Planeta dos Ricos – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

O texto a seguir NÃO é politicamente correto. Nele fala-se em dinheiro, em montanhas de dinheiro; em gente rica, muito rica; em fortunas difíceis de calcular; em riquezas capazes de provocar delírios. Tem mais: o articulista não esconde suas mais profundas simpatias pelo mundo dos magnatas e resolveu assumir o axioma do escritor inglês William Davis: “O mundo ficaria muito mais pobre se não existissem os ricos”. Feita esta indispensável advertência, vale a pena enfrentar logo o grande rebu: afinal, o que é um rico? Como ele se comporta? Como reconhecer um rico?


Sabemos, com certeza, apenas uma coisa: ele é diferente – de mim e de você. Mas isso nem sempre basta para defini-lo. A maioria das pessoas, por exemplo, considera rico alguém que possui um pouco de dinheiro a mais do que elas têm. Por exemplo, minha COLF (colaboradora familiar, pois não fica bem, no terceiro milênio, falar em empregada), está convencida de que eu sou um sujeito muito rico.

Assim como o executivo que, entre salário, 13º e bônus vários chega a ganhar 200 mil dólares a cada ano, vê no presidente da empresa para a qual trabalha o Tio Patinhas em carne e osso. Para confundir ainda mais as ideias sobre a maneira de identificar um verdadeiro rico, eis a receita que o bilionário americano Paul Getty (1892-1976, petróleo e finanças) deixou para a posteridade: “Ninguém é rico de verdade se consegue contar o dinheiro que tem”. Duas histórias do primeiro milhão. Me aconteceu ser testemunha de duas histórias de quem chegou ao primeiro milhão de dólares. Que indicam quão grande seja a diferença de comportamento entre um neomilionário brasileiro.   A primeira cena tem São Paulo como pano de fundo. Uma amiga, Deborah, foi me buscar no Hotel Caeser Business, que agora tem outra bandeira, e com um sorriso aberto anunciou: “Fomos convidados para uma festa muito especial que os Machados organizaram para o filho Thomas Junior, você não pode perder.

O entusiasmo de minha amiga me deixou perplexo. Certamente não consegui esconder o desencanto que tomou conta de mim. Deborah logo cortou minhas dúvidas: “Não é nada do que você está pensando. Thomas Machado Jr. tem 24 anos, é dono de uma pequena indústria de eletrônica nos Estados Unidos, e a festa que os pais estão oferecendo em seu apartamento dos Jardins é para que todos saibam que o menino ganhou seu primeiro milhão de dólares sem a ajuda da família, tendo começado do nada, mas que não mora no Brasil. Agora, após ter pago os impostos, o rapaz quer dizer como é bom ser dono de uma bolada de verdinhas. É uma festa, você vai gostar”. A “million party” de Machado Jr. foi algo extraordinário, com duas orquestras, buffet sardanapalesco e bar capaz de embebedar meia São Paulo. O neomilionário, seus amigos e fotógrafos vibravam de satisfação diante do altar do sucesso, como personagens de Tom Wolfe em Fogueira das Vaidades.

Lembrei desta festa anos depois, no Rio, quando um amigo com 30 e poucos anos, que chamarei de Dudu para não trair seu desejo de privacidade, ganhou seu primeiro milhão de dólares construindo prédios, hotéis e pousadas em Búzios. Também Dudu tinha começado do zero. Era um rapaz brilhante e namoradeiro – o queridinho da turma. E desta turma o neomilionário carioca escolheu dez amigos, convidando-nos numa anônima pizzaria do Flamengo. Apareceu com camiseta Hering, bermudas e chinelos para dizer que a partir de agora sua vida mudaria. Trocaria o carro do ano por um fusquinha e deixaria o Leblon por um bairro mais modesto. Pediu para que ninguém falasse de seu sucesso nos negócios. Explicou, com melancólica frieza: “O Imposto de Renda vai cair em cima, a mulherada vai querer se dar bem, os pilantras vão começar a pedir, assaltantes e sequestradores vão ficar interessados. Em suma: o inferno”. As pizzas esfriaram nos pratos, ninguém comeu, e voltamos para casa atormentados pelo futuro de Dudu, nosso preocupado amigo milionário. Existem as listas das dez mulheres mais bonitas, dos dez homens mais musculosos. Mas as listas dos mais ricos do mundo que são publicadas entre os meses de abril e outubro por três prestigiosas revistas (Sunday Times da Inglaterra, Forbes e Fortune dos Estados Unidos) revelam algo surpreendente: aqui não se trata de dez nomes. Os ricos (muito ricos: entram só os que possuem pelo menos um bilhão de dólares, ou seja, mil milhões de dólares) são mais de 500 no mundo inteiro.

Os bilionários não têm nenhuma possibilidade de ficar escondidos no quintal de uma casa de periferia. Os pesquisadores – analistas de primeira – sabem como juntar as informações. Tudo isso é para dizer, que os ganhadores da mega sena milionária, de cento e vinte e dois milhões, conforme reportagem do Fantástico, se escondem como o Dudu, codinome que dei ao amigo carioca, porque no Brasil, a violência é tão grande que dizer que tem pelo menos cem mil reais, é motivo de sequestro e de perigo de ser morto.

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