PIM: Drama da absorção de mão-de-obra técnica local – por Osíris Silva

Escritor e economista Osíris Silva - Foto: Divulgação

Discutindo a questão da absorção de engenheiros e outros profissionais pelo PIM durante reunião da Câmara da Indústria, no CIEAM, levantei a questão do aproveitamento da mão de obra técnica formada pela Universidade e ICTs. Esboça-se, penso eu, grave contradição do discurso oficial, da própria universidade e das entidades de classe acerca da necessidade de mais investimentos na formação de mão de obra de alta qualificação com vistas ao suprimento da demanda de nosso parque fabril. A Universidade, em tese, produz esses profissionais, que, entretanto, não conseguem emprego, ou quando são chamados para uma entrevista esbarram na exigência de pelo menos três anos de experiência. Ora, como o jovem que saiu da Universidade, e se encontra em processo de formação complementar por meio de estágios pode atender a esse pré-requisito?


De acordo com análise do economista Gustavo Igrejas, secretário-executivo de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti), “nem o governo do Estado nem a Suframa têm dados concretos tabulados por não haver obrigatoriedade das empresas em informar a respeito aos órgãos gestores da política de incentivos”. De todo modo, acrescenta, “a maioria dos bons engenheiros tanto mecânicos quanto elétricos saem da faculdade já empregados”. Na Fundação Matias Machline, especializada em ensino técnico de nível médio nas áreas de robótica, mecânica e eletrônica, citou como exemplo, “90% dos alunos da Fundação, muito bem formados, já saem empregados”.

Ocorre, segundo Igrejas, que grande parte dos técnicos formados pelas universidades não têm plena noção de suas áreas. Portanto, “engenheiros eletrônicos egressos da faculdade sem conhecer os fundamentos de uma placa de circuito impresso multicamadas, cinco camadas, o que é um sistema SMD, um flyback, um radial, um canhões de elétrons, estes, de fato, estão fora do mercado. Entretanto, ao que afirma “os que concluem o curso com nível razoável de qualificação têm praticamente seus empregos garantidos. Alguns, não conseguem, exatamente por falta de qualificação”. Uma questão bastante controversa, admite, a ser avaliada pela universidade de forma consistente e ajustada ao chão de fábrica.

Segundo o professor aposentado de engenharia da UFAM, Vladimir Paixão e Silva, “uma boa política seria a de que as empresas contratantes investissem também na formação dessa mão de obra, como ocorria nos velhos tempos da Petrobras e Eletrobras”. Além disso, “as universidades deveriam fazer uma pesquisa de mercado para saber qual o tipo de profissional que está sendo demandado e ter flexibilidade para adequar sua grade curricular, de formas a atender a essas necessidades. É uma utopia pensar que só a Universidade pode resolver essa questão”, afirmou.

Para o engenheiro Roberto Garcia, “nossa garotada deveria ser formada pela academia, desde o início, em empreendedorismo e só entrar na faculdade com um diploma de técnico em alguma área com a qual demonstra afinidade e atratividade de mercado. A partir de uma boa base técnica, o passo seguinte seria aprofundar estes conhecimentos e buscar ofertas de estágio buscando implementar e vivenciar estes ensinamentos na realidade empresarial. Uma solução ganha-ganha, empresas e novos talentos sendo preparados para o mercado. Infelizmente nossos formandos saem da faculdade sem estas competências”.

De acordo com o presidente do Centro das Indústrias do Amazonas (Cieam), Lúcio Flávio Oliveira, a entidade está profundamente envolvida com a questão. Tanto que vem firmando parcerias efetivamente comprometidas com a aproximação e integração da academia à indústria visando a alocação da mão de obra técnica produzida em Manaus. Nesse sentido, promoveu reunião conjunta no Auditório da Suframa quando foram apresentadas as necessidades de engenheiros e técnicos qualificados do PIM e discutidas não só a formação, mas, e sobretudo, a qualificação desses profissionais”.

A questão está aberta.

Manaus, 19 de maio de 2025.

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