Peças criadas por artesãs indígenas da Amazônia brilham em Nova York e Milão

Ao centro, o estilista Maurício Duarte - Foto: Steve Gursey

Peças feitas a partir da fibra de tucum pelas mãos de artesãs indígenas do Amazonas ganharam as passarelas durante as semanas de moda em Nova York, nos Estados Unidos, e em Milão, na Itália, duas das mais importantes vitrines fashion do mundo. Confeccionadas por artesãs do projeto “Parentas que Fazem”, as criações fazem parte da coleção ‘Muiraquitã’, do estilista manauara Maurício Duarte, do povo Kaixana, um dos nomes brasileiros mais promissores no mundo da moda atualmente.


As peças foram confeccionadas por artesãs da Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro – Numiã Kura (AMARN), Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (AMISM), Associação de Mulheres Indígenas da Região do Alto Rio Negro (AMIARN) e Associação dos Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoeira (ASSAI).

Integradas a outros elementos naturais da Amazônia – como a fibra do buriti, escamas de pirarucu e sementes de açaí – as fibras de tucum, tiradas de uma palmeira amazônica, compuseram as peças autorais do estilista, unindo sofisticação e valorização da cultura dos povos indígenas.

Foto: Júlio Pontes

Em Nova York, Maurício estreou sua nova coleção em um desfile no último dia 11 de setembro, em seguida partiu para Milão, para um showroom de marcas. Uma faixa de arumã usada pelo estilista, outra fibra natural confeccionada a partir do artesanato indígena, chamou a atenção da modelo Naomi Campbell, que posou para fotos usando a peça.

“Fico muito feliz de poder vir para cá trazer a nossa arte, a história que a gente acredita. Falar sobre moda autoral, sobre Brasil, sobre o Amazonas e o pertencimento. Quero agradecer às associações de mulheres indígenas que produziram com a gente por meio do projeto Parentas que Fazem. É sempre muito prazeroso reunir o que a gente constrói no têxtil com as fibras naturais”, agradeceu Maurício em suas redes sociais, ao falar sobre a estreia de sua coleção em Nova York.

As associações que criaram algumas peças do desfile de Maurício Duarte compõem o projeto Parentas que Fazem, que é implementado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com apoio do Google.org, instituição filantrópica do Google, e em parceria com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Makira-E’ta – Rede de Mulheres Indígenas do Amazonas.

Foto: Júlio Pontes

Maurício também participou de ações do projeto Parentas que Fazem a convite da FAS. O estilista atuou numa oficina de teçume de arumã na aldeia Yabi, do povo Baré, em São Gabriel da Cachoeira (distante 852 quilômetros de Manaus), onde trocou técnicas e saberes com as artesãs. Ele também visitou a sede da AMARN, em Manaus, onde encomendou as peças e aprendeu mais sobre o processo de grafismo e tecelagem com a fibra de tucum.

“Partilhar as nossas simbologias, saberes ancestrais, produção colaborativa com propósito para o mundo, já precisa nascer com proteção e com a certeza de vida próspera para todos que acreditam nessa ideia”, escreveu Maurício sobre a coleção Muiraquitã, que leva o nome de um amuleto de proteção indígena, simbolizando a valorização das culturas e saberes ancestrais dos povos originários.

A coordenadora da Agenda Indígena da FAS, Rosa dos Anjos, do povo Mura, conta que a parceria do projeto Parentas que Fazem, com o estilista Maurício Duarte, é extremamente importante porque está proporcionando uma grande troca de saberes e valorização das artesãs indígenas. “O Maurício (Duarte) é muito talentoso, um fenômeno que vem voando e ainda vai voar muito alto. Estamos muito felizes por ele ter esse olhar especial e ainda escolher algumas peças das nossas ‘parentas’ para inserir em seu desfile”, comenta.

Foto: Júlio Pontes

Sobre a FAS

A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sua missão é contribuir para a conservação do bioma, para a melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia e valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade. Com 16 anos de atuação, a instituição tem números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 39% no desmatamento em áreas atendidas.

Sobre a Coiab

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) é uma organização indígena com 35 anos de atuação na defesa dos direitos indígenas à terra, saúde, educação, cultura e sustentabilidade, considerando a diversidades de povos, e visando sua autonomia por meio de articulação política e fortalecimento das organizações indígenas. É a maior organização indígena regional do Brasil em número de povos incluídos e área de abrangência. Atua em nove estados da Amazônia Brasileira (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e está articulada com uma rede composta por associações locais, federações regionais, organizações de mulheres, professores, estudantes indígenas, e subdividida em 64 regiões de base.

Sobre a Makira E’ta

A Makira E’ta – Rede de Mulheres Indígena do Estado do Amazonas é uma Organização da Sociedade Civil (OSC) independente, privada, de interesse público, sem vínculos político-partidários, com fins não econômicos, fundada no dia 29 de julho de 2017. Tem como missão a promoção e o desenvolvimento social, político e econômico, com prioridade à mulher indígena. A Makira E’ta acredita em uma sociedade com igualdade de oportunidades a todas as pessoas e neste o protagonismo da mulher indígena, principalmente nas comunidades que não são alcançadas pelas políticas públicas estaduais e municipais.

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