
O Brasil sofre de um mal crônico que corrói sorrateiramente a economia do país. Questões básicas que deveriam ter sido solucionadas há décadas, hoje permanecem resolutas, obstinadas, insistentemente resistentes a mudanças. Há montanhas de livros e teses de doutorados, estudos técnicos de diversas procedências, como USP, Fundação Getulio Vargas, Insper, Embrapa, Sudam, universidades e centros de pesquisa regionais dentre tantas outras instituições, todos mergulhados – e enredados – numa teia de aranha que talvez nem Teseu pudesse pôr abaixo. O herói grego que, para matar o Minotauro (uma criatura da mitologia grega conhecida como parte ser humano, parte touro, possuindo grande ferocidade e que se alimentava de seres humanos) entrou no labirinto com uma corda amarrada na saída desse túnel (o fio de Ariadne) para evitar que se perdesse no interior da estrutura e, em segurança, vir a eliminar a criatura, como assim de fato o fez.
Em relação à Amazônia, falta ao Brasil, essencialmente, competência para saber amarrar essa corda. As discussões sobre soluções alternativas permanecem praticamente as mesmas, recorrentes, como que girando em círculos distanciados do âmago da realidade conjuntural. Ou, por múltiplas razões (egoísmo, arrogância, incompetência ou imodéstia por parte de pesquisadores e técnicos de governos), vítima deles. Nesse meio tempo, evaporam-se no tempo e no espaço estudos avançados, diagnósticos e medidas efetivas debruçadas sobre questões essenciais ao impulsionamento do desenvolvimento regional, centrados em estudos seminais da estrutura geopolítica e econômica da região que apontam, há décadas, os meios necessários e suficientes para a consecução desses objetivos.
Por igual, perdem-se de vista inúmeros planos de desenvolvimento regional ou estaduais voltados a questões transcendentais centradas no desafio de como conduzir a Amazônia ao proscênio da economia nacional a partir da exploração sustentável da vastidão dos recursos da biodiversidade (terra, florestas nativas, minérios, bioeconômicos abundantes e do turismo ecológico capaz de atrair capitais estrangeiros de diversas origens). Chame-se os americanos ou os chineses que logo a região se tornará um hub bioeconômico de extraordinárias proporções, desmoralizando a tese de certos xiitas ambientais que ainda se agarram à teses conservacionistas voltadas a tornar a Amazônia um Éden na terra.
A questão fundamental, penso eu, estriba-se no distanciamento governamental, na abjunção de Brasília aos desafios que se sobrepõem à exploração sustentável da região. Acresça-se a estes, crônica insuficiência de recursos, salientando-se a frustração para a região do apoio do Fundo Amazônia, que, desde a sua criação, já recebeu mais de R$4,1 bilhões em doações (dentre os quais R$ 643 milhões em 2024, mas apenas 11% repassados para projetos submetidos ao Fundo). Além do mais, há que se destacar a realidade irretorquível segundo a qual quem efetivamente entende a Amazônia são os amazônidas que aqui estudaram, aprofundaram conhecimentos por meio de pesquisas autóctones e se comprometeram com nosso desenvolvimento.
Não, exatamente, determinados voyeurs que por aqui passam, são entrevistados com destaque pela mídia local e deitam falação sobre a fantasiosa “desertificação da Amazônia”, o que previam há mais de meio século e que jamais se confirmou ou se confirmará. O certo é que não mais funcionam afirmativas recorrentes, muitas vezes hipócritas e inconsequentes, sobretudo distanciadas da conjuntura social, cultural, política e econômica da região em relação ao conservacionismo descomprometido de contrapartidas de recursos demandados para o desenvolvimento sustentável. Sendo a exploração dos recursos da biodiversidade, o estímulo à bioeconomia, do interesse de toda a humanidade, nada mais justo que as nações, sobretudo as desenvolvidas, participem diretamente desse esforço. Condição essencial para consolidar um “overview effect”, uma visão geral sobre a região de uma nova perspectiva, necessária à promoção de mudança cognitiva e emocional da humanidade e dos organismos multilaterais acerca da conjuntura amazônica e das soluções subjacentes aos seus conflitos. Afinal, desenvolver a Amazônia é a chave para sua preservação ambiental, social e econômica.
Manaus, 7 de julho de 2025