Pai – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Mais uma vez o Dia dos Pais, e como sempre faço algum escrito para essa data tão importante embora todo dia seja o dia dos pais. Perdi meu pai, já se passaram 43 anos, e faço como pai e avô uma reflexão de todos estes anos de convivência, ensinamentos e aprendizado; e de esperança em construir um alicerce seguro que possa suportar para sempre, em qualquer época, os solavancos desta vida, para que sejam sólidos de educação, caráter, dignidade, honra, respeito ao próximo e religiosidade. Deste modo, quantas vezes gostaria de ser melhor para vocês e simplesmente não consigo. Por ignorância ou, quem sabe, por temor à incerteza, não questionamos nossos conceitos, ao contrário, tendemos a continuar acreditando no que cremos.


Com relação à questão dos papéis masculino e feminino, parece haver uma recusa das instituições – que nas suas ações manifestam o pensamento da sociedade – em perceber que a imagem de gênero, assim como a de muitas outras, é constituída sobre uma pequena seleção de fatos verdadeiros e falsos, que se expandem com grandeza desmesurada e formam uma estampa que não corresponde à humanidade da mulher e do homem. Explica-se, desta forma, o fato corriqueiro nas situações de separação e divórcio: na imensa maioria dos casos, é dada à mulher, por uma questão de gênero, a guarda dos filhos. Os homens, mesmo que aptos e desejosos de manterem os filhos consigo, também por uma questão do gênero, têm negado este direito que, em tese, lhes é assegurado. Mas sobre os filhos lembro quantas vezes permaneci acordado até tarde da noite à espera de febre baixar, ou do telefone tocar avisando que a festinha ou o show terminou.

Quantas vezes dilacero meu coração ao vê-los chorando por algo que não pude dar, mas aproveito para alertá-los de que na vida nem tudo que se quer se pode ter. Quantas vezes sofro com vocês, quando em alguma esquina da vida trombam de frente com uma decepção ou desilusão. Quantas vezes sou chato por orientá-los insistentemente sobre uma conduta saudável e responsável, ou tento avisá-los de situações de risco, como se pudesse evitar que aprendam doloridamente com os próprios erros. Quantas vezes fui e sou superprotetor, na ilusão de que poderei poupá-los de trafegarem por estradas mal sinalizadas, esburacadas, escorregadias e com curvas perigosas, na inocente pretensão de protegê-los da vida. Quantas vezes, nas dificuldades da vida, deparo-me com situações onde é preciso tomar decisões, e rejeito enveredar pelo caminho mais fácil e lucrativo que põe em prova a integridade de meu caráter, a minha dignidade e honestidade, para assim, reencontrar com vocês com a cabeça erguida, e deste modo olhar fundo nos seus olhos, sem a cortina da vergonha e da culpa a nos separar.

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Consultor.

Quantas vezes preciso ser firme e colocar limites nestas vidinhas, para ensiná-los que o mundo é infinitamente maior que nosso lar, e que vocês têm que aprender a viver em coletividade, respeitando o próximo e sabendo que não são seus todos os doces da bomboniere. Quantas vezes no ímpeto de protegê-los tomo para mim o leme desta embarcação e passo para vocês a imagem de herói, de que sou o maior, o único que pode mantê-los em segurança; perdendo a oportunidade de ensiná-los que somente em Deus encontraremos infalibilidade, segurança, proteção e forças para resistir. Somente n’Ele que é Pai dos pais, das mães, dos filhos e de toda a humanidade.

Quantas vezes poderia ter feito mais! Ter sido mais amigo, entusiasta, confidente, companheiro, cúmplice, disciplinador, participativo, compreensivo. Não importa a idade de nossos filhos, ainda é tempo de recomeçar, arregacemos as mangas e mãos-à-obra. Sinto-me orgulhoso meus filhos, por ser pai de vocês. E aos meus netos como sinto que também sou pai deles, curti desde o nascimento, até a idade de hoje de 10 anos, sendo um avô que não dispensa falar de sacanagens, mas que adora quando é beijado e abraçado, sentindo-me importante por ser pai do pai deles.

Fernando Pessoa, em O Eu Profundo e Outros Eus, mobiliza nossos sentimentos de compaixão por todos os filhos sem pai e especialmente pelo pequeno Jesus, quando diz: “Nem sequer o deixaram ter pai e mãe como as outras crianças; seu pai era duas pessoas: um velho chamado José, que era carpinteiro e não era pai dele; o outro era uma pomba estúpida, a única pomba feia do mundo porque não era do mundo, nem era pomba…” Para aqueles que perderam seus pais também ou recentemente ou não,, mas que nunca são esquecidos desejo a todos um FELIZ DIA DOS PAIS.

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