
Com um investimento de R$ 5 milhões, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) vai beneficiar cerca de três mil indígenas Yanomamis com a implementação de 30 microssistemas comunitários com pontos de uso coletivo, um dos modelos de tecnologia social de acesso à água do Programa Cisternas.
Além de garantir o acesso à água tratada, em meio a rios por vezes contaminados, a tecnologia também garante o abastecimento na época da seca e reduz os riscos de doenças. “É muito importante para nós termos estes sistemas de água para melhorar a nossa saúde. Antes, nós sofríamos quando bebíamos água contaminada”, recordou Lívio Yanomami, liderança do xapono (aldeia) de Lajinha, no Rio Preto, uma das primeiras comunidades beneficiadas.
Há mais de uma década, um diagnóstico situacional já apontava a dificuldade extrema das comunidades Yanomami em obter água segura. “As cisternas vão ajudar muito a nossa saúde, principalmente a das crianças e dos idosos, que sofriam com diarreias e vermes. Por isso, estou muito feliz com essa instalação na nossa comunidade”, comemorou o líder indígena.
Muitas aldeias dependem diretamente dos rios, ficando vulneráveis a surtos de contaminação, especialmente durante cheias ou estiagens. Além disso, a presença de mercúrio na água, representa um risco grave à saúde.
Para enfrentar esses desafios, a parceria entre o MDS e a Assessoria dos Povos da Floresta (Aflora), organização com mais de 30 anos de atuação em educação junto aos Yanomami, viabiliza a implantação das cisternas adaptadas, os microssistemas comunitários com pontos de uso coletivo.
A tecnologia dos microssistemas envolve a captação da água do rio, tratamento por meio de um filtro lento de areia – de fácil gestão e manutenção – e a distribuição por meio de chafariz instalado nas aldeias.
A meta do projeto é universalizar o acesso à água tratada nos Rios Preto, Marauiá, Cauaburis e Demeni, localizados no Território Indígena Yanomami do Amazonas, nas cidades de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.
O supervisor técnico Jovino Neto destacou que o sistema é simples. “Esses filtros são importantes porque nesse sistema não se utiliza cloro. É um sistema simples: o bombeamento funciona com energia solar. São utilizados quatro painéis solares de 380 W que alimentam a bomba de meio cavalo instalada no rio.”
A logística também é um obstáculo. Algumas aldeias são inacessíveis por voadeiras (embarcações leves e rápidas), exigindo parcerias com o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para viabilizar a chegada de equipamentos e técnicos.
Já foram implementados 11 sistemas e quatro estão sendo finalizados, conforme plano de trabalho, antes da estiagem. A meta é entregar um total de 30 microssistemas no território Yanomami até o fim de 2026. Serão 14 na região de Santa Isabel do Rio Negro e outros 16 na região de Barcelos.
A coordenadora do Programa de Educação em Saúde da Aflora, Stanny Saraiva, destacou a importância do diálogo com as lideranças Yanomami. “Esse processo é guiado por um protocolo de consulta, garantindo que as decisões sejam tomadas em conjunto. Cada sistema é mais do que uma estrutura física – é um compromisso com a dignidade e a saúde desses povos”.
Um grande diferencial do projeto é a forma como ele é conduzido no território. Durante toda a construção do sistema, há uma capacitação continuada para os beneficiários, os próprios indígenas. Para Stanny Saraiva, o projeto é mais do que a entrega de uma estrutura física. “Representa um compromisso mesmo com a dignidade, com a saúde e com o direito dos povos indígenas. Foi uma luta de muito tempo”.
As assessoras de campo da Aflora passam por uma formação cuidadosa e de sensibilização para que, junto com o supervisor técnico e toda a equipe de construção, possam acompanhar cada etapa da obra. Isso garante a interação, o respeito à cultura, à língua e ao modo de vida dos Yanomami, fortalecendo a autonomia e o processo de gestão.
“Cada sistema de água é a semente do futuro. Temos plantado junto com as comunidades essa semente e seguimos com o coração aberto e o compromisso firme nesse caminhar ao lado do povo Yanomami, aprendendo e construindo juntos um caminho de cuidado, de respeito, de saúde”, finalizou a coordenadora.