PA: Universitária sofre discriminação em sala de aula em Belém

Mais uma vez uma situação ocorrida em uma faculdade de Belém sintetiza preconceitos e discriminações que insistem em ocorrer além dos muros das instituições de ensino superior.


Yara Abreu, 22 anos, aluna do 6º semestre do curso de Direito da Faculdade da Amazônia (Famaz), denunciou à reportagem do DOL um possível caso de discriminação dentro de sala de aula. Para complementar a renda familiar, ela vende lanches na instituição. Na última terça-feira (19), ao ser chamada por uma aluna do curso de Ciências Contábeis, turno vespertino, ela foi interpelada por uma professora identificada como “Elizabete”. No momento do ocorrido, os alunos estavam no horário de intervalo e a professora não estava na sala.

Ela teria falado de forma ríspida ordenando que a estudante se retirasse da sala. “Enquanto eu estiver em sala não quero um vendedor aqui, isto é uma faculdade, não uma feira”, teria dito a educadora. Após isso, ela teria perguntado se Yara ao menos estudava na Famaz. Ao ouvir a resposta positiva, prosseguiu a discussão, falando que encaminharia o caso à coordenação.

“O que me espanta é uma faculdade aceitar uma ‘educadora’ com tal comportamento, o erro está na professora ou também na faculdade, por aceitar, sendo que é uma faculdade particular, onde pessoas pagam para serem tratados de tal forma”, finalizou.

Após a discussão, uma reunião foi realizada nesta quinta-feira (19) com a coordenação do curso de Administração. Segundo Yara, por meio de nota no Facebook, ela não foi chamada para participar da conversa.

Por meio de nota, a Faculdade Metropolitana da Amazônia (FAMAZ) afirma que “não houve a prática de preconceito ou discriminação noticiada, uma vez que, na realidade a aluna entrou em uma sala diversa de seu curso e de seu turno, em horário na qual a professora já se fazia presente e sem solicitar autorização, promoveu vendas enquanto a docente tentava ministrar sua aula”.

A Faculdade sustenta que a professora estava agindo no “exercício de sua autoridade docente”. Segundo a nota, “a professora, no resguardo do direito dos alunos de receberem a prestação dos serviços educacionais, no exercício de sua autoridade docente, determinou a imediata saída da aluna que estava infringindo as normas disciplinares da Faculdade”.

A FAMAZ ainda diz que o ambiente acadêmico da instituição “é estabelecido para possibilitar o desenvolvimento de atividades de ensino e repudia todo tipo de discriminação e preconceito, ao mesmo tempo que prima pela qualidade de ensino e excelência”.

A instituição informa ainda que o caso está sendo conduzido pelo Comitê de Ética da Instituição.

Casos persistem

Meses atrás, uma outra polêmica ocorreu na mesma faculdade. Uma festa para calouros, criada pela “Associação Atlética Sanguinária”, utilizou o termo “Dopasmina” que, por um lado, representa um trocadilho com a substância (Dopamina) que atua no controle do movimento, memória e também na sensação de prazer e recompensa. De outro, sugere o ato de “dopar as minas”, isto é, as mulheres. A referência causou polêmica por talvez apontar para um possível encorajamento de abuso sexual.

Já na Faculdade Paraense de Ensino (Fapen), duas estudantes de Comunicação Social da Faculdade Paraense de Ensino (Fapen) teriam sido vítimas de agressões verbais de um grupo de alunos do Curso de Direito.
O Boletim de Ocorrência foi feito, reuniões de coordenadores com alunos e protestos foram realizados dentro e fora da instituição, esclarecimentos foram pedidos e até uma representante da Assessoria Jurídica do Estado foi até o local semanas atrás para pedir informações sobre o caso. Até o momento, no entanto, nenhuma atitude foi tomada e nem ao menos um pedido de desculpas ou apoio psicológica ás alunas foi prestado pela instituição.

Estudante se posiciona

Após a divulgação da nota da FAMAZ, a estudante Yara Abreu se posicionou mais uma vez sobre o caso, por meio das redes sociais. Ela declara que, diferente do exposto pela Faculdade, a professora não estava em sala quando Yara entrou para vender os doces.

“Estava durante o intervalo, ao entrar na sala nem percebi o momento que ela adentrou”, escreveu a discente.

Além disso, Yara discorda com a posição da instituição de que não houve a prática do preconceito. “Foi discriminação, sim. Já pensou você ser expulsa de uma sala na frente de aproximadamente 50 alunos”, escreveu a estudante.

A discente de Direito comenta que não questiona o ensino da faculdade, mas o fato “de encobrirem atitudes como essas”. Ela comenta, na postagem que a mesma professora que do caso dos doces disse a uma aluna “que não adiantaria passar batom, pois ela era gorda, e mulher gorda é feia”.

Segundo Yara, a aluna que se sentiu humilhada chegou a fazer uma reclamação, mas a professora disse, em defesa, que a estudante estava “reclamando pois não iria passar na matéria”.

Por fim, a estudante afirma que vem sofrendo retaliações com relação à venda dos doces e que não foi convocada para reunião geral realizada nesta quinta-feira. Ela afirma que, na próxima segunda-feira (23), irá até a Defensoria Pública buscar auxílio para lidar com o caso.

(DOL)

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