O tratamento de cegueira ganhou um novo aliado da ciência! Um grupo de pesquisadores suecos desenvolveu córneas feitas com colágeno de tecido de porco e os resultados dos testes foram surpreendentes!
14 cegos
Em dois anos, o experimento, conduzido pela Universidade de Linköping, foi feito em 20 pessoas com problemas no tecido (14 delas cegas). Do grupo, todos apresentaram melhora, inclusive à recuperação da visão.
Embora sejam necessários ensaios clínicos mais complexos para validar a medida, o primeiro teste com a córnea feita de pele de porco mostrou que a novidade é segura e eficaz.
Como é feito
Para que a córnea ficasse o mais natural e tivesse uma resposta positiva do corpo, os pesquisadores sintetizaram colágeno, a principal proteína da córnea humana, como matéria-prima.
“Para um suprimento abundante, mas sustentável e econômico de colágeno, usamos colágeno de grau médico da pele suína, um subproduto purificado da indústria de alimentos que já é usado em dispositivos médicos aprovados pela FDA (agência reguladora dos Estados Unidos) para cirurgia, como curativo para feridas”, explicam os cientistas no artigo.
Outra vantagem é que, diferentemente das córneas doadas, que devem ser utilizadas em menos de duas semanas, as membranas obtidas por esse sistema podem ser armazenadas por dois anos, o que também facilita a operação de armazenamento e implantação.
Os pesquisadores ainda usaram uma técnica de implante muito menos invasiva do que a usual, que requer suturas cirúrgicas e só pode ser feita em grandes hospitais.
“Um método menos invasivo pode ser usado em mais hospitais, ajudando assim mais pessoas. Com nosso método, o cirurgião não precisa remover o tecido do próprio paciente”, explica Neil Lagali, professor do Departamento de Ciências Biomédicas e Clínicas da Universidade de Linköping, e um dos autores do experimento, em comunicado.
“Em vez disso, é feita uma pequena incisão, por meio da qual o implante é inserido na córnea existente”, conclui.
Melhora da visão
Os pacientes que passaram pelo procedimento foram acompanhados durante dois anos. Os resultados, apontam os pesquisadores, são semelhantes aos de um transplante de córnea humana.
O estudo também conseguiu observar uma melhora na acuidade visual: o tecido cicatrizou rapidamente e, segundo os autores, foram necessárias apenas oito semanas de colírios imunossupressores para evitar a rejeição do implante.
Dos 14 participantes que estavam totalmente cegos antes do experimento, todos recuperaram parcial ou totalmente a visão após o transplante.
A segurança e a eficácia estão “no centro do trabalho”, diz no comunicado Mehrdad Rafat, CEO da LinkoCare Life Sciences AB, empresa que fabrica as córneas de bioengenharia usadas no test.
“Fizemos esforços significativos para garantir que nossa invenção está amplamente disponível e acessível para todos e não apenas para os ricos. É por isso que esta tecnologia pode ser usada em todas as partes do mundo”, defende Mehrdad.
Dificuldade de encontrar córneas para transplante
Encontrar uma alternativa é fundamental, apontam os autores, para combater o ceratocone, doença que é a causa da maioria dos casos que necessitam de transplante.
Especialistas estimam que há 12,7 milhões de pessoas no mundo esperando por uma córnea, e essas membranas são escassas: há uma disponível para cada 70 necessárias.
O estudo em questão foi feito pensando sobretudo em países onde a doação de córneas humanas é mais escassa devido à infraestrutura limitada. Há impedimentos, muitas vezes, para o procedimento, coleta e armazenamento em bancos de tecidos.
A cegueira da córnea também tem um aspecto socioeconômico: a incidência é de um milhão de novos casos por ano, mas se concentra, sobretudo, em países de baixa e média renda da Ásia, África e Oriente Médio, explicam os pesquisadores responsáveis pelo estudo.
São lugares onde é também mais difícil obter uma córnea humana doada, devido às infinitas “barreiras econômicas, culturais, tecnológicas, políticas e éticas”.
Comercialização
Apesar de muito promissoras, as córneas de tecido de porco ainda precisarão passar por mais testes antes de serem comercializadas.
“Os resultados mostram que é possível desenvolver um biomaterial que atenda a todos os critérios para ser usado como implante humano, que possa ser produzido em massa e armazenado por até dois anos, e assim atingir mais pessoas com problemas de visão. Isso nos ajuda a superar o problema da escassez de tecido da córnea doado e acesso a outros tratamentos para doenças oculares”, especificou Neil.
Com informações de Correio Braziliense