torquato é escritor, jornalista, professor titular da USP e consultor político