

— Como escondeste essa ideia de mim até sua realização, teus filhos terão pouco amor pelas coisas que amo. Eles amarão acima de tudo o que fizerem com as próprias mãos. Escavarão a terra, e não darão atenção ao que cresce e vive sobre ela. Muitas árvores sentirão o golpe de seu machado impiedoso. — Disse Yavanna a Aulë. (Trecho do capítulo De Aulë e Yavanna d’O Silmarillion)
Esse breve trecho da obra de J. R. R. Tolkien sintetizada a essência dos anões, hábeis artesões e mineradores, porém desconectados daquilo que cresce e frutifica. E esta característica lhes trouxe um grande problema.
— Do mesmo modo que o mithril foi a base de sua riqueza, também foi a sua destruição: escavaram com muita ganância, e muito fundo, e descobriram aquilo de que fugiam. — disse Gandalf. (Trecho do capítulo Uma Jornada do Escuro d’O Senhor dos Anéis, A Sociedade do Anel)

Por conta de sua ambição pelo minério, os anões despertaram em Mória (ou Khazad-dûm) um mal antigo, chamas e sombras, um Balrog e este trouxe-lhes o fim.
Assim, tal desventura dos anões pode servi-nos de alerta. Nosso modelo atual de extração mineral é extremamente nocivo, sendo possivelmente a atividade econômica com menos cuidados com questões humanas e problemas ambientais. Sua execução é insalubre, perigosa e mal remunerada, deixando um rastro de destruição, verdadeiras cicatrizes, prejudicando a qualidade da água, solo e ar.
Exemplificando pode-se elencar o icônico incidente com os mineiros chilenos, que ficaram presos por 69 dias a 700 metros de profundidade após um desabamento e tiveram o bom merecimento de saírem daquela situação vivos. Ou então a contemporânea e pesarosa situação da cidade Santo Amaro da Purificação, na Bahia, que apresenta a maior concentração de chumbo por habitante no planeta.
Confesso que essa última situação citada me comove particularmente, pois em janeiro de 2010 estive na Bahia e uma das cidades que conheci foi Santo Amaro, lá vivenciei um momento muito emocionante, realmente me causa tristeza a condição da supracitada cidade.
A mineração, uma das atividades econômicas líderes de poluição tóxica, precisa ser repensada, há alternativas para diminuir a demanda dos produtos desta atividade. É possível substituir petróleo por outra fonte de energia, o bambu pode substituir vigas de ferro na construção e muitas outras soluções viáveis.
O que não podemos é continuarmos cavando, tal qual os anões, ignorando as prováveis chamas e sombras de alguma catástrofe ambiental.
[author image=”http://oi59.tinypic.com/md2p28.jpg” ]Isabela Abes Casaca é graduanda em Direito e integrante do movimento Novo Ágora. Considera-se escritora amadora.[/author]